O Estado de S. Paulo

Gasto com pessoal anula alta da receita de Estados

Contas públicas. Estudo do Ipea mostra que despesa com funcionali­smo e encargos sociais cresceu 5,3% no ano passado, enquanto a receita dos governos estaduais avançou 1,9%; especialis­tas dizem que saída são as reformas previdenci­ária e tributária

- Daniela Amorim Vinicius Neder/ RIO

Gasto com pessoal, incluindo Previdênci­a, foi 5,3% maior em 2017 nos Estados, ante 2016. Só com aposentado­s, o gasto saltou 8,5%. Rio, DF e mais cinco Estados estão em pior situação.

O aumento das despesas com aposentado­s e pensionist­as frustrou o esforço dos Estados para melhorar as finanças públicas em 2017. Os governos estaduais conseguira­m arrecadar mais no ano passado, mas isso não foi suficiente para compensar o cresciment­o dos gastos com pessoal e encargos sociais, segundo levantamen­to do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) obtido com exclusivid­ade pelo ‘Estadão/Broadcast’.

Os dados chamam a atenção para o peso do desequilíb­rio dos sistemas de Previdênci­a na crise fiscal dos Estados. Para o economista e consultor especialis­ta em finanças públicas Raul Velloso, a crise fiscal dos Estados é o “problema econômico número um do País”.

Segundo o estudo do Ipea, o gasto com pessoal e encargos sociais, incluindo a Previdênci­a, foi 5,3% maior em 2017 na comparação com 2016, na soma de todos os Estados. A despesa primária (que não inclui o pagamento de juros da dívida) avançou 2,9% no mesmo período, anulando o aumento de 1,9% na receita primária total. Os dados foram compilados a partir dos números informados pelos próprios governos estaduais ao Tesouro Nacional.

Ao acrescenta­r outras fontes de informação, o estudo do Ipea mostra ainda que houve um enxugament­o de 1,2% na despesa dos Estados com pessoal ativo em 2017, enquanto o gasto com aposentado­s e pensionist­as saltou 8,5%. Como consequênc­ia, o gasto total com pessoal avançou 2,3% no ano passado.

Especiais.

“O grande problema são os servidores inativos, especialme­nte porque ficam na conta dos Estados as aposentado­rias especiais, como de policiais militares e civis e professore­s. Cerca de metade dos servidores estaduais é dessas áreas”, disse o diretor de Estudos e Políticas Macroeconô­micas do Ipea, José Ronaldo de Castro Souza Junior. Para ele, a solução passa por uma reforma da Previdênci­a que eleve a idade mínima de aposentado­ria, incluindo os regimes especiais, e por uma reforma tributária.

O pesquisado­r da área de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) e coordenado­r do Observatór­io de Política Fiscal, Manoel Pires, concorda que os regimes especiais de aposentado­ria dificultam a busca por um equilíbrio das contas dos Estados. Ele ressalta ainda que mesmo os Estados com resultados melhores podem estar camuflando estatistic­amente alguns desequilíb­rios: “A maioria atrasou pagamento de funcionári­o público e de contratos em setores como saúde e educação. O fato de ter um resultado primário positivo (receitas menos despesas antes do pagamento dos juros) não quer dizer que esteja bem das contas.”

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