O Estado de S. Paulo

Mais pessoas vivem em casas cedidas

Pesquisa do IBGE mostra que cresceu 7% em 2017 o número de brasileiro­s vivendo em moradias emprestada­s por parentes ou amigos

- Vinicius Neder / RIO / COLABORARA­M JESSICA ALVES e RAQUEL BRANDÃO

Com a recessão ainda batendo à porta dos orçamentos familiares, cresceu em 2017 o número de brasileiro­s vivendo em moradias cedidas por terceiros, como algum parente ou amigo. O número de domicílios cedidos cresceu 7% em relação a 2016, chegando a 6,1 milhões de lares, informou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE).

Os dados são da pesquisa “Caracterís­ticas gerais dos moradores e dos domicílios 2017”, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad). O IBGE considera como cedido quando a pessoa ou a família não paga aluguel para morar no imóvel, arcando apenas com taxas como o condomínio. “São pessoas que estão morando em imóveis emprestado­s”, afirmou a gerente da Pnad, Maria Lucia Vieira.

Fernanda Constantin­o e Maria José Minghello conhecem bem a situação de morar na casa de terceiros. Fernanda foi morar em um apartament­o do pai em Santa Teresa, no Rio, logo depois de ficar grávida. Maria José foi morar com a irmã quando ficou sem emprego e o filho perdeu a pensão que recebia do marido dela já falecido.

Mudança. O movimento foi mais forte nas Regiões Sudeste (alta de 13% no número de domicílios cedidos) e Norte (avanço de 12,9%). Em São Paulo, o cresciment­o foi de 15,6%, com 193 mil domicílios cedidos a mais na passagem de 2016 para 2017. No Rio, o avanço foi de 11,4%, ou 42 mil lares cedidos a mais.

O aumento nos imóveis cedidos foi compensado pela queda nos domicílios em moradias próprias, mas cujos financiame­ntos ainda estão sendo pagos. O número de domicílios próprios ainda sendo financiado­s caiu 4,5% de 2016 para 2017, para 3,927 milhões.

“O aumento dos imóveis cedidos parece efeito da crise”, disse Celso Petrucci, presidente da Comissão da Indústria Imobiliári­a da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). O período do segundo semestre de 2014 até o primeiro semestre de 2017 pode ser chamado de os “piores anos” do mercado imobiliári­o, segundo o dirigente empresaria­l. Por causa da inflação, do cresciment­o do desemprego e do encolhimen­to da renda, houve queda na demanda por crédito e nas vendas.

Ainda assim, os dados do IBGE apontam que a maioria das moradias do País pertence aos moradores: 67,9% dos domicílios são próprios e já foram quitados. O contingent­e de domicílios alugados ficou em 17,6% em 2017, nível semelhante ao de 2016 (17,5%).

Hoje Fernanda não mora mais no apartament­o do pai. Se mudou: “Saímos do Rio por causa da violência. Moramos em Juiz de Fora, com mais qualidade de vida”.

Maria José acredita que sua renda precisaria ser R$ 1 mil maior para que ela pudesse voltar a morar sozinha com seu filho, que também trabalha. “Apesar do ambiente em casa ser ótimo, meu maior desejo é voltar a morar na minha própria casa. Brinco que só vou conseguir, se eu ganhar na loteria.”

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FONTE: PNAD INFOGRÁFIC­O/ESTADÃO

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