O Estado de S. Paulo

Roberto Godoy

Pyongyang tem plano para criar máquinas com mega processado­res que consomem cerca de US$ 85 milhões por ano

- Roberto Godoy

A rigor, o programa nuclear da dinastia Kim está completo. Agora, o estrago pode ser feito com o emprego de supercompu­tadores.

O norte-coreano Kim Jongun pode discutir distensão com a Coreia do Sul, pode oferecer ao presidente dos EUA, Donald Trump, a desativaçã­o de duas ou três instalaçõe­s do complexo de armas atômicas e de mísseis, pode também assinar um acordo de paz, encerrando a guerra que deixou 4 milhões de mortos. O que o ditador dificilmen­te fará é colocar na pauta o desmantela­mento do arsenal de destruição duramente construído por três gerações de ditadores Kim. Nem precisa.

A rigor, depois de realizar 117 provas de disparo com diversos tipos de foguetes balísticos desde 1984 e de executar 6 explosões subterrâne­as de teste entre 2006 e 2017, o programa está completo. O desenvolvi­mento futuro pode ser feito por meios digitais, virtuais, com o emprego de supercompu­tadores. Este recurso é utilizado pelas principais potências nucleares do planeta – Estados Unidos, Rússia, China, França e, talvez, também por Israel que, embora não seja

uma força atômica assumida, teria de 80 a 200 cargas de ataque e um número desconheci­do de lançadores, sugestivam­ente batizados de Jericó. O Reino Unido compartilh­a informaçõe­s tecnológic­as com os EUA.

O estoque de mísseis de Kim Jong-un contabiliz­a cerca de 1.000 unidades, a maioria de curto alcance, com raio de ação entre 100 quilômetro­s e 1,5 mil quilômetro­s. Os modelos interconti­nentais, capazes de atingir o território americano, ainda são poucos, da mesma forma que os intermediá­rios, construído­s para “destruir qualquer alvo estratégic­o na região”, de acordo com a agência de noticias estatal KCNA.

Os maiores, Hwasong-16/17, podem levar cerca de 1,3 tonelada na cabeça de combate. No ensaio mais recente, há cerca de oito meses, um deles subiu além de 3 mil quilômetro­s. Poderia ter completado a trajetória sobre cidades americanas. No viés nuclear, as duas últimas das seis explosões, foram significat­ivas. A penúltima verificou a eficiência do processo de miniaturiz­ação das ogivas compactas, e a última detonou um devastador sistema termonucle­ar, de hidrogênio, cuja onda sísmica deu a volta ao mundo.

Supermáqui­na. Agora, não é mais necessário fazer barulho nem perturbar o sono do presidente sul-coreano, Moon Jaein, pelo que se desculpou Kim Jong-un no encontro bilateral de ontem. Pyongyang mantém um projeto de construção de supercompu­tadores que consome cerca de US$ 85 milhões por ano. Já teria um complexo especializ­ado subterrâne­o em Kunch’ang-ri, e um laboratóri­o inteiro dedicado ao empreendim­ento no Instituto de Alta Ciência, em Pyongyang.

O objetivo é chegar a uma supermáqui­na com capacidade de 30 petaflops até 2025. Um petaflop permite realizar 1 quatrilhão de cálculos por segundo. De acordo com um físico e engenheiro nuclear, ouvido pelo Estado, essas especifica­ções excedem, com sobras, a demanda de processame­nto das modelagens de um programa atômico, “ainda depois de uma série de bem-sucedidos ensaios de campo”.

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