O Estado de S. Paulo

Governo esperava calote, mas não incluiu no Orçamento

- Adriana Fernandes

Já era uma “bola cantada” a necessidad­e de previsão orçamentár­ia para o governo brasileiro honrar dívidas não pagas pela Venezuela e Moçambique. Por isso, soa estranho a urgência imposta pelo presidente Michel Temer ao Congresso. Por que não veio antes?

Mais estranho ainda é o anúncio da medida ter partido da Secretaria de Governo, comandada por Carlos Marun, e não de um representa­nte do Ministério da Fazenda, a quem caberia fornecer todas as informaçõe­s para evitar ruídos nesse tema tão sensível como a falta de dinheiro para honrar garantias que foram dadas pelo governo.

Diante do gravíssimo risco apontado por Temer, Marun e Jucá, o governo já deveria ter se mexido muito antes e incluído a previsão no Orçamento.

Depois que o embaixador do Brasil na Venezuela, Ruy Pereira, foi declarado “persona non grata” pela Assembleia Nacional Constituin­te, no final do ano passado, acendeu-se a luz vermelha de alerta quanto ao risco de novos calotes.

Mas ao longo dos últimos meses, o governo, ao invés de agir para se prevenir, preferiu enfatizar que as operações tinham garantia do Fundo de Garantia à Exportação (FGE), que tem um superávit de R$ 4,19 bilhões (US$ 1,3 bilhão).

O assunto tem forte ingredient­e político e vem servindo de munição aos críticos das gestões do PT, que priorizara­m este tipo de investimen­to, que acabou caindo na conta dos contribuin­tes. Em ano de eleições, é prato cheio.

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