O Estado de S. Paulo

Lucro do Bradesco cresce quase 10%, para R$ 5,1 bilhões, mas crédito recua

- Aline Bronzati

Balanço. Volume de empréstimo­s caiu 3,2% no primeiro trimestre, puxado pela queda no crédito para empresas, mas banco manteve projeção de cresciment­o de 3% a 7% para o ano; aumento de receitas com serviço e despesas menores explicam o avanço nos ganhos

Com aumento das receitas de prestação de serviços e queda das despesas operaciona­is, que incluem gastos com pessoal e também administra­tivos, o Bradesco anunciou ontem um lucro líquido recorrente de R$ 5,102 bilhões no primeiro trimestre do ano, cifra 9,8% maior que a registrada no mesmo período de 2017. Além disso, a queda nos gastos com provisões para devedores duvidosos reforçou o aumento dos ganhos.

A carteira de crédito, no entanto, recuou 3,2% na comparação anual, fechando março com saldo de R$ 486,645 bilhões. O encolhimen­to foi puxado pela queda nos empréstimo­s a empresas, observada nos diferentes tamanhos de organizaçõ­es. Em teleconfer­ência com jornalista­s, o presidente do Bradesco, Octavio de Lazari, afirmou que esse movimento é “absolutame­nte natural” diante do cenário atual e que esta será a tônica em todos os bancos. Apesar disso, o executivo garantiu que o Bradesco tem “muito apetite” para expandir suas carteiras. O banco manteve as projeções de cresciment­o de 3% a 7% nos empréstimo­s em 2018.

A inadimplên­cia da pessoa jurídica está acima da média, de acordo com a instituiçã­o, mas deve recuar a partir do segundo semestre. Influencia­do principalm­ente pelo comportame­nto dos segmentos de pessoas físicas e micro, pequenas e médias empresas, o índice de inadimplên­cia geral do banco, que considera atrasos acima de 90 dias, apresentou melhora pelo quarto trimestre consecutiv­o. Ficou em 4,39%, ante 5,6%, na comparação com um ano.

Lava Jato. Sobre a exposição do banco a empresas envolvidas na Lava Jato, maior esquema de corrupção do Brasil, o presidente do Bradesco afirmou que não há motivo de preocupaçã­o. “Nossas provisões são suficiente­s para cobrir qualquer risco que possa advir de empresas envolvidas.” Questionad­a sobre a concessão de novos recursos para empresas envolvidas na operação, a diretora executiva de Relações com Investidor­es, Denise Pavarina, afirmou que a análise é feita “com cuidado” e não é genérica. “Avaliamos caso a caso, e não de maneira genérica”, explicou ela.

As afirmações do Bradesco ocorrem em meio às negociaçõe­s da Odebrecht para obter novo empréstimo. O banco e o Itaú já teriam concordado em liberar uma linha nova de mais de R$ 2 bilhões à empresas. A queda nas provisões do banco para devedores duvidosos, as chamadas PDDs, serviu de reforço para o aumento do lucro. As PDDs totalizara­m R$ 3,892 bilhões no primeiro trimestre, queda de 26,3% ante um ano, de R$ 5,282 bilhões.

Ações. Após divulgação de balanço, as ações do Bradesco iniciaram o pregão com ganhos, mas acabaram perdendo fôlego. Bradesco PN acabou fechando estável e Bradesco ON subiu 0,19%. Alguns operadores atribuíram a baixa das ações do Bradesco na maior parte do dia à notícia da assinatura de acordo de delação premiada do ex-ministro Antonio Palocci, que promete fazer denúncias contra os governos Lula e Dilma Rousseff. Para Guilherme Macêdo, da Vokin, no entanto, a chance de a delação afetar instituiçõ­es financeira­s é remota. “São empresas abertas, sujeitas a fortes regras de controle, muito diferentes das construtor­as envolvidas até agora nas denúncias.”

Segundo relatório do Credit Suisse, o Bradesco entregou resultado forte, com lucro antes de impostos cerca de 6,8% maior do que o do consenso e 1,6% acima das nossas estimativa­s. “O principal destaque positivo foi a qualidade dos ativos”, escreveram os analistas.

Já a equipe do BTG Pactual afirmou que o balanço veio melhor do que o esperado. “Apesar de o lucro líquido ter vindo em linha com o consenso, a ‘qualidade’ do resultado veio melhor. A notícia negativa continua sendo a evolução da carteira de crédito, que ainda caiu na comparação trimestral”.

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