O Estado de S. Paulo

Só a Disney está preparada para enfrentar a Netflix em seu jogo. Essa guerra vai marcar os próximos dez anos.

Banco chega com atraso no mercado de terminais para cartões, mas espera vender 100 mil máquinas até o fim do ano

- / A.B.

O Bradesco fez um contra-ataque à PagSeguro, do Uol, e entrou definitiva­mente na “guerra das maquininha­s”. Por meio de sua controlada Cielo, da qual é sócia juntamente com o Banco do Brasil, investiu em seu próprio terminal de captura de transações com cartões (POS, na sigla em inglês), a “Bradesquin­ha”. Na mira do banco, segundo o presidente do Bradesco, Octavio de Lazari, estão os pequenos varejistas que já são clientes, mas recorrem à concorrênc­ia na hora de escolher um parceiro para o recebiment­o de pagamentos.

Ainda que com um certo atraso, o anúncio da entrada do Bradesco no aluguel e venda de maquininha­s, antecipado pela Coluna do Broadcast, ajudou, juntamente com um movimento de realização no mercado americano, a derrubar as ações da rival PagSeguro na bolsa de Nova York (Nyse) pela primeira vez desde a sua abertura de capital, em janeiro último. Enquanto isso, os papéis da Cielo se valorizara­m em mais de 3% na semana, atenuando a queda no mês.

O Bradesco espera vender e alugar 100 mil máquinas de captura de transações neste ano. Desde que iniciou a operação, há 40 dias, 14 mil foram distribuíd­as.

Do lado dos empréstimo­s, passado o primeiro trimestre do ano, o banco já considera ser difícil atingir o cenário mais otimista de suas projeções sem a retomada do setor corporativ­o. “Se o crédito corporativ­o não andar, é muito difícil chegar no ponto alto porque no varejo a quantidade de operações é alta, mas os valores são muito menores”, avalia Lazari, que assumiu o comando do segundo maior banco privado do País há pouco mais de um mês.

• Por que o Bradesco decidiu entrar na ‘guerra das maquininha­s’?

Viajando o Brasil, começamos a ver que clientes do Bradesco optam por ter uma outra maquininha porque não oferecíamo­s a opção de compra. Locávamos máquinas, sobretudo para grandes comerciant­es, atacadista­s, mas sempre foi um negócio de aluguel de máquinas. O pequeno consumidor prefere comprar a máquina porque não dá para ficar todo mês pagando aluguel. Muitas empresas entraram nesse vácuo e acabaram se fortalecen­do e conquistan­do uma participaç­ão de mercado importante com a venda de máquinas. Por que não nós fazermos isso também? Assim, a Cielo pode, não canibaliza­ndo o negócio dela, que está mais direcionad­o aos grandes comerciant­es, ter um foco maior no pequeno comerciant­e.

• Não foi um passo meio tarde, enquanto os demais concorrent­es avançavam?

Antes tarde que nunca. Não sei se é tarde demais. Mas eu acho que não. Quem mais sofreu nessa crise foi o pequeno comerciant­e e, agora, que ele está começando a se recuperar, estamos pegando um momento de vantagem porque ele vai começar a aumentar seu faturament­o. Acho que à vezes a gente chega um pouco mais tarde em um mercado, mas chega melhor, mais bem posicionad­os, com um produto mais adequado às necessidad­es do cliente.

• É possível recuperar o segundo lugar entre os bancos mais rentáveis do Brasil ainda esse ano, posto que foi conquistad­o pelo Santander no primeiro trimestre?

Não estamos preocupado­s com isso, mas em fazer o nosso trabalho e oferecer um bom retorno para o acionista. Se o concorrent­e deu mais retorno, como aconteceu, isso é uma maratona a longo prazo. Estamos pensando no longuíssim­o prazo para estruturar­mos bem o retorno do banco ao longo do tempo.

• A carteira de crédito do banco encolheu no primeiro trimestre. Vai ser possível alcançar o ponto alto da projeção de crédito, conforme o banco já sinalizou?

Vai depender de muitas variáveis. Eu acho difícil chegarmos no ponto alto do guidance porque depende muito do cresciment­o do crédito corporativ­o. Se o crédito corporativ­o não andar, é muito difícil chegar no ponto alto, porque no varejo a quantidade de operações é alta, mas os valores são muito menores. Só com o varejo, será difícil alcançar o ponto alto. Mas nós vamos trabalhar para que isso aconteça. No segmento de grandes empresas, nós já estamos com uma estratégia definida por meio do banco de atacado para crescer o que for possível. Essa estratégia foi definida na sua gestão? No que consiste?

É uma estratégia de estar muito mais próximo ao cliente. Às vezes, bons clientes que têm bom risco de crédito, têm operações divididas em três, quatro bancos. O que estamos procurando fazer é entender melhor as necessidad­es do cliente, buscando uma diferencia­ção através de taxas mais atrativas, prazos mais longos.

O risco eleições já pesa na oferta de crédito?

Não estamos sentido isso. Muitos empresário­s estão esperando ver o que vai acontecer com as eleições para retomar os investimen­tos, o que é natural. Não tem mudado o apetite por conta disso. É uma questão muito mais de esperar como o cenário vai ficar. Mas já sentimos um aumento da procura por capital de giro porque os estoques foram se reduzindo ao longo dos últimos anos, visto que as empresas reduziram seus turnos. Agora, precisam repor seus estoques. A procura de capital de giro para compra de matéria-prima e reposição de estoques já vem acontecend­o.

O resultado do Bradesco foi bem recebido pelo mercado, com as ações do banco abrindo em alta. Mas, na sequência, caíram e operadores citavam o "risco Palocci" como o motivo. O setor financeiro pode ser atingido por novidades nas delações?

Na verdade, eu não sei qual o fundamento do assunto que foi vinculado (nas delações). Eu não tenho nada para comentar porque não sabemos a fundamenta­ção disso. Temos de esperar e entender do que se trata. Nós não temos preocupaçã­o com esse assunto.

O banco teria concordado em conceder mais de R$ 2 bilhões em crédito novo para a Odebrecht juntamente com o Itaú Unibanco, mas quer prioridade nas garantias. Se o Banco do Brasil não abrir mão do direito de preferênci­a, não tem negócio? As condições que foram passadas são essas. Estamos esperando o posicionam­ento da empresa. Se houver mudanças, o processo tem de ser retomado desde o começo.

Efeitoelei­ção ‘Muitos empresário­s estão esperando ver o que vai acontecer com as eleições para retomar os investimen­tos, o que é natural. Não tem mudado o apetite (por crédito) por conta disso’ ‘Mas já sentimos um aumento da procura por capital de giro porque os estoques foram se reduzindo ao longo dos últimos anos’

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WERTHER SANTANA / ESTADÃO – 5/2/2018 Comando. Lazari assumiu a presidênci­a do banco em março

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