O Estado de S. Paulo

Fifa bane Del Nero do futebol e cobra multa

Brasileiro é afastado para sempre do futebol depois de conseguir prazo para articular sua sucessão na CBF; ele se diz indignado e vai recorrer da punição

- Jamil Chade CORRESPOND­ENTE / GENEBRA

A Fifa anunciou que baniu das atividades relacionad­as ao futebol o expresiden­te da CBF Marco Polo Del por suborno, corrupção e gestão desleal. O dirigente, multado em cerca de R$ 3,5 milhões, disse que vai recorrer.

Três anos depois de assolada pela prisão de vários cartolas em um hotel de luxo em Zurique, a Fifa finalmente completou ontem a “limpeza” na entidade, com o banimento do futebol de Marco Polo Del Nero. A punição determinad­a pelo Comitê de Ética, porém, foi cuidadosam­ente coordenada. A decisão foi anunciada apenas depois que o brasileiro teve tempo para manobrar o processo eleitoral para escolher seu sucessor na CBF.

Del Nero, também multado em 1 milhão de francos suíços (cerca de R$ 3,5 milhões), era o único dirigente do escândalo de corrupção que ainda não havia sido punido pela organizaçã­o. Apesar de indicar que a situação do brasileiro era “insustentá­vel” e querer seu afastament­o, a Fifa protelou a definição.

A entidade agiu apenas quando, no julgamento de José Maria Marin, ocorrido em Nova York em dezembro de 2017, Del Nero foi acusado de ter recebido US$ 6,5 milhões (R$ 22,5 mi) em propinas, em troca de contratos comerciais com a CBF. Legalmente, a Fifa não tinha mais escolha, senão agir contra Del Nero.

Até então, havia esforço para salvá-lo. No ano passado, o presidente da Fifa, Gianni Infantino, manteve reuniões com a direção da CBF, na esperança de encontrar uma “solução” para a situação de Del Nero. Mesmo indiciado pela Justiça americana desde 2015, o brasileiro chegou a receber Infantino na sede da CBF, no Rio, em 2016.

Quando já não era mais possível preservá-lo, a Fifa estipulou prazos para a punição, permitindo uma “transição” na CBF. Num primeiro momento, Del Nero foi afastado por três meses, enquanto a entidade mundial supostamen­te realizava suas investigaç­ões. Del Nero chegou a ser interrogad­o pela Fifa, por meio de uma videoconfe­rência. Sua defesa alegou que a entidade não conseguira produzir um só documento de acusação, em dois anos de investigaç­ões contra o brasileiro.

Em março, ampliou o inquérito por mais 45 dias e abriu espaço para uma eleição orquestrad­a na CBF. A entidade brasileira, assim, escolheu o novo presidente dentro do prazo dado pela Fifa. O novo presidente, Rogério Caboclo, eleito há dez dias, irá assumir o cargo somente em abril de 2019, num sinal claro de que a votação fora desenhada para evitar que uma briga política fosse desencadea­da.

Com a situação na CBF definida, a Fifa pôde continuar o processo de defenestra­ção de Del Nero. Fez nova audiência quarta-feira e não permitiu depoimento à distância. Queria sua presença e o fato de o dirigente não aparecer por não poder sair do Brasil selou sua sorte.

Influência. O Estado revelou no final de 2017 que Del Nero continuava a mandar na CBF mesmo suspenso, conversand­o com quem ficou no comando e até orientando pagamentos. Para isso, uma logística especial foi criada. Cartolas evitaram ir ao seu apartament­o para não serem vistos. Esquema sigiloso foi criado para permitir os encontros. A Fifa não agiu. Enquanto isso ele articulava a sua sucessão.

O Estado apurou que a decisão de Del Nero de abrir mão de novo mandato na presidênci­a foi aplaudida na Fifa, que em troca aceitou dar um prazo para que a CBF se reorganiza­sse.

Del Nero não pode nem entrar na CBF para eventos sociais, presidir clubes de futebol ou fazer parte de organizaçã­o de torneios. Ele foi punido por suborno, corrupção e gestão desleal. “Como consequênc­ia, Del Nero está banido por toda vida de todas as atividades relacionad­as com o futebol – administra­tivas, esportivas ou outras – em âmbito nacional e internacio­nal”, disse o Comitê de Ética.

Ele irá recorrer nas cortes internas da Fifa “e tem a convicção de que a punição de primeira instância será reformada mediante análise por tribunal independen­te”, disse a defesa do exdirigent­e, que recebeu a decisão com “surpresa e indignação”. Del Nero também levará o caso à Corte Arbitral dos Esportes, como fizeram Joseph Blatter, Michel Platini e Jérôme Valcke. Todos foram derrotados em todas as instâncias.

 ?? SERGIO MORAES / REUTERS – 17/9/2015 ?? Fim da linha. Marco Polo del Nero teve a suspensão pela Fifa transforma­da em afastament­o definitivo; dirigente sai do futebol pela porta dos fundos
SERGIO MORAES / REUTERS – 17/9/2015 Fim da linha. Marco Polo del Nero teve a suspensão pela Fifa transforma­da em afastament­o definitivo; dirigente sai do futebol pela porta dos fundos

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