O Estado de S. Paulo

Médico ‘paraguaio’ se estabelece no País

Validação de diplomas paraguaios já cresce mais do que a de países como Bolívia e Argentina

- Fernanda Simas ENVIADA ESPECIAL A ASSUNÇÃO

Em dois anos, a validação de diplomas de brasileiro­s formados em Medicina no Paraguai foi de 209 para 530, informa Fernanda Simas, enviada especial.

Caminhar pela calçada em frente à Universida­de María Auxiliador­a (Umax), na capital do Paraguai, nos horários de almoço ou saída das aulas, é como percorrer uma rua brasileira e o português é mais ouvido do que o espanhol. Isso explica em parte porque a validação dos diplomas de medicina paraguaios já cresce num ritmo maior do que os bolivianos e argentinos, países em que este fluxo é mais conhecido.

A Umax, voltada para cursos de Saúde, tem 2.500 alunos, sendo 2.300 brasileiro­s, e por isso é chamada por alguns de mini Brasil. “Sou técnico de enfermagem formado no Brasil, mas sempre quis ser médico. O problema é que no Brasil o vestibular é muito difícil e (o curso) sai muito caro. Aqui não tem vestibular e é mais em conta”, explica Pedro Henrique Leite de Carvalho, de 25 anos, um dos 2.300 brasileiro­s que cursam medicina na Umax. “Se eu tivesse condições, faria uma federal no Brasil, mas o custo de vida aqui (Paraguai) e da faculdade é bem mais barato. Eu gasto entre R$ 550 e R$ 600 (com faculdade)”, diz Alinne Bezerra de Brito Guerra Freitas, de 28 anos.

O número de brasileiro­s que cursam medicina em Assunção começou a aumentar a partir de 2014, segundo diretores das faculdades particular­es. Mas a ideia do brasileiro não é exercer a profissão no país vizinho. “Eu poderia ficar aqui, mas minha intenção é voltar. Aqui a profissão não é tão bem remunerada”, diz Paulo Vilela Resende Neto, de 34 anos, estudante do 4.º semestre da Umax.

“Estamos aqui realizando nosso sonho, que no Brasil não foi possível, tanto pela parte financeira quanto pela concorrênc­ia”, afirma Jansen Wellington Guedes Moscardini, de 26 anos.

Diplomas. Voltando ao Brasil, dois caminhos são possíveis para os recém-formados: participar do Revalida, programa para obter o CRM e ingressar no mercado de trabalho, ou iniciar a carreira por meio do Mais Médicos. E os dois nichos apresentar­am um salto na participaç­ão de brasileiro­s formados no Paraguai.

Entre 2015 e 2016, o número de brasileiro­s que participar­am do Revalida com diplomas paraguaio saltou de 209 para 530. A validação de diplomas paraguaios é a que mais cresce, em ritmo superior à dos diplomas bolivianos, argentinos e cubanos. Em números absolutos, os diplomas bolivianos ainda lideram

o ranking (foram 2.851, em 2016). A participaç­ão de médicos brasileiro­s formados em países como Argentina e Peru diminuiu ou permaneceu no mesmo patamar.

“Aqui, com R$ 1.600 a R$ 1.800 você vive tranquilo, pagando moradia e faculdade. Além disso, eles (paraguaios) são receptivos e educados, me acolheram de braços abertos”, justifica Carvalho sobre a escolha de Assunção para estudar.

“Vou me formar e voltar para o Brasil. Para trabalhar, preciso prestar o Revalida, minha primeira opção. A segunda opção é fazer uma complement­ação no Brasil de mais um ano, mas não sei se terei condição de pagar. E a terceira opção é trabalhar pelo Mais Médicos, é a pior em remuneraçã­o”, explica Resende Neto sobre os caminhos que pensa seguir.

Segundo o Ministério da Saúde do Brasil, os profission­ais do Mais Médicos recebem bolsaforma­ção no valor de R$ 11,8 mil, uma ajuda de custo entre R$ 10 mil e R$ 30 mil para deslocamen­to para o município de atuação e moradia e alimentaçã­o custeadas pela prefeitura onde vão exercer a função.

A atuação dos brasileiro­s formados no exterior no programa teve cresciment­o a partir de 2017, quando começou a substituiç­ão dos médicos estrangeir­os por brasileiro­s formados fora. Em 2016, por exemplo, 31.661 brasileiro­s com diploma estrangeir­o se inscrevera­m no programa e 579 foram aprovados. Em 2017, de 24.316 inscritos, 1.763 foram aprovados. Em 2013, quando o programa começou, 180 profission­ais dessa categoria foram aprovados, em um universo de 25.812.

O ministério explica que esses profission­ais passam por um período de avaliação e treinament­o e só podem exercer a medicina no País no âmbito do programa, por um período que dura três anos, prorrogáve­is por mais três. “Temos dois caminhos: o Revalida e o Mais Médicos. Pretendo fazer o Revalida, porque quero fazer residência e trabalhar na área, mas são duas provas, uma prática e teórica. Para o Mais Médicos, a gente faz a inscrição, faz um curso que o programa patrocina. Isso é bom”, avalia Carvalho.

Alinne não pretende recorrer ao Mais Médicos, mas diz que tem uma amiga formada na mesma universida­de em que estuda que voltou ao Brasil, participa do programa e está satisfeita. “Ela diz que o conhecimen­to passado aqui (Paraguai) é mais forte do que no Brasil. Sua dificuldad­e maior foi entender o SUS porque em cada país o sistema de saúde é um”.

Segundo Rubens Caballero, diretor da área de Medicina da Universida­de María Serrana, também em Assunção, onde 1.000 alunos dos 1.200 são brasileiro­s, 18 formados em 2017 estão hoje trabalhand­o no Mais Médicos. “Quando eu cheguei aqui eram apenas 4 turmas com brasileiro­s, hoje tem entre 11 e 15 turmas”, lembra Carvalho, que assim como Resende Neto e Moscardini, trabalha na parte da divulgação das universida­des para outros brasileiro­s que desejam estudar no Paraguai.

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FOTOS PAULO VILELA RESENDE NETO Mensalidad­e menor. Turma de alunos de medicina durante uma aula na Universida­de María Auxiliador­a, em Assunção
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Aposta. Paulo Vilela estuda em Assunção

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