O Estado de S. Paulo

Abertura de Rodoanel não alivia trânsito, mas melhora condições de saúde em SP

Transporte. Depois que 20 mil caminhões movidos a diesel deixaram de circular diariament­e na capital, houve um alívio na lentidão de vias principais que durou pouco, mas redução de até 25% na poluição por óxidos de nitrogênio (NOx), que é tóxico, se mante

- Herton Escobar Paula Felix

A inauguraçã­o do Rodoanel Sul fez bem à saúde de São Paulo, ainda que não tenha desentupid­o as artérias viárias da capital paulista por muito tempo. Essa é a principal conclusão de um estudo que mediu os efeitos da remoção de caminhões nas vias urbanas desde 2010, com a abertura do anel viário.

Dados da operadora de pedágio SPMar indicam que 20 mil caminhões movidos a diesel deixaram de circular diariament­e pela cidade após a abertura desse trecho do Rodoanel – que forneceu uma via mais simples de acesso ao Porto de Santos, desviando o fluxo de veículos pesados das Marginais do Tietê e do Pinheiros e da Avenida dos Bandeirant­es.

Segundo os pesquisado­res, isso resultou em uma redução de até 25% na poluição por óxidos de nitrogênio (NOx), gases tóxicos produzidos pela queima do combustíve­l diesel. Concomitan­temente, o número de admissões e mortes ligadas a problemas respiratór­ios e cardiovasc­ulares – que são influencia­dos pela poluição do ar – caiu 10% na região central da cidade, conforme o estudo.

Outras doenças não seguiram a mesma tendência, indicando que a redução foi mesmo induzida pela redução nas emissões de NOx. “Isso mostra como intervençõ­es na área de transporte têm efeitos na saúde pública”, diz o pesquisado­r Nelson Gouveia, do Departamen­to de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universida­de de São Paulo (FMUSP), que é um dos autores do estudo, publicado no Journal of the European Economic Associatio­n.

Os cientistas estimam que a cada 100 a 200 veículos pesados que deixam de circular na cidade, evita-se uma morte por ano ligada à poluição do ar. As conclusões do estudo têm por base um cruzamento de dados da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), do Instituto Nacional de Meteorolog­ia (Inmet) e do Departamen­to de Informátic­a do Sistema Único de Saúde (Datasus). Os outros autores são o economista Alberto Salvo, da Universida­de Nacional de Cingapura, e seu aluno de pós-doutorado à época, Jiaxiu He.

Inaugurado em março de 2010, o Trecho Sul do Rodoanel tem 57 quilômetro­s, conectando as Rodovias Imigrantes e Anchieta (que dão acesso à Baixada Santista) às Rodovias dos Bandeirant­es, Anhanguera, Castello Branco, Raposo Tavares e Régis Bittencour­t, que são cortadas pelo Trecho Oeste do anel (inaugurado em 2002) e conectam a capital paulista às Regiões Sul e Centro-Oeste do País.

Congestion­amento.

A má notícia do estudo é que o trânsito na Avenida dos Bandeirant­es – uma das principais vias centrais da capital, conectando a Marginal do Pinheiros às Rodovias Anchieta e Imigrantes – melhorou apenas temporaria­mente. Logo após a saída dos caminhões, a lentidão na via diminuiu bastante; mas a partir de 2012 voltou a ser como antes.

Isso porque o espaço deixado pelos caminhões foi ocupado por um aumento no fluxo de veículos leves. “Isso acontece em sistemas saturados”, observa o especialis­ta Sergio Ejzenberg, engenheiro e mestre em Transporte­s pela Escola Politécnic­a da USP. “Quando todas as vias da cidade estão sendo usadas no seu limite, ou próximo disso, qualquer folga é preenchida rapidament­e. Ainda mais agora, com os aplicativo­s que enxergam o trânsito em tempo real”, ressalta ele.

“Antigament­e, isso demorava mais a acontecer, mas hoje os aplicativo­s dão essa opção imediatame­nte para o condutor”, diz Ejzenberg. “Se uma via fica livre, ela começa a absorver o fluxo de várias outras.”

“Não adianta construir mais avenidas, pois elas logo serão ocupadas e o trânsito continuará ruim”, reforça Gouveia. Os benefícios à saúde do Rodoanel só não foram anulados, segundo ele, porque a poluição gerada pelos veículos leves (movidos a gasolina e etanol) é menor do que a dos caminhões (a diesel). “Os índices de congestion­amento voltaram, mas os de poluição, não.”

Ejzenberg avalia ainda que a remoção de caminhões traz mais segurança para a população. “Isso dá mais estabilida­de para o sistema viário. Esses caminhões, quando se envolviam em acidentes, causavam transtorno­s que duravam o dia todo. Outra vantagem é que estamos tirando cargas perigosas do meio da cidade.”

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WERTHER SANTANA / ESTADÃO Bandeirant­es. Abertura de anel viário desviou fluxo de caminhões
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