O Estado de S. Paulo

‘ARRUMAREI OUTRO BRINQUEDO PARA INVESTIR’

Empresário, que também é um dos maiores sócios do Carrefour, vai investir em novos negócios após sair da BRF

- Abilio Diniz EMPRESÁRIO

Abilio Diniz sai da disputa com os sócios na BRF satisfeito pela forma como se comportou. “Tenho orgulho de mim”, disse a Renata Agostini e Mônica Scaramuzzo, após a eleição do novo conselho de administra­ção da dona da Sadia e da Perdigão. “Hoje sou muito mais um pacificado­r do que um cara de briga”, afirmou. Aos 81 anos, ele deve investir em novos negócios.

Com fama de não fugir de uma briga, o empresário Abilio Diniz sai da disputa com os sócios na BRF, dona da Sadia e da Perdigão, dizendo-se satisfeito pela forma serena como se comportou. “Tenho orgulho de mim”, disse ao Estado um dia após a eleição do novo conselho de administra­ção da companhia. “Hoje sou muito mais um pacificado­r do que um cara de briga”, resumiu o empresário, de 81 anos.

O prejuízo de R$ 1,1 bilhão registrado pela companhia em 2017 levou os maiores acionistas, os fundos de pensão do Banco do Brasil (Previ) e da Petrobrás (Petros), a pedir a destituiçã­o do conselho, presidido por Abilio, dando início a uma disputa societária.

O empresário afirmou que Pedro Parente, presidente da Petrobrás, é a pessoa certa para substituí-lo no comando do conselho da BRF.

Terceiro maior acionista do Carrefour, Abilio deixa o cargo, mas não vai parar. “O que faremos é arrumar outros brinquedin­hos para investir”, disse. A Península, braço de investimen­to de sua família, também é sócia da Anima Educação, do e-commerce Wine e da rede de padarias Benjamin.

Em dezembro, o sr. afirmou ao ‘Estado’ que as divergênci­as entre os sócios na BRF haviam acabado. Foi um erro de leitura ou o sr. foi traído pelos fundos? Naquela altura, acho que era mais desejo meu do que a realidade. Às vezes, traímos a nós mesmos. Desejamos tanto que algo aconteça, que temos expectativ­a melhor do que deveríamos. Mas tudo o que aconteceu é normal. Os fundos, liderados pela Petros, não estavam satisfeito­s com a gestão. E ela foi trocada por consenso (eleição de novo presidente em dezembro de 2017). Realmente a companhia começou a trabalhar de forma diferente no quesito gente e acreditei que iríamos subir a rampa. Mas os resultados do fim do ano foram piores do que imaginávam­os e houve um ataque de acionistas. É normal. Poderia ter sido feito com menos barulho e sofrimento para companhia? Sem dúvida. Agora já foi.

Como o sr. se sentiu quando soube do pedido de destituiçã­o? A questão não é como me senti. Eles estavam insatisfei­tos. Poderiam ter negociado comigo e chegado ao mesmo resultado? Sem dúvida. Mas já aconteceu. O resultado final foi excelente. O mais importante é fazer o melhor para a companhia. Fiquei em silêncio tentando fazer o melhor para a BRF.

O sr. tem fama de brigão. Neste caso, avalia então que os fundos é que foram brigões?

Não tem brigão, não tem nada disso. Às vezes você tem fama, mas não é assim. Hoje sou muito mais pacificado­r do que um cara de briga. Você consegue resultados muito melhores através do diálogo. Quando vem briga, você tem de enfrentá-la. Recebi uma declaração de guerra e dei um tratado de paz. Diante de tudo isso, a escolha de Pedro Parente foi muito boa. Pedro é a pessoa certa para tocar o conselho da BRF.

Como foi a negociação para que Parente aceitasse o posto? Surgiu comigo. Me lembrei dele por ser ligado à Petrobrás, mas tinha dúvidas se ele iria aceitar. Num primeiro momento, agradeceu, mas disse que não poderia. Com insistênci­a, foi entendendo a grandeza da BRF e sentiu o desafio.

O quadro da BRF é delicado. Há mea culpa a ser feita?

O que aconteceu de ruim na BRF aconteceri­a com qualquer time, com qualquer conselho. Não tenho dúvida nenhuma. Não sei se faria algo diferente. Sempre me preocupei em manter a governança da companhia. No ano passado, enfatizei o quanto era importante a gestão de gente. Talvez o grande erro da gestão passada seja a gestão de gente.

Manterá a fatia na BRF?

Não posso comentar. A Península é uma investidor­a. Não há nenhuma razão para sair, mas não há nenhuma razão para ficar se os resultados continuare­m ruins. Mas acreditamo­s que a companhia vai crescer.

Quais serão os próximos passos? Vai focar no Carrefour?

O que provavelme­nte faremos é arrumar outros brinquedin­hos. Não tão vistosos. Hoje temos empresas menores, como Wine (de vendas de vinhos pela internet) e Benjamin (rede de padarias), que dão prazer. Vamos procurar alguns brinquedin­hos para que possamos investir. Não posso falar quais são, ou o preço aumentará. No Carrefour, não dá para fazer muito mais do que já fazemos. Temos dois assentos no conselho global, o que nos permite contato direto com eles. No Brasil, estamos no conselho trabalhand­o para que a empresa cresça. Estou me dedicando à Plenai (plataforma digital idealizada por Abilio sobre longevidad­e).

A BRF deu bastante dor de cabeça, apresentou prejuízo, ações caíram. Se arrepende de ter entrado nessa empreitada?

Dor de cabeça não tem pessoa que não a tenha. A questão é como você a supera. O remédio que eu tomei para a BRF passar esta fase foi muito bom e adequado. Consegui o que queria. Não dá para sair das dificuldad­es que se apresentar­am em 2016 e em 2017 do dia para noite. Mas construímo­s um plano sólido, que foi feito para que eles (o novo conselho) a levem para frente. Tenho orgulho de mim. A maneira como atuei nas dificuldad­es com sócios, com fundos, acho que foi serena, tranquila. A assembleia, na quinta, foi bem, um clima espetacula­r. Demorou por problemas técnicos. O resultado final foi excelente.

O mercado já antecipa necessidad­e de aumento de capital na BRF. A Península acompanhar­ia? Não posso comentar porque estamos em período de silêncio. A empresa está preparada para crescer muito e dominar. Isso vai ser feito.

O resultado final foi excelente. O mais importante é fazer o melhor para a empresa. Fiquei em silêncio tentando fazer o melhor para a BRF

Hoje sou muito mais pacificado­r do que um cara de briga. Você consegue resultados melhores com diálogo. Quando vem briga, tem de enfrentá-la.

Dor de cabeça não tem pessoa que não a tenha. A questão é como você a supera. O remédio que eu tomei para a BRF passar esta fase foi muito bom

 ?? AMANDA PEROBELLI/ESTADÃO - 4/12/2017 ?? Sem arrependim­entos. Abilio disse que não faria nada diferente na BRF
AMANDA PEROBELLI/ESTADÃO - 4/12/2017 Sem arrependim­entos. Abilio disse que não faria nada diferente na BRF

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