O Estado de S. Paulo

O fatortempo

- VERA MAGALHÃES E-MAIL: VERA.MAGALHAES@ESTADAO.COM TWITTER: @VERAMAGALH­AES POLITICA.ESTADAO.COM.BR/BLOGS/VERA-MAGALHAES/

Com a autoestima em baixa desde que a Lava Jato dificultou sobremanei­ra sua vida, os políticos empurraram o calendário eleitoral lá para a frente, depois da Copa.

As convenções acontecem de 20 de julho a 5 de agosto. A propaganda em material impresso e nos palanques, em 16 de agosto. O horário eleitoral em rádio e TV, só no dia 31 de agosto! E a cobertura diária da Rede Globo, pela qual os candidatos se engalfinha­m, só em 20 de agosto.

A concentraç­ão da campanha em 45 dias leva os partidos e candidatos a raciocinar­em que têm tempo de sobra. Fazem a analogia com os 42 km da maratona, como propôs Fernando Henrique Cardoso.

Iludidos pela areia que cai devagar da ampulheta, nomes sem qualquer traço de viabilidad­e eleitoral desfilam por aí, discursam, viajam, prometem e gastam um dinheiro que é artigo de luxo (ao menos o legal) numa campanha em que as torneiras do financiame­nto empresaria­l foram fechadas.

O que pretendem? Muitos operam segundo a lógica que sempre prevaleceu em eleições: quanto mais exposição, mais aumenta o cacife para negociar uma aliança favorável para si e seu partido, nacionalme­nte e nos Estados.

O calendário, essas estratégia­s, todo o blablablá enfadonho de uma pré-campanha que, essa sim, ficou loooooooon­ga demais, levam em conta os interesses dos políticos, não o do eleitor.

Esse, coitado, olha todo o dia para a gôndola de opções e não tem apetite de pegar nenhuma. Variando dos sabores picolé de chuchu a chilli com jalapeño, os candidatos modulam suas falas sem dizer de fato o que pretendem e por que postulam a Presidênci­a num momento tão dramático para o Brasil, às voltas com o fim de uma crise econômica cujos efeitos ainda estão longe de terem sido superados, um impasse institucio­nal que traz imensa inseguranç­a jurídica e a necessidad­e de reformas amargas que ninguém ousa defender com todas as letras.

Até agosto, como estará o humor desse eleitor com o balé desconjunt­ado dos não candidatos e sua costura de alianças segundo a lógica pré-Lava Jato? E em que pé estará a própria Lava Jato?

São variáveis que foram proposital ou inadvertid­amente deixadas de fora do cálculo da tática e da folhinha de 2018.

Pode ser que, quando os supostos maratonist­as resolverem começar a dar o sprint para chegar entre os primeiros colocados, aquele corredor para o qual ninguém deu muita bola tenha imposto uma dianteira difícil de alcançar.

Essa é uma possibilid­ade que caciques eleitorais e candidatos de grandes partidos teimam em desprezar. Por ser um tema que realmente me intriga, costumo testá-lo diariament­e em conversas com fontes à esquerda e à direita. E sempre aparece a mesma cantilena: quando chegar a hora de decisão de voto, vão prevalecer fatores como estrutura partidária, máquina, tempo de TV e alianças nos Estados.

Por essa lógica, nomes como Joaquim Barbosa e Jair Bolsonaro estariam fadados a desidratar. No caso do ex-presidente do STF, ainda há quem acredite (torça?) que ele nem vai conseguir ser candidato, uma vez que seu PSB estaria de tal forma atado a compromiss­os políticos aqui e ali que lhe negaria a legenda.

Esses dirigentes só não conseguem me explicar como a mágica vai ser operada se Barbosa chegar a mais de 10% na próxima rodada de pesquisas, algo bastante plausível, dados os seus índices nas últimas.

E como a construção ou desconstru­ção de atributos dos candidatos será feita com menos tempo de TV e menos grana. Aí é que surgem o risco de o caixa 2 e as fake news entrarem pesado na reta final, quando o calendário feito para ajudar os mesmos de sempre estiver sendo um fator de pressão sobre eles.

O eleitor que fique atento às voltas do relógio.

Campanha oficial começa em agosto, mas efeito do calendário tardio é incerto

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