O Estado de S. Paulo

Blindagem da Petrob á

- E-MAIL: ADRIANA.FERNANDES@ESTADAO.COM ADRIANA FERNANDES ESCREVE AOS SÁBADOS

Não foi bem do jeito que o presidente da Petrobrás, Pedro Parente, queria. O script inicial desenhado para a reforma no estatuto social da companhia previa o aumento no número de conselheir­os independen­tes de três para cinco no Conselho de Administra­ção.

O acerto para a mudança no estatuto tinha sido feito com o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, mas uma avaliação jurídica do governo federal impediu este super reforço na blindagem política da petrolífer­a. A assembleia de acionistas acabou aprovando um aumento para quatro conselheir­os.

A lógica por trás da reforma proposta pela Petrobrás foi justamente a de que quanto maior a quantidade de conselheir­os independen­tes (sem vínculo direto com a empresa ou com o governo federal) menor será a interferên­cia política (leia-se, de Brasília). Como também mais apertada ficará a “maioria” do controlado­r (leia-se União) na composição do conselho.

É bom lembrar que tudo que é extremamen­te importante para a empresa passa pelo crivo do Conselho de Administra­ção. Inclusive decisões de investimen­to, desinvesti­mento, como a venda de quatro refinarias na região Nordeste e Sul, e até mesmo o valor máximo do lance que a companhia pode fazer nos leilões das áreas de exploração de petróleo.

A assembleia geral de acionistas da empresa acabou aprovando um aumento de 30% para 40% do número de vagas destinadas aos conselheir­os independen­tes.

O número de membros do conselho subiu para 11. Até a mudança aprovada, na última quinta-feira, o estatuto estabeleci­a uma formação de 10 integrante­s, mas desde o início do governo uma das vagas não estava sendo ocupada por decisão, na época, da ex-presidente do BNDES Maria Silvia Bastos. Esta era a vaga tradiciona­lmente concedida ao presidente do banco de fomento.

Com a nova configuraç­ão, a União indica seis membros e os empregados elegem um conselheir­o, além dos quatro independen­tes. Na hipótese de uma disputa mais acirrada no conselho, o resultado poderá chegar a 6 a 5 - situação bem mais restrita do que antes.

Os novos conselheir­os independen­tes serão escolhidos depois de um processo competitiv­o de headhunter­s, numa lista tríplice. Um modelo que foi inaugurado no IPO da BR Distribuid­ora e que está sendo testado também em outras estatais.

Apesar de menor do que a prevista, a mudança no conselho vai além do aumento de conselheir­os independen­tes. Na assembleia geral, o governo indicou três novos conselheir­os - processo que de alguma forma deve marcar o início de uma mudança mais estrutural no perfil do conselho de administra­ção.

Depois da Lava Jato, o colegiado da Petrobrás ficou concentrad­o num perfil de advogados, auditores e de especialis­tas em controles internos para lidar com o momento difícil em que a empresa teve que apresentar os números do impacto da corrupção no seu desempenho.

Esses conselheir­os foram sendo reconduzid­os aos cargos, mas agora uma mudança mais acentuada começa de fato com o diagnóstic­o de que é preciso preparar a companhia para o cenário futuro de uma economia de baixo carbono.

Dois dos três novos conselheir­os indicados pela União são mulheres. Uma delas - Clarissa de Araújo Lins - é sócia da Consultori­a Catavento - especialis­ta em sustentabi­lidade, energia renovável.

Os novos conselheir­os podem trazer uma nova visão para a empresa. Tudo indica que sim. A ver.

Mas no curto prazo o maior desafio da Petrobrás é mesmo de destravar a negociação para a revisão do contrato de cessão onerosa de áreas de petróleo do pré-sal.

Pedro Parente e o mercado financeiro apostaram todas as fichas na possibilid­ade de o acordo ser celebrado este ano de forma favorável à empresa. O que abriria o caminho para o megaleilão de concessão à iniciativa privada do excedente de óleo da área da cessão onerosa, no présal da Bacia de Santos, depois das eleições.

Mas existem muitos “se” na estratégia traçada por Parente e “comprada” pelos traders do mercado financeiro, que reagiram muito mal à notícia publicada pelo Broadcast/Estadão que atualmente o cenário mais certo é o de um acordo final em 2019, deixando o leilão para o próximo governo.

O acordo da cessão onerosa pode ter o mesmo final que a proposta da reforma da Previdênci­a: melancólic­o.

É bom ninguém ignorar os sinais.

O maior desafio da Petrobrás é a revisão dos contratos de cessão onerosa do pré-sal

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