Desemprego sobe e analistas pioram projeções para o ano
Recuperação lenta da economia fez a taxa de desocupação no 1º trimestre ir a 13,1%
O ritmo lento de recuperação da economia já se reflete no emprego. No primeiro trimestre, o total de trabalhadores com carteira assinada caiu ao menor nível já registrado na pesquisa Pnad Contínua, do IBGE, iniciada em 2012. O número de pessoas em busca de vaga chegou a 13,689 milhões. A taxa de desocupação subiu a 13,1% no primeiro trimestre. Analistas começam a rever para baixo as projeções de criação de vagas. O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) reduziu de 700 mil para 500 mil sua previsão de criação de empregos formais em 2018. O fraco desempenho na indústria, no comércio e em serviços levou a Confederação Nacional do Comércio a reduzir sua projeção de criação de vagas formais de 1,420 milhão para 1,380 milhão. Analistas consultados pelo Estado projetam, em média, abertura de 900 mil postos.
O desemprego voltou a subir no País, e o número de pessoas em busca de trabalho chegou a 13,689 milhões. A taxa de desocupação subiu a 13,1% no trimestre encerrado em março, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgados pelo IBGE.
No primeiro trimestre do ano, foram eliminadas 1,528 milhão de vagas, com indústria, construção e comércio na liderança das demissões. Apenas de postos de trabalho formais foram extintos 408 mil postos de trabalho, fazendo a carteira assinada descer ao patamar mais baixo da série histórica da pesquisa, iniciada em 2012. Desde o pico da carteira assinada, em junho de 2014, foram perdidas 3,967 milhões de vagas formais.
A administradora de empresas Kátia Pereira da Costa, de 38 anos, é um exemplo dessa realidade: voltou a ficar desempregada há três semanas, após trabalhar, em contrato temporário, por nove meses como assistente administrativa na Petros, o fundo de pensão dos funcionários da Petrobrás, cuja sede fica no Rio. Agora, Kátia usa aplicativos de celular para mandar currículos para vagas de emprego diariamente.
Desde então, não foi chamada para uma entrevista sequer. Antes do emprego temporário, Kátia já havia ficado dez meses desempregada, após ser demitida, em meados de 2016, do restaurante em que trabalhava como gerente financeira. Nos períodos de dificuldade, ela produz e vende bijuterias, que anuncia pelas redes sociais, mas não desiste de procurar um emprego fixo.
Sazonalidade. A extinção de postos de trabalho no primeiro trimestre de 2018 tem relação com a sazonalidade característica desse período do ano, quando trabalhadores temporários contratados ao fim do ano anterior são dispensados. “É comum ter corte de vagas, por causa da sazonalidade. Tem contratação de temporários no fim do ano e no início do ano seguinte tem a dispensa desses trabalhadores. Geralmente, eles atuam mais nos serviços e no comércio”, disse Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE.
No entanto, o ritmo lento de recuperação da atividade econômica também pode estar por trás do mau desempenho do emprego. “Não é só pelo fator da sazonalidade, tem aí a perda pelo desaquecimento da economia também”, disse Azeredo.
Em pouco mais de quatro anos, o volume de desempregados no País mais do que dobrou. “A gente precisa perder mais de 50% dos desocupados que temos atualmente para voltar ao nível mais baixo da série (no quarto trimestre de 2013). Quantos anos serão necessários para se perder esse número de desocupação?”, disse Azeredo.
Na avaliação do economistachefe da SulAmérica Investimentos, Newton Camargo Rosa, o mercado de trabalho perdeu fôlego no início deste ano, à semelhança do que aconteceu com outros indicadores de atividade: “A atividade vem se recuperando, mas é de forma bastante lenta, mostrando altos e baixos. Não é uma recuperação em V, é em U, bem lenta.”
O fato de a geração de empregos ainda se concentrar no setor informal mostra a fragilidade da melhora observada no mercado de trabalho até aqui. Segundo o economista da SulAmérica, com a reação lenta dos indicadores de varejo, indústria e serviços e, sem o motor da recuperação do emprego, há um risco de estagnação da atividade. Mas Camargo Rosa acredita que as expectativas dos empresários, ainda favoráveis para os meses à frente, sugerem melhora nos próximos meses.
A agenda política incerta é um dos fatores a atrapalhar a recuperação econômica, apontou Helena Veronese, a economista-chefe da Azimut Brasil Wealth Management. “É um ano bem complicado por causa do período eleitoral, o que acaba por aumentar a incerteza, atrasando decisões tanto de consumo quanto de investimento, e segurando um pouco mais a retomada.” /