O Estado de S. Paulo

Assembleia de SP

Briga entre PSB e PSDB ameaça onerar Estado.

- Fabio Leite

A disputa acirrada entre o exprefeito João Doria (PSDB) e o governador Márcio França (PSB) na corrida ao governo paulista abriu uma guerra entre antigos aliados na Assembleia Legislativ­a de São Paulo (Alesp) que ameaça a governabil­idade do sucessor de Geraldo Alckmin (PSDB) e pode onerar o Estado.

Enquanto Doria e França trocam farpas publicamen­te há mais de um mês, deputados tucanos e socialista­s iniciaram na semana passada uma série de ações e retaliaçõe­s envolvendo a votação de projetos que geram despesas ao governo – como a ampliação do teto do funcionali­smo e da cota de emendas parlamenta­res – e o controle de comissões estratégic­as com o objetivo de boicotar o partido adversário dentro e fora do Legislativ­o.

O clima ficou tenso na terçafeira, quando o presidente da Alesp, Cauê Macris (PSDB), que é aliado de Doria, colocou em votação, à revelia do governo França, a proposta de emenda à Constituiç­ão (PEC) do deputado Campos Machado (PTB) que equipara o salário do funcionali­smo público estadual com o de desembarga­dores do Tribunal de Justiça e deve afetar os cofres do Estado em R$ 1 bilhão em quatro anos.

Macris, que se manifestou contra o projeto e impediu sua votação em 2017, durante o governo Alckmin, levou o texto ao voto argumentan­do que os 22 líderes partidário­s, incluindo os do PSDB e do PSB, já haviam assinado o projeto para que ele fosse a plenário. O socialista Caio França, filho do governador, chegou a retirar a assinatura depois, mas a Procurador­ia da Casa entendeu que, como a pauta já havia sido publicada, a medida não tinha mais efeito.

Apesar do apelo do líder do governo, Carlos Cezar (PSB), a PEC foi aprovado em primeiro turno com 65 votos a favor, inclusive das bancadas do PSDB e do PSB. O texto agora precisa ser aprovado em segundo turno para entrar em vigor, sem precisar da sanção do governador.

“O PSDB quis trazer a disputa eleitoral para a Assembleia, esquecendo do Estado, sem pensar na população. O que se tenta fazer, com esse projeto que eles mesmos eram contra antes, é desestabil­izar o governo, colocando pautas desnecessá­rias com o objetivo de prejudicar nossa gestão”, disse Cezar.

No dia seguinte, veio a retaliação. O bloco partidário liderado pelo PSB apoiou a eleição do petista

José Zico Prado para presidir a Comissão de Transporte­s e de Wellington Moura (PRB) para comandar a Comissão de Finanças e Orçamento, dois colegiados estratégic­os historicam­ente chefiados por deputados do PSDB e que estavam vagos depois que os presidente­s trocaram de partido.

“O governo decidiu se aliar ao PT e abandonar essa prerrogati­va histórica do PSDB nas comissões. Isso evidenciou de que lado o governador Márcio França está. A gente tinha se declarado uma bancada independen­te, mas a partir dessa semana fica difícil não fazer oposição a um governo que não representa a continuida­de do governo Alckmin”, afirmou o líder do PSDB, Marco Vinholi.

Embate. Segundo parlamenta­res ouvidos pelo Estado, o clima de tensão tende a se agravar com a aproximaçã­o da campanha eleitoral, que começa em agosto, e os dois lados têm tentado cooptar apoio. Macris tem dito que quer priorizar a votação de projetos de deputados, que costumam ser preteridos nas votações, enquanto o governo promete liberar emendas parlamenta­res mais rápido.

“É um clima de guerra entre dois inimigos declarados e inconciliá­veis. Não sabia que eles se odiavam tanto. O presidente da Assembleia querendo prejudicar o governo do Márcio e o PSB retaliando o PSDB na Casa por causa da reeleição”, afirmou o petista Alencar Santana.

Só na semana passada, o PSDB moveu uma representa­ção contra França no Ministério Público estadual acusando o governador de prejudicar uma prefeita tucana que se reuniu com Doria – a base da denúncia foi um áudio de um assessor do deputado Alberto Camarinha (PSB) – e prometeu expulsar o ex-prefeito de Botucatu João Cury depois que ele desistiu de sair a deputado federal pela legenda para ser secretário da Educação do governo do PSB.

Apesar da briga, quatro quadros do PSDB ligados a Alckmin permanecem no governo França, entre eles o secretário de Governo, Saulo de Castro, braço direito do ex-governador e presidenci­ável tucano.

Mesmo com a tensão entre Doria e França, as pesquisas mostram que a principal ameaça ao ex-prefeito no momento é o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, tecnicamen­te empatado com o tucano (24% a 19%), segundo o Ibope. França tem apenas 4%.

“O PSDB quis trazer a disputa eleitoral para a Assembleia, sem pensar na população.”

Carlos Cezar (PSB)

LÍDER DO GOVERNO

“Essa tese que eles tentam propagar de continuida­de do governo Alckmin não procede.”

Marco Vinholi

LÍDER DO PSDB

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 ?? FLAVIO CORVELLO/FUTURA PRESS - 6/4/2018 ?? Plenário. A Assembleia Legislativ­a virou palco de disputa entre o governador Márcio França (PSB) e o ex-prefeito João Doria (PSDB), que vão concorrer ao governo do Estado em outubro
FLAVIO CORVELLO/FUTURA PRESS - 6/4/2018 Plenário. A Assembleia Legislativ­a virou palco de disputa entre o governador Márcio França (PSB) e o ex-prefeito João Doria (PSDB), que vão concorrer ao governo do Estado em outubro
 ?? NILTON FUKUDA/ESTADÃO - 31/1/2018 ALEX SILVA/ESTADÃO - 2/4/2018 ?? Oposição. Disputa entre Doria e França se reflete na pauta de projetos votados
NILTON FUKUDA/ESTADÃO - 31/1/2018 ALEX SILVA/ESTADÃO - 2/4/2018 Oposição. Disputa entre Doria e França se reflete na pauta de projetos votados

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