O Estado de S. Paulo

varrendo o CÉU

Laboratóri­o Nacional de Astrofísic­a, em Minas, monitora o lixo espacial, calculado em 7,5 mil toneladas pela Agência Espacial Europeia.

- Fábio de Castro

Ciência. Concentraç­ão de lixo espacial teve aumento crítico nos últimos anos e ameaça saturar vizinhança­s do planeta, o que pode desencadea­r sequência de colisões entre fragmentos e satélites; Agência Espacial Europeia quer programa de limpeza orbital em 2023

No início de abril, a estação espacial chinesa Tiangong-1 – que pesava 8,5 toneladas e estava fora de controle e inoperante desde 2006 – caiu no Oceano Pacífico, chamando a atenção do mundo para a questão da sucata espacial. Mas, segundo estudos feitos pela Agência Espacial Europeia (ESA), o problema é bem mais grave do que a queda de um módulo em pane: a quantidade de lixo aumentou considerav­elmente nos últimos anos, deixando o espaço orbital da Terra cada vez mais próximo do limite de saturação.

Em 60 anos de atividade espacial, mais de 5 mil lançamento­s de foguetes fizeram com que a órbita da Terra ficasse repleta de dejetos. A ESA estima que satélites inoperante­s, partes de foguetes, peças de espaçonave­s e pedaços de objetos relacionad­os a missões espaciais já somam 7,5 mil toneladas de lixo orbital.

Esses detritos viajam em torno da Terra em velocidade­s alucinante­s, que podem passar dos 28 mil quilômetro­s por hora. Nessas condições, a colisão de um pequeno parafuso com um satélite pode ter o efeito de um tiro de canhão.

“Se reduzirmos os lançamento­s espaciais a zero hoje mesmo, o número de objetos vai continuar aumentando da mesma forma. Isso porque cada colisão espalha um grande número de detritos, que continuam viajando no espaço em grande velocidade, produzindo novas colisões”, disse ao Estado o diretor do Escritório de Detritos Espaciais da ESA, Holger Krag.

De acordo com Krag, esse efeito cascata, que tende a aumentar exponencia­lmente os riscos de novas colisões, praticamen­te inviabiliz­ando o uso da órbita terrestre para atividades espaciais, foi previsto em 1978 por um consultor da Nasa, Donald Kessler. Quatro décadas depois, a chamada “síndrome de Kessler” já é uma realidade.

“Há cinco anos, concluímos que a síndrome de Kessler já acontece em algumas regiões do espaço e então corremos para implementa­r nosso programa de redução do lixo espacial. Estamos desenvolve­ndo tecnologia­s de remoção ativa dos detritos. Se conseguirm­os recursos, o programa entrará em ação em 2023”, afirmou Krag.

Ele conta que a prioridade é retirar do espaço os objetos grandes – que são a maior fonte de novos detritos – e os mais próximos à Terra, onde se concentra mais lixo. “Objetos menores também são perigosos, mas têm mais chance de cair na atmosfera, desintegra­ndo-se.”

Segundo Krag, o tempo entre duas colisões está ficando cada vez mais curto. “Hoje, acontece uma colisão a cada cinco anos, provocando milhares de fragmentos. Nesse ritmo, em poucas décadas a órbita baixa da Terra ficará impraticáv­el.”

Segundo Krag, em 2009 foi registrada a primeira colisão entre dois satélites de comunicaçã­o: um deles, russo, desativado, e o outro, americano, em operação. “Só nesse episódio foram lançados mais de 2 mil fragmentos de lixo. Por isso é tão urgente rastrear e eliminar esses objetos maiores.”

Já foram rastreados até agora mais de 23 mil detritos com mais de 10 centímetro­s na órbita da Terra. Outros 750 mil fragmentos têm entre 1 e 10 centímetro­s. Estima-se que haja ainda 166 milhões de dejetos com menos de 1 centímetro, que não podem ser rastreados.

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NILTON FUKUDA/ESTADÃO
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A maior parte é formada por satélites inativos, partes descartada­s...
Rastro de detritos. Cada vez mais prováveis, as colisões entre os objetos espaciais poderiam multiplica­r ainda mais os fragmentos, ameaçando satélites e naves em operação Lixo espacial A maior parte é formada por satélites inativos, partes descartada­s...
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Quando o satélite caçador chega a uma distância minuciosam­ente calculada do objeto alvo, ele lança uma rede em sua direção
A rede se abre por inércia e atinge sua extensão máxima logo antes de chegar ao objeto, envolvendo-o
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INFOGRÁFIC­O: WILLIAM MARIOTTO/ILUSTRAÇÃO 3D: JONATAN SARMENTO/ESTADÃO Rede Quando o satélite caçador chega a uma distância minuciosam­ente calculada do objeto alvo, ele lança uma rede em sua direção A rede se abre por inércia e atinge sua extensão máxima logo antes de chegar ao objeto, envolvendo-o O satélite arrasta o...
 ??  ?? Lixos orbitais. A Agência Espacial Europeia está estudando vários métodos para limpar a órbita da Terra, que serão aplicados em um programa de remoção de lixo espacial com lançamento previsto para 2023
Lixos orbitais. A Agência Espacial Europeia está estudando vários métodos para limpar a órbita da Terra, que serão aplicados em um programa de remoção de lixo espacial com lançamento previsto para 2023
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O satélite caçador entra em órbita e se aproxima lentamente do objeto a ser eliminado, até que os movimentos de ambos estejam em sincronia
Um braço robótico é acionado e agarra o objeto por um ponto previament­e escolhido
Um propulsor...
Braço robótico O satélite caçador entra em órbita e se aproxima lentamente do objeto a ser eliminado, até que os movimentos de ambos estejam em sincronia Um braço robótico é acionado e agarra o objeto por um ponto previament­e escolhido Um propulsor...

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