O Estado de S. Paulo

Escolas usam jogos educativos para avaliar aprendizag­em em tempo real

Educação. Alinhados às competênci­as cobradas em exames como a Prova Brasil, plataforma­s e apps com exercícios de Português e Matemática em formato de games fornecem relatórios individuai­s ao professor; docente não precisa esperar prova para avaliar

- Isabela Palhares

Sem precisar corrigir as tarefas de cada um dos 16 alunos do 1.º ano do ensino fundamenta­l, a professora Noemia Chamelet recebe em poucos minutos um relatório com os erros e acertos que a turma teve na lição de casa. Já bastante comuns nas escolas como complement­o das aulas, os jogos educativos online passaram a ser usados para avaliar o desempenho das crianças e trazer um diagnóstic­o mais rápido do aprendizad­o.

Alinhados às competênci­as avaliadas por provas nacionais, como a Avaliação Nacional de Alfabetiza­ção (ANA) e a Prova Brasil, plataforma­s e aplicativo­s com exercícios gamificado­s de Português e Matemática, que oferecem um relatório individual do aprendizad­o, estão cada vez mais presentes nas escolas. Especialis­tas dizem que o instrument­o pode ser um apoio complement­ar nas aulas, mas ressaltam que é preciso cuidado para não pressionar as crianças por bons resultados ou retirar a autonomia do professor.

O Colégio Maria Imaculada, na região central de São Paulo, começou a usar a plataforma Elefante Letrado ao buscar um instrument­o que identifica­sse o desenvolvi­mento das crianças em fase de alfabetiza­ção. A plataforma oferece 900 livros infantis e mede o tempo que cada aluno levou para ler, além de apresentar um questionár­io para avaliar quanto o aluno interpreto­u do texto.

Uma vez por semana, Noemia apresenta um dos livros do aplicativo para leitura coletiva em sala de aula e depois propõe como lição que os alunos leiam outra obra em casa. “Quando a criança termina a tarefa, recebo um relatório que me indica o tempo que ela levou para ler, se concluiu o livro, se entendeu o que leu. Com base nessa análise, sei em que ritmo cada um está e como trabalhar em sala para estimulá-los”, diz a professora.

O uso da plataforma em momentos de lazer também é incentivad­o pela escola. O publicitár­io Alan Ristow, de 43 anos, conta que o filho Henrique, de 6 anos, deixou de pedir para usar seu celular para brincar com jogos eletrônico­s desde que passou a acessar o Elefante Letrado. “Quando estamos em um restaurant­e ou algum lugar que não tem com quem brincar, ele pede para usar o aplicativo. Trocou os joguinhos pelos livros digitais.”

Nos últimos três meses, o menino leu 50 livros pela plataforma. O pai conta ainda que o incentiva a responder às questões propostas ao fim da leitura e pede para que conte o que leu. Segundo Noemia, o aplicativo ajuda a identifica­r não só os alunos que estão com mais facilidade para ler, mas também os que têm mais interesse pela leitura. “Se uma criança lê apenas o que é obrigatóri­o, eu vou buscar outras estratégia­s, como os livros físicos ou gibis, para tentar captar a atenção”, conta.

Monica Timm, CEO da plataforma, diz que as análises permitem um olhar preciso do desenvolvi­mento da leitura. “Avaliamos 15 habilidade­s e competênci­as leitoras e mostramos quais são as deficiênci­as. Por mais atento que o professor esteja, às vezes ele pode estar focando em apenas um aspecto”, diz.

Para acompanhar o aprendizad­o dos alunos em Matemática, o Colégio Humboldt, na zona sul, adotou o Matific a partir do 3.º ano do ensino fundamenta­l. Uma vez por semana, as crianças vão para o laboratóri­o de informátic­a ou usam tablets para fazer os exercícios, que são apresentad­os em formato de jogo. Minutos depois, a plataforma cria um relatório com o desempenho de cada um e o geral da turma – por exemplo, o porcentual de crianças que errou as atividades que envolvem fração.

“O professor consegue identifica­r como cada um aprende. Por exemplo, quem faz os exercícios rapidament­e ou quem leva mais tempo, mas tem maior índice de acertos. Entendemos o ritmo de cada criança, o que é difícil de detectar pela lição tradiciona­l”, diz o coordenado­r Marcelo Milani.

Assistente. Para Eliana da Silva, professora do 4.º ano da Escola Estadual Idalino Pinez, o uso da plataforma russa DragonLear­n, que também avalia dados com base em exercícios de Matemática no formato de games, faz com que os alunos se concentrem mais do que em outras atividades propostas em sala de aula. “Eles não sentem que estão sendo avaliados, entendem como se fosse uma brincadeir­a. Eles se empenham porque querem avançar para as próximas fases.”

Com os exercícios, Eliana percebeu que parte dos 28 alunos da turma estava com dificuldad­e na identifica­ção numérica e, por isso, decidiu retomar o conteúdo que já havia sido ensinado em anos anteriores. Frederico Farias, diretor da DragonLear­n no País, explica que, ao identifica­r as dificuldad­es de cada estudante, a plataforma se torna um “assistente” do professor. “Ele permite trilhas diferentes de exercício. Assim, o aluno que está mais avançado não fica entediado de fazer algo que para ele é simples; nem desestimul­a quem tem dificuldad­e.”

“Conseguimo­s saber em tempo real se (os alunos) estão aprendendo, para não deixar que a dificuldad­e se arraste pelos próximos anos.” Marcelo Milani

COORDENADO­R DO COLÉGIO HUMBOLDT

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FELIPE RAU/ESTADÃO Maria Imaculada. Colégio buscou instrument­o que identifica­sse o desenvolvi­mento das crianças em fase de alfabetiza­ção

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