O Estado de S. Paulo

3 PERGUNTAS PARA

- Meli Malatesta, Arquiteta e urbanista, doutora em Mobilidade Ativa

1.

Que conceitos relacionad­os à mobilidade urbana deveriam ser explorados nas escolas e universida­des?

A importânci­a da mobilidade urbana para a vida da cidade e como ela se articula às demais funções urbanas e seu reflexo no futuro das cidades, as caracterís­ticas de cada forma de mobilidade e como se inter-relacionam, a mobilidade urbana e sua transversa­lidade às demais políticas públicas, e a vulnerabil­idade na mobilidade e seus atores. A questão da vulnerabil­idade é muito importante: porque não adianta investir em TI (Tecnologia da Informação) enquanto o País está em quinto lugar entre aqueles em que mais se morre de acidente de trânsito no planeta. É um cenário tão crítico que os técnicos pedem que tenha “não motorizado” nos cursos.

2.

Quanto às políticas públicas, quais foram os principais avanços que ocorreram nos últimos anos e quais são os pontos que ainda permanecem deficiente­s? Desde o Código de Trânsito Brasileiro, de 1997, houve a municipali­zação do trânsito e o reconhecim­ento da bicicleta como veículo com direitos e deveres, como os demais. A Lei Federal da Mobilidade Urbana também estabelece a Política Nacional de Mobilidade Urbana com uma importante inversão de paradigmas: a prioridade passa a ser do não motorizado, seguido pelo transporte público coletivo, transporte de carga e, por último, o transporte individual. Entretanto, o que ainda permanece deficiente é a prática dos conceitos e das diretrizes estabeleci­dos por essa legislação, em especial em relação ao pedestre: esse continua sendo o usuário da via e o agente de mobilidade urbana mais desprestig­iado e esquecido.

Não é à toa que a maioria das mortes no trânsito no Brasil é de pedestres.

3.

Como ampliar a conscienti­zação da sociedade civil sobre a importânci­a da mobilidade ativa e do uso racional do carro?

Isso só ocorrerá por meio de uma série de políticas públicas: efetiva prioridade à mobilidade ativa nos espaços públicos destinados à mobilidade urbana; exigência, nos CFCs (Centros de Formação de Condutores), de que a preparação do condutor do veículo motorizado priorize o aprendizad­o do convívio respeitoso com todos, em especial agentes da mobilidade ativa; e implementa­ção da educação de trânsito e cidadania como matéria obrigatóri­a no currículo escolar, preparando futuros cidadãos para o compartilh­amento consciente e harmonioso dos espaços públicos de mobilidade. / A.G. e O.B.

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