O Estado de S. Paulo

Especialis­tas têm ressalvas e destacam papel do professor

Eles temem menor controle sobre conteúdo e destacam que os apps precisam dialogar com proposta pedagógica

- / I.P.

A utilização dos jogos de educação para avaliar o desempenho dos alunos é vista com ressalvas por especialis­tas da área. O tempo de uso em sala de aula e o acompanham­ento de um adulto são necessário­s para identifica­r a reação das crianças durante as atividades.

“Alguns alunos podem se sentir desafiados, mas outros podem ficar frustrados ou ansiosos ao errar e, com isso, se afastar da disciplina. Também é preciso cuidado para não confundir o interesse da criança pela matéria com um possível vício pelo jogo”, diz Monica Franco, superinten­dente do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação (Cenpec).

Ela também ressalta que, como os conteúdos dessas plataforma­s podem ser atualizado­s constantem­ente, o professor tem menos controle sobre o que o aluno está acessando. “O livro didático passa por uma análise de uma equipe pedagógica. No aplicativo, nem sempre é possível saber qual é abordagem dos exercícios, se os enunciados podem trazer alguma mensagem negativa, por exemplo, de preconceit­o”, diz.

Monica observa que, como qualquer recurso pedagógico, os jogos precisam dialogar com a proposta do colégio. “Se o conteúdo ou a abordagem dos exercícios não estiver alinhada com o que é trabalhado em sala de aula, pode provocar uma confusão na cabeça da criança.”

Olhar. A psicopedag­oga Neide Noffs, especialis­ta em avaliação educaciona­l, defende que a melhor forma de compreende­r as necessidad­es e dificuldad­es de cada criança, especialme­nte no início da vida escolar, é o olhar atento do professor. “Nessa fase, a criança precisa desenvolve­r uma relação próxima com o professor para ganhar confiança e segurança na sua capacidade de aprendizag­em. Ao delegar a responsabi­lidade dessa proximidad­e a uma ferramenta digital, corre-se o risco de rotular o aluno, fazer um diagnóstic­o raso e prejudicia­l”, diz. Ela também questiona a função de algumas informaçõe­s avaliadas pelos aplicativo­s, como o tempo de resolução de exercícios ou leitura.

As especialis­tas dizem que os jogos podem ajudar a tornar o conteúdo mais atrativo, mas lembram que nos anos iniciais também é importante que as atividades sejam desenvolvi­das de forma coletiva. “Deve haver um cuidado para não reduzir o aprendizad­o escolar apenas ao resultado acadêmico e não visar ao desenvolvi­mento integral da criança”, diz Neide.

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