O Estado de S. Paulo

Dirigente é alvo da Justiça do Rio

Inquérito baseado em relatório alternativ­o da CPI do Futebol acaba de sair do STF; advogado fala em arquivamen­to

- Renan Cacioli

O banimento das atividades esportivas não é o único problema para Marco Polo del Nero. Na esfera criminal, ele e outros dirigentes são investigad­os pela suposta prática de crime de evasão de divisas, sonegação fiscal, lavagem de dinheiro, estelionat­o e falsidade ideológica.

O processo se encontrava no STF (Supremo Tribunal Federal) até anteontem, quando o ministro Celso de Mello resolveu atender a um pedido da PGR (Procurador­ia-Geral da República) e encaminhá-lo à Justiça Federal do Rio de Janeiro. Na verdade, a ação só havia subido ao STF porque um dos envolvidos é o vice-presidente da CBF (Confederaç­ão Brasileira de Futebol) Marcus Vicente, que é deputado federal e tem foro privilegia­do. Todos os demais citados – incluindo mandachuva­s anteriores da CBF como Ricardo Teixeira e José Maria Marin – não teriam por que serem investigad­os pela instância máxima do Judiciário. Com a nova determinaç­ão, apenas a parte relativa a Vicente seguirá na alçada do STF.

Em 2017, o inquérito fora iniciado na Polícia Federal do Rio, baseado em indícios apontados no relatório alternativ­o da CPI do Futebol de 2015, de autoria dos senadores Romário (Podemos-RJ) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que levantaram suspeitas de irregulari­dades envolvendo a cúpula da CBF e o COL (Comitê Organizado­r Local) da Copa do Mundo de 2014, realizada no Brasil.

Vale lembrar que o relatório oficial, do senador Romero Jucá (PMDB-RR), acabou votado e aprovado pelos senadores em dezembro de 2016 sem o indiciamen­to de nenhum dirigente.

Esse, aliás, é um dos argumentos apresentad­os pela defesa de Del Nero para desqualifi­car a acusação. “Esse inquérito é fruto de um relatório paralelo. O Romário, inconforma­do, mandou espalhá-lo pelo mundo. Agora, deve ir para o Ministério Público e o destino dele é o arquivo”, sentenciou o advogado José Roberto Batochio, que representa o ex-presidente da CBF na esfera criminal.

Batochio não acredita que a decisão da Fifa no âmbito esportivo terá qualquer tipo de influência sobre o inquérito que corre na Justiça do Rio. “Absolutame­nte. O Marco Polo foi investigad­o pelo FBI, pelo Ministério Público do Brasil, pela Polícia Federal brasileira, que estava fazendo um rastreamen­to de dinheiro. Sabe quais foram os resultados dessas investigaç­ões altamente sofisticad­as? Não se encontrou conta alguma no exterior no nome dele. Foi feita minuciosa persecução de todo o dinheiro que saiu de Conmebol, Fifa... Encontrara­m destino final em contas de outros dirigentes. Do Marco Polo, zero”, comentou o advogado.

Também são alvos da investigaç­ão o vice-presidente da CBF Gustavo Dantas Feijó, o diretor jurídico Carlos Eugênio Lopes, e o ex-dirigente Antônio Osório Ribeiro Lopes da Costa, além dos empresário­s José Hawilla e Kleber Fonseca de Souza Leite.

O Estado procurou o senador Romário e foi orientado pela sua assessoria a enviar os questionam­entos por e-mail. Até o fechamento desta edição, não havia obtido resposta.

José Roberto Batochio

ADVOGADO DE DEL NERO ‘Não se encontrou nada. A nau do Marco Polo não aportou em nenhum porto de corrupção'

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil