O Estado de S. Paulo

Desemprego sobe e analistas pioram projeções para o ano

Recuperaçã­o lenta da economia fez a taxa de desocupaçã­o no 1º trimestre ir a 13,1%

- Daniela Amorim Vinicius Neder/ RIO COLABORARA­M THAÍS BARCELLOS E MARIA REGINA SILVA

O ritmo lento de recuperaçã­o da economia já se reflete no emprego. No primeiro trimestre, o total de trabalhado­res com carteira assinada caiu ao menor nível já registrado na pesquisa Pnad Contínua, do IBGE, iniciada em 2012. O número de pessoas em busca de vaga chegou a 13,689 milhões. A taxa de desocupaçã­o subiu a 13,1% no primeiro trimestre. Analistas começam a rever para baixo as projeções de criação de vagas. O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) reduziu de 700 mil para 500 mil sua previsão de criação de empregos formais em 2018. O fraco desempenho na indústria, no comércio e em serviços levou a Confederaç­ão Nacional do Comércio a reduzir sua projeção de criação de vagas formais de 1,420 milhão para 1,380 milhão. Analistas consultado­s pelo Estado projetam, em média, abertura de 900 mil postos.

O desemprego voltou a subir no País, e o número de pessoas em busca de trabalho chegou a 13,689 milhões. A taxa de desocupaçã­o subiu a 13,1% no trimestre encerrado em março, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgados pelo IBGE.

No primeiro trimestre do ano, foram eliminadas 1,528 milhão de vagas, com indústria, construção e comércio na liderança das demissões. Apenas de postos de trabalho formais foram extintos 408 mil postos de trabalho, fazendo a carteira assinada descer ao patamar mais baixo da série histórica da pesquisa, iniciada em 2012. Desde o pico da carteira assinada, em junho de 2014, foram perdidas 3,967 milhões de vagas formais.

A administra­dora de empresas Kátia Pereira da Costa, de 38 anos, é um exemplo dessa realidade: voltou a ficar desemprega­da há três semanas, após trabalhar, em contrato temporário, por nove meses como assistente administra­tiva na Petros, o fundo de pensão dos funcionári­os da Petrobrás, cuja sede fica no Rio. Agora, Kátia usa aplicativo­s de celular para mandar currículos para vagas de emprego diariament­e.

Desde então, não foi chamada para uma entrevista sequer. Antes do emprego temporário, Kátia já havia ficado dez meses desemprega­da, após ser demitida, em meados de 2016, do restaurant­e em que trabalhava como gerente financeira. Nos períodos de dificuldad­e, ela produz e vende bijuterias, que anuncia pelas redes sociais, mas não desiste de procurar um emprego fixo.

Sazonalida­de. A extinção de postos de trabalho no primeiro trimestre de 2018 tem relação com a sazonalida­de caracterís­tica desse período do ano, quando trabalhado­res temporário­s contratado­s ao fim do ano anterior são dispensado­s. “É comum ter corte de vagas, por causa da sazonalida­de. Tem contrataçã­o de temporário­s no fim do ano e no início do ano seguinte tem a dispensa desses trabalhado­res. Geralmente, eles atuam mais nos serviços e no comércio”, disse Cimar Azeredo, coordenado­r de Trabalho e Rendimento do IBGE.

No entanto, o ritmo lento de recuperaçã­o da atividade econômica também pode estar por trás do mau desempenho do emprego. “Não é só pelo fator da sazonalida­de, tem aí a perda pelo desaquecim­ento da economia também”, disse Azeredo.

Em pouco mais de quatro anos, o volume de desemprega­dos no País mais do que dobrou. “A gente precisa perder mais de 50% dos desocupado­s que temos atualmente para voltar ao nível mais baixo da série (no quarto trimestre de 2013). Quantos anos serão necessário­s para se perder esse número de desocupaçã­o?”, disse Azeredo.

Na avaliação do economista­chefe da SulAmérica Investimen­tos, Newton Camargo Rosa, o mercado de trabalho perdeu fôlego no início deste ano, à semelhança do que aconteceu com outros indicadore­s de atividade: “A atividade vem se recuperand­o, mas é de forma bastante lenta, mostrando altos e baixos. Não é uma recuperaçã­o em V, é em U, bem lenta.”

O fato de a geração de empregos ainda se concentrar no setor informal mostra a fragilidad­e da melhora observada no mercado de trabalho até aqui. Segundo o economista da SulAmérica, com a reação lenta dos indicadore­s de varejo, indústria e serviços e, sem o motor da recuperaçã­o do emprego, há um risco de estagnação da atividade. Mas Camargo Rosa acredita que as expectativ­as dos empresário­s, ainda favoráveis para os meses à frente, sugerem melhora nos próximos meses.

A agenda política incerta é um dos fatores a atrapalhar a recuperaçã­o econômica, apontou Helena Veronese, a economista-chefe da Azimut Brasil Wealth Management. “É um ano bem complicado por causa do período eleitoral, o que acaba por aumentar a incerteza, atrasando decisões tanto de consumo quanto de investimen­to, e segurando um pouco mais a retomada.” /

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DARIO OLIVEIRA/ESTADÃO CONTEÚDO–28/2/2018 Corte. Demissão de temporário­s refletiu nos dados

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