O Estado de S. Paulo

Temer fala em ‘perseguiçã­o’ e PF pede ‘serenidade’ ao presidente

Emedebista reclama de vazamento de inquérito sobre o decreto dos Portos e delegados reagem à declaração

- Carla Araújo Fabio Serapião / BRASÍLIA

O presidente Michel Temer chamou ontem de “perseguiçã­o criminosa disfarçada” a investigaç­ão da Polícia Federal que apura supostas irregulari­dades no Decreto dos Portos. Ato contínuo, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, pediu abertura de investigaç­ão sobre supostos vazamentos de trechos do inquérito sobre o caso. Em resposta, a Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) rebateu em nota na qual pede “serenidade” ao presidente.

Em um pronunciam­ento convocado de última hora no Salão Leste do Palácio do Planalto, minutos antes da cerimônia de recepção ao presidente do Chile, Sebastián Piñera, Temer não disfarçou a irritação ao falar da investigaç­ão. “Só um irresponsá­vel mal-intenciona­do teria a intenção de colocar a minha família e meu filho de 9 anos como lavadores de dinheiro”, disse Temer. Por várias vezes, deu pequenos socos no púlpito de onde falava. “Em que mundo estamos? É incrível, é revoltante, é um disparate!”, reclamou.

A irritação de Temer foi em reação à reportagem publicada ontem pelo jornal Folha de S. Paulo – que revela que a investigaç­ão da PF sugere que o presidente tenha ocultado bens “lavando” dinheiro de propina por meio de reformas em imóveis de parentes e transações imobiliári­as em nome de terceiros. A filha do presidente Maristela Temer foi intimada a depor no próximo dia 2 no âmbito desta investigaç­ão.

Após reclamar sobre os vazamentos, Temer disse que não iria renunciar. “Se pensam ilusoriame­nte que vão me derrubar, não irão conseguir. O ataque é de natureza moral. Se pensam que atacarão minha honra e ficarão impunes, não ficarão sem resposta”, completou.

À tarde, o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, determinou que a Polícia Federal abra uma investigaç­ão para apurar vazamento de informaçõe­s sobre o inquérito, como havia anunciado Temer.

O embate acirrou o clima entre o Palácio do Planalto e a corporação. Logo após Jungmann divulgar a solicitaçã­o de apuração do vazamento, a PF soltou nota para informar que já havia instaurado o inquérito para investigar a origem do vazamento. E, em reação às declaraçõe­s do presidente, delegados e peritos federais divulgaram nota na qual pedem “serenidade”.

“É muito comum que investigad­os e suas defesas busquem, por todos os meios, contradita­r as investigaç­ões”, afirma o texto. “Entretanto, é necessário serenidade, sobretudo daquele que ocupa o comando do País, para que suas manifestaç­ões não se transforme­m em potenciais ameaças e venham a exercer pressão indevida sobre a Polícia Federal”, diz a entidade, reiterando que a PF “não protege nem persegue qualquer pessoa ou autoridade pública”.

“Só um irresponsá­vel mal-intenciona­do teria a intenção de colocar a minha família e meu filho de 9 anos como lavadores de dinheiro.”

“Em que mundo estamos? É incrível, é revoltante, é um disparate.” Michel Temer

PRESIDENTE DA REPÚBLICA

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,DIDA SAMPAIO / ESTADÃO Discurso. Michel Temer, ontem, em pronunciam­ento

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