Temer fala em ‘perseguição’ e PF pede ‘serenidade’ ao presidente
Emedebista reclama de vazamento de inquérito sobre o decreto dos Portos e delegados reagem à declaração
O presidente Michel Temer chamou ontem de “perseguição criminosa disfarçada” a investigação da Polícia Federal que apura supostas irregularidades no Decreto dos Portos. Ato contínuo, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, pediu abertura de investigação sobre supostos vazamentos de trechos do inquérito sobre o caso. Em resposta, a Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF) rebateu em nota na qual pede “serenidade” ao presidente.
Em um pronunciamento convocado de última hora no Salão Leste do Palácio do Planalto, minutos antes da cerimônia de recepção ao presidente do Chile, Sebastián Piñera, Temer não disfarçou a irritação ao falar da investigação. “Só um irresponsável mal-intencionado teria a intenção de colocar a minha família e meu filho de 9 anos como lavadores de dinheiro”, disse Temer. Por várias vezes, deu pequenos socos no púlpito de onde falava. “Em que mundo estamos? É incrível, é revoltante, é um disparate!”, reclamou.
A irritação de Temer foi em reação à reportagem publicada ontem pelo jornal Folha de S. Paulo – que revela que a investigação da PF sugere que o presidente tenha ocultado bens “lavando” dinheiro de propina por meio de reformas em imóveis de parentes e transações imobiliárias em nome de terceiros. A filha do presidente Maristela Temer foi intimada a depor no próximo dia 2 no âmbito desta investigação.
Após reclamar sobre os vazamentos, Temer disse que não iria renunciar. “Se pensam ilusoriamente que vão me derrubar, não irão conseguir. O ataque é de natureza moral. Se pensam que atacarão minha honra e ficarão impunes, não ficarão sem resposta”, completou.
À tarde, o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, determinou que a Polícia Federal abra uma investigação para apurar vazamento de informações sobre o inquérito, como havia anunciado Temer.
O embate acirrou o clima entre o Palácio do Planalto e a corporação. Logo após Jungmann divulgar a solicitação de apuração do vazamento, a PF soltou nota para informar que já havia instaurado o inquérito para investigar a origem do vazamento. E, em reação às declarações do presidente, delegados e peritos federais divulgaram nota na qual pedem “serenidade”.
“É muito comum que investigados e suas defesas busquem, por todos os meios, contraditar as investigações”, afirma o texto. “Entretanto, é necessário serenidade, sobretudo daquele que ocupa o comando do País, para que suas manifestações não se transformem em potenciais ameaças e venham a exercer pressão indevida sobre a Polícia Federal”, diz a entidade, reiterando que a PF “não protege nem persegue qualquer pessoa ou autoridade pública”.
“Só um irresponsável mal-intencionado teria a intenção de colocar a minha família e meu filho de 9 anos como lavadores de dinheiro.”
“Em que mundo estamos? É incrível, é revoltante, é um disparate.” Michel Temer
PRESIDENTE DA REPÚBLICA