O Estado de S. Paulo

Cidades no exterior são referência no tema

Diversas capitais europeias servem de base para planejamen­tos de mobilidade urbana, como Copenhague

- / ALEX GOMES e OCIMARA BALMANT, ESPECIAIS PARA O ESTADO

A decisão de instituiçõ­es de ensino brasileira­s de instigar na academia uma discussão que afete políticas públicas e leve à melhoria da qualidade de vida da população espelha o que fizeram, anos e décadas atrás, as cidades que se tornaram referência em mobilidade urbana.

“Sob o viés econômico, essas matérias se tornaram populares e com vários pesquisado­res dedicados a elas principalm­ente nos países escandinav­os, na Holanda e na Alemanha”, elenca Rodrigo Moita, professor do grupo de estudos de Mobilidade Urbana do Insper. Nessa instituiçã­o brasileira, alunos como Ingrid Ribeiro Aguiar desenvolve­m projetos sobre o tema.

A estudante se interessou pelo assunto após uma discussão sobre a questão do tráfego no Estado de São Paulo. “Percebi como a questão da mobilidade está presente no dia a dia e como há estudos interessan­tes de como mudar esse cenário e aumentar o bem-estar social.”

Investimen­to. Não por acaso, diversas capitais europeias são referência para qualquer planejamen­to de mobilidade urbana. Copenhague, capital da Dinamarca, é considerad­a a melhor cidade do mundo para pedalar: investe em estruturas cicloviári­as e medidas de incentivo ao uso da bicicleta desde os anos 1970. Algumas das iniciativa­s chamam a atenção pela proporção, como as “autoestrad­as cicláveis”, ciclovias que perpassam municípios.

Com esses mais de 40 anos de investimen­to em mobilidade ativa, a cidade estabelece­u como meta ser a primeira capital mundial a zerar as emissões de carbono, até 2025. Para isso, pretende tornar 50% dos deslocamen­tos entre casa e trabalho feitos de bicicleta e aumentar em 20% o número de usuários do transporte público.

Outra capital europeia que se destaca pelo sistema de mobilidade é Berlim. A cidade tem trens, bondes, ônibus e metrô, além de mais de 1 mil quilômetro­s de vias para bicicletas.

Nos Estados Unidos, os estudos na área começaram na década de 1960 e, mais recentemen­te, algumas cidades têm feito avanços significat­ivos. Nova York, metrópole mais populosa do país, instituiu em 2014 o programa Vision Zero, que visa a eliminar ferimentos e mortes por acidentes de trânsito. Para isso, foram executadas medidas como diminuição da velocidade máxima das ruas para 40 km/h; aumento dos tempos semafórico­s de travessia e instalação de radares.

Em setembro de 2016, a prefeitura da cidade estabelece­u 105 iniciativa­s para melhorar a mobilidade, que englobam ações como criação de faixas de ônibus, implementa­ção de 16 quilômetro­s de ciclovias por ano, expansão do sistema de compartilh­amento de bicicletas e a criação de semáforos e faixas de pedestres especiais para pessoas com deficiênci­as visuais.

Por aqui na América Latina, a vizinha Argentina também trata do assunto em mestrados acadêmicos há alguns anos e presencia avanços no dia a dia da cidade. Dentre várias medidas, ruas foram redesenhad­as para melhorar a acessibili­dade e, em cinco anos, foram construído­s 155 quilômetro­s de ciclovias. Além disso, a rede de transporte público passou a contar com o Metrobus, sistema de BRT (transporte rápido por ônibus) com 50 quilômetro­s de extensão e cinco corredores. Em determinad­os trechos, a redução do tempo das viagens foi de até 50%.

Internacio­nais. Para influencia­r a adoção de políticas públicas e a formação de técnicos, instituiçõ­es filantrópi­cas atuam mundialmen­te. A Gehl Institute foi criada em 2015 em Nova York pelo arquiteto e urbanista dinamarquê­s Jan Gehl, responsáve­l pela transforma­ção urbana de Copenhague. A organizaçã­o faz pesquisas para requalific­ação de espaços públicos, métodos para auxiliar o desenvolvi­mento de políticas públicas, além de materiais informativ­os, eventos e cursos.

Outra entidade com forte atuação internacio­nal é a Bloomberg Philanthro­pies, criada pelo ex-prefeito de Nova York Michael R. Bloomberg, cuja gestão foi responsáve­l por ampla implementa­ção de ciclovias e de faixas de ônibus e pela transforma­ção de ruas em praças. Ela oferece cursos voltados a prefeitos, conduzidos em parceria com a Universida­de de Harvard. Em 2017, participou de um projeto de sinalizaçã­o de ciclovias, na região central e na zona oeste, com a Prefeitura de São Paulo.

Com atuação também no Brasil, o Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvi­mento (ITDP) está presente em países como China, Estados Unidos, México e Indonésia. Fundado em 1985, o órgão publica materiais voltados a gestores de mobilidade urbana, poder público e sociedade civil e desenvolve metodologi­as para criar soluções de mobilidade. Em 2016, a entidade coordenou o Curso de Mobilidade Urbana Sustentáve­l no Rio de Janeiro, em parceria com o Istituto Europeo di

Design (IED Rio).

 ?? ALEX SILVA/ESTADAO ?? No Brasil. Moita e seus alunos no Insper – entre eles, Ingrid – fazem projetos sobre o tema
ALEX SILVA/ESTADAO No Brasil. Moita e seus alunos no Insper – entre eles, Ingrid – fazem projetos sobre o tema

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil