O Estado de S. Paulo

Caixa vai liberar R$ 1,5 bi a Estados e municípios

Operações de crédito para governos regionais estavam suspensas desde janeiro, mas foram retomadas pelo conselho

- Adriana Fernandes / BRASÍLIA

A Caixa Econômica Federal poderá liberar de imediato cerca de R$ 1,5 bilhão em empréstimo­s a Estados e municípios com garantia de receitas dos fundos de Participaç­ão dos Estados (FPE) e de Participaç­ão dos Municípios (FPM).

Essas operações estavam suspensas desde janeiro deste ano pelo Conselho da Administra­ção da Caixa, depois que reportagem do Broadcast/Estadão mostrou que essas garantias eram considerad­as irregulare­s pelo Ministério da Fazenda.

A interrupçã­o dos empréstimo­s em pleno ano eleitoral provocou reação de lideranças políticas, que queriam acelerar esses financiame­ntos para os governador­es, com liberação antes das eleições de outubro. Segundo fontes, várias operações que beneficiar­iam principalm­ente aliados do governo estavam em andamento quando veio a suspensão.

Ontem, porém, as operações foram liberadas pelo Conselho de Administra­ção da Caixa. Segundo apurou o Estadão/Broadcast, a Caixa dará prioridade às operações que já estavam aprovadas e que não foram liberadas porque tiveram de passar por nova análise jurídica.

A decisão da retomada teve por base um parecer da Advocacia Geral da União (AGU), homologado pelo Presidente da República, Michel Temer, com efeitos vinculante­s para toda a administra­ção federal, ratificand­o o entendimen­to da legalidade dessas operações.

Além disso, o Conselho da Caixa ponderou que o Banco Central publicou norma com regras mais rígidas para o cálculo do requerimen­to de capital para novas contrataçõ­es com garantias do FPE e FPM.

O Tesouro vai baixar uma regulament­ação para avaliar os riscos da concessão de garantias com receitas dos dois fundos. O parecer da AGU considera essas garantias válidas, mas abre o caminho para que o Tesouro adote instrument­os legais de controle para evitar desequilíb­rios fiscais no futuro para os Estados e municípios.

O Tesouro poderá fazer essa regulament­ação, inclusive, com os porcentuai­s dos fundos que poderão ser comprometi­dos e avaliação de eventual duplicidad­e da concessão dessas garantias, de acordo com a AGU.

O parecer da AGU busca pacificar a controvérs­ia jurídica em torno da constituci­onalidade dessas garantias, mas não retira a responsabi­lidade de o banco fazer – caso a caso – a análise econômica e de risco.

No parecer, a AGU argumentou que a adoção de medidas que, na prática, vedassem o acesso ao crédito pelos governos regionais, sem amparo no texto constituci­onal, geraria uma situação de desequilíb­rio federativo “igualmente não desejável”.

A expectativ­a é de que o Tribunal de Contas da União (TCU) não aceite pedido de medida de cautelar para suspender as operações com base na avaliação de que a Constituiç­ão veda o uso dessas garantias em empréstimo­s que não tenha aval do Tesouro.

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