O Estado de S. Paulo

CIRO QUER EMPRESÁRIO DE MINAS OU SP COMO VICE

Pré-candidato do PDT afirma que convidou o empresário Josué Gomes para compor sua chapa: ‘Se quiser, é dele’

- Eduardo Kattah Pedro Venceslau

Pré-candidato à Presidênci­a pelo PDT, Ciro Gomes diz que convidou Josué Gomes, presidente da Coteminas e filho de José Alencar, para a chapa e avalia ser “improvável” uma aliança com o PT agora. Ele chama a reforma trabalhist­a de “aberração selvagem” e, sobre a Previdênci­a, afirma que o Brasil “não pode ter medo de se reformar”.

O ex-ministro Ciro Gomes, pré-candidato à Presidênci­a pelo PDT, disse ao Estado que convidou Josué Gomes, presidente da Coteminas e filho de José Alencar (vice-presidente no governo Lula), para ser vice em sua chapa. Josué é considerad­o também o vice ideal pelo PT. Para Ciro, uma aliança com o PT é “possível e até desejável”, mas “improvável”.

Ciro ainda falou sobre o trio de formulador­es econômicos de seu programa de governo – Mauro Benevides Filho, Nelson Marconi e Mangabeira Unger –, defendeu a revogação da reforma trabalhist­a e se compromete­u com a da Previdênci­a. A seguir, os principais trechos da entrevista: • Quem o sr. imagina para vice? Eu gostaria de escolher alguém da produção ligado ao Sudeste brasileiro, Minas Gerais, São Paulo.

• Já tem nomes? Tem nomes.

• Josué Gomes da Silva, da Coteminas, é um deles?

É sim, com certeza. Somos amigos há anos. Fui amigo do pai dele, José Alencar. Eu já disse a ele: se quiser, é dele.

• O sr. tem conversado com o ex-prefeito Fernando Haddad. Há chance de aliança com o PT?

É possível e até desejável, mas muito improvável. Nesse momento existem variáveis pendentes de definição. Do ponto de vista do PT, a mais grave, e eu tenho que respeitar isso com toda dignidade, é o momento que eles estão vivendo. Seu principal líder preso e eles constrangi­dos a uma solidaried­ade que ainda afirma a candidatur­a do Lula, mesmo preso e inelegível. Olho com respeito o tempo do PT, mas toco minha bandinha. • Até onde vai essa solidaried­ade? A bandeira ‘Lula Livre’ vai fazer parte da sua campanha? Minha solidaried­ade pessoal deriva de um fato histórico. Não conheci Lula pela televisão. É um velho camarada de mais de 30 anos, com quem já tive discordânc­ias, mas trabalho junto há mais de 16 anos. Fui ministro dele. Dói no meu coração ver um ex-presidente que fez tanto bem ao País preso. A política, entretanto, tem uma crueldade. Nossa responsabi­lidade é com o futuro de 206 milhões de pessoas. Minha solidaried­ade não me tira a disciplina de produzir uma alternativ­a para o Brasil, independen­temente do destino do Lula e do PT.

• Mas o sr. vai levar a bandeira do ‘Lula Livre’ para a campanha? Eu gostaria de ver o Lula livre dentro dos mecanismos da democracia e do estado de direito. Não me parece ser a providênci­a mais razoável fazer um acampament­o com palavras de ordem insultando o Judiciário às vésperas do julgamento. Das duas uma: ou você confia nas instituiçõ­es e recorre a elas para corrigir injustiças ou não confia.

• É a favor da revisão da possibilid­ade de prisão em 2ª instância? O mundo civilizado inteiro garante apenas dois graus de jurisdição para crimes comuns. É muito raro que se dê a um julgamento de crime comum quatro graus de jurisdição. O correto era corrigir a distorção institucio­nal que, hoje, garante quatro graus de jurisdição.

• Como avalia decisão do PT de manter a candidatur­a do Lula, mesmo como ele preso?

Há limite para isso. É preciso respeitar o tempo do PT. Acredito que o PT vai ter candidato próprio e não vai convergir em uma unidade no primeiro turno.

• Como avalia o fator Joaquim Barbosa?

É a novidade do momento. Ele entra com a biografia do juiz do mensalão. Esteve por um ano no horário nobre da Globo esgrimindo decência e moralidade, que é uma grande demanda. A mim me parece que não basta ser decente e dar exemplo de combate à corrupção. É preciso responder à questão da saúde, da educação e da violência.

• Teme que Barbosa ocupe espaço na centro-esquerda?

Não posso temer isso, pelo contrário. Tem um ditado no Ceará que diz: quanto mais cabra, mais cabrito. Não me sinto incomodado com a presença de um homem como Joaquim Barbosa ou de uma mulher como a Marina (Silva), mas não vou me omitir de denunciar o fascismo de uma candidatur­a ‘bolsaloide’. Tenho o dever de proteger nossa nação dessa coisas que na Alemanha deram no Hitler.

• Que reformas o sr. defende, quem será o ministro da Fazenda? Antes que meu patrão, o povo brasileiro, me dê a tarefa, não posso adiantar ministro. Mas tenho alguns nomes que estão me ajudando. Três nomes que estão coordenand­o o programa. Mauro Benevides Filho, ex-secretário de Fazenda do Ceará. Trabalha comigo há muitos anos. O outro é o professor Nelson Marconi, da FGV de São Paulo. Ele coordena o programa como um todo. E há uma figura polêmica para quem não o conhece profundame­nte, Mangabeira Unger.

• O que pretende fazer sobre a reforma trabalhist­a?

Não vou para cima do muro. A reforma trabalhist­a tem que ser revogada pura e simplesmen­te. Esta representa uma aberração selvagem.

• E a reforma da Previdênci­a?

O Brasil não pode ter medo de se reformar.

• O sr. defende algum tipo de privatizaç­ão?

O Brasil precisa um projeto nacional de desenvolvi­mento. A privatizaç­ão deve ser uma ferramenta. Mas como pode o Brasil imaginar privatizar a Eletrobrás? Para mim é um crime.

• Há quem se preocupe com o temperamen­to do sr. durante a campanha.

Sou o que sou, um indignado. Fui criado a maior parte da minha vida em escola pública no interior do Ceará. Tem colegas meus que morreram em uma prisão. Se expresso com um pouco mais de calor a minha indignação, ok, são essas as manchas do meu paletó.

É possível e até desejável, mas muito improvável (uma aliança com PT)

(...) Nesse momento existem muitas variáveis. Olho com respeito o tempo do PT, mas toco minha bandinha.” O mundo civilizado inteiro garante apenas dois graus de jurisdição para crimes comuns. É muito raro que se dê a um julgamento de crime comum quatro graus de jurisdição.” Não vou para cima do muro: a reforma trabalhist­a tem que ser revogada pura e simplesmen­te. Esta representa uma aberração selvagem.” TV Estadão.

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WERTHER SANTANA / ESTADÃO Centro-esquerda. Para Ciro, uma aliança com o PT é ‘muito improvável’
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