O Estado de S. Paulo

João Domingos

- E-MAIL: JOAODOMING­OS56@GMAIL.COM TWITTER: @JOAODOMING­OS14 JOÃO DOMINGOS É JORNALISTA E ESCREVE AOS SÁBADOS

No presidenci­alismo de coalizão, o partido que eleger número razoável de deputados pode garantir um pedaço do governo.

Muito se tem falado a respeito da eleição presidenci­al, seus pré-candidatos, a encalacrad­a candidatur­a de Lula, as tentativas de se buscar um acordo em torno de um nome de centro, a novidade Joaquim Barbosa, o mercado aos sustos, o dólar na montanha-russa por causa das incertezas políticas e por aí vai. E é natural que se fale sobre o assunto mais até do que sobre a Copa da Fifa na Rússia, pois a eleição presidenci­al interessa a toda a população num momento em que temas como o combate à corrupção, falta de segurança, saúde, educação e transporte­s parecem tê-la despertado.

Também chama a atenção nesse chacoalhar cívico que toma conta do País o comportame­nto de vários partidos médios, que, durante a presidênci­a do deputado cassado Eduardo Cunha (MDB-RJ), preso em Curitiba, montaram um grupo que se denominou “Centrão”. Os principais são o PP, o PTB, o PSD e o PR. Enquanto as outras legendas arrancam os cabelos na busca de uma forma de tornar seu candidato a presidente competitiv­o, os partidos do Centrão permanecem na moita, fazem sondagens para ver quem é que está em melhor situação nos Estados, se aproximam e se afastam, a depender das circunstân­cias. Vão apostar tudo na eleição para o Parlamento, a última em que se poderá fazer coligação para a disputa pelas cadeiras da Câmara.

Nesse caso, é muito importante se aliar com um candidato forte para o governo estadual, porque será a garantia de eleição de uma boa bancada. Assim, ninguém deve estranhar se em Goiás, onde o senador Ronaldo Caiado (DEM) tem possibilid­ade de vencer a eleição no primeiro turno, ele reunir todo mundo à sua volta. E se no vizinho Distrito Federal o mesmo grupo correr para um candidato de partido muito diferente.

Vale lembrar que se há dois anos o PT era o patinho feio da política, por causa das denúncias de corrupção envolvendo o partido, hoje conseguiu superar essa fase. Numa demonstraç­ão de resistênci­a impression­ante, o partido reconquist­ou a maior bancada na Câmara. Está hoje com 60 deputados, seguido do MDB, que tem a Presidênci­a da República, com 51. Em terceiro lugar aparece o PP, o partido com maior número de investigad­os na Lava Jato. Isso pouco importa. O que interessa é correr atrás de boas coligações.

No Piauí, por exemplo, Estado do presidente do PP, senador Ciro Nogueira, o partido está envolvido numa briga sem fim com o MDB de Michel Temer pela indicação do candidato a vice na chapa do governador Wellington Dias, do PT. Tudo isso porque quem fizer aliança com Dias sabe que terá muito mais chances de se eleger do que se for para outra coligação.

Na Bahia a decisão do prefeito de Salvador, ACM Neto, do DEM, de não se candidatar, deixou órfãos PSDB e MDB. O PP conseguiu garantir de novo para João Leão a vaga de vice na chapa do governador petista Rui Costa, que tem conseguido manter boa popularida­de entre os baianos porque vem conseguind­o pôr em prática as promessas de campanha. O PSD de Gilberto Kassab também é aliado de Costa.

Esse comportame­nto, que se tornou uma espécie de marca registrada do Centrão, não é exclusivid­ade do grupo. O MDB também está interessad­o em alianças vantajosas. O presidente do Senado, Eunício Oliveira, por exemplo, deixou de lado as velhas rusgas com os irmãos Cid e Ciro Gomes e vai se aliar a eles numa composição que envolve também o governador petista Camilo Santana. Garantirá, com isso, uma das vagas na chapa para buscar a reeleição ao Senado. A outra será dada ao ex-governador Cid Gomes.

No presidenci­alismo de coalizão do Brasil o partido que eleger um número razoável de deputados terá boa chance de garantir um pedaço do governo. Pouco interessa quem será o vencedor.

Uma boa coligação regional pode garantir bancada grande e lugar no próximo governo

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