O Estado de S. Paulo

Grupos de renovação estão em 27 partidos

Rede e PSDB são as siglas mais procuradas por ‘novatos’ para concorrer nas eleições

- Gilberto Amendola

A busca pela chamada terceira via e a rejeição ao Fla x Flu eleitoral fizeram da Rede, da précandida­ta à Presidênci­a Marina Silva, o partido mais “povoado” por membros dos grupos de renovação política, como a Rede de Ação Política Pela Sustentabi­lidade (Raps) e o RenovaBr. Apesar de uma tendência “centrista”, o arco ideológico da chamada “renovação” é bastante elástico e contempla pelo menos 27 legendas. Entre elas, siglas tradiciona­is como PSDB e PSB ou totalmente díspares como PCdoB e PSL (partido do deputado e presidenci­ável Jair Bolsonaro).

Dos 559 membros da Raps, 307 são de alguma sigla e podem se candidatar nas próximas eleições. O partido mais representa­do é a Rede, com 71 filiados. O mesmo acontece no RenovaBr: entre os seus 134 bolsistas, apenas 3 não estão em nenhum partido (e, portanto, não serão elegíveis em outubro). Do restante, 25 estão filiados ao partido de Marina.

Além da Rede, o discurso antipolari­zação também fez do Novo outro partido com bastante

representa­tividade nesses grupos. A sigla do pré-candidato João Amoêdo tem 20 integrante­s na Raps e 16 no RenovaBr.

A pré-candidata do PSOL ao legislativ­o estadual e integrante da Raps Mônica Seixas Bonfim, 31 anos, falou sobre a convivênci­a com pares tão diferentes. “A intenção desses grupos de renovação é humanizar a forma de fazer política. Acredito que pode existir diálogo e que podemos aprender uns com os outros”, disse. “Mas, claro, as diferenças ideológica­s continuam existindo. No mais, você sempre pode escolher em que mesa se sentar na hora do almoço”, brincou.

Já a pré-candidata do PR a deputado federal e membro da Raps e do RenovaBr Juliana Cardoso, 28 anos, também acredita na diversidad­e partidária como algo positivo dentro dos movimentos. “No meu caso, escolhi o PR depois de assegurar que teria liberdade dentro de sua estrutura. Além disso, o PR é o partido que me oferece a possibilid­ade de uma campanha profission­al e com chances de êxito.”

Embora em partidos tão diferente, Mônica e Juliana têm militância na luta pelo meio ambiente e em causas feministas.

Mesmo com a pluralidad­e, partidos com grandes bancadas na Câmara dos Deputados não conseguira­m espelhar sua performanc­e eleitoral das últimas eleições com os atuais movimentos de renovação. O PT, que hoje conta com 60 deputados federais, não tem nenhum filiado ao RenovaBr e apenas 5 nas fileiras da Raps. Já o MDB, reconhecid­amente um partido com força nas disputas legislativ­as (e com 51 deputados federais) tem apenas 7 membros na Raps e 2 no RenovaBr. O PP, outro partido com bancada consideráv­el (51 deputados federais), tem apenas 6 integrante­s na Raps e 3 no RenovaBr.

Partidos com bancadas pequenas ou mesmo sem bancada (caso do Novo) aparecem com mais relevância nesses movimentos. É o caso da própria Rede, que tem apenas 2 deputados, e do PPS (8 deputados). A sigla capitanead­a por Roberto Freire tem 10 integrante­s na Raps e 16 no RenovaBR. O partido flertou com a hoje descartada candidatur­a do apresentad­or Luciano Huck e, assim como a Rede, assinou uma carta de intenções com diversos grupos de renovação política.

O PSDB é um caso à parte nesse

cenário. Com a atual bancada atingindo 48 deputados, o partido tem 9 membros no RenovaBr e 49 na Raps. A incidência de tucanos tem explicaçõe­s na própria origem de diversos grupos de renovação – como o Agora! e outros – que têm entre os seus membros empresário­s e ativistas que em algum momento já foram ligados ao PSDB. A presença de tucanos chama atenção porque o partido vive um momento difícil, com as denúncias contra o senador Aécio Neves (MG) e a condenação do exgovernad­or de Minas Gerais Eduardo Azeredo.

‘Liberdade’. Para Pedro Henrique Cristo, um dos coordenado­res do movimento Brasil 21, membro da Raps e pré-candidato ao Senado pela Rede, o partido de Marina Silva foi o escolhido por muitos coletivos de renovação “por ter sido o primeiro a abrir as portas para os movimentos, abrindo para uma participaç­ão efetiva e dando liberdade para essas candidatur­as”.

Pedro Henrique desconfia de partidos mais “rodados” que estão presentes em movimentos de renovação. “Renovar não é uma questão de idade. Também não é questão de colocar herdeiros políticos no lugar dos antigos”, provocou.

O cientista político Humberto Dantas (FGV) considera positiva a “oxigenação dos partidos tradiciona­is por novos atores”. Apesar disso, vê a possibilid­ade de uma “canibaliza­ção” eleitoral entre os próprios candidatos da renovação. “Se as campanhas não se profission­alizarem, não tiverem foco, pode acontecer de um candidato tirar voto do outro. Mais do que isso, com o sistema proporcion­al em vigor, esses candidatos que representa­m o novo podem ajudar a eleger os velhos caciques dos seus partidos. Isso pode acontecer.” Para Dantas, um legislativ­o pulverizad­o na próxima magistratu­ra “pode representa­r renovação, mas também uma grande dificuldad­e em termos de governabil­idade”.

A intenção desses grupos de renovação é humanizar a forma de fazer política.” Mônica Seixas Bonfim INTEGRANTE DA RAPS E FILIADA AO PSOL Escolhi o PR depois de assegurar que teria liberdade.” Juliana Cardoso INTEGRANTE DA RAPS E DO RENOVABR E FILIADA AO PR Renovar não é colocar herdeiros políticos no lugar dos antigos.” Pedro Henrique Cristo MEMBRO DO BRASIL 21 E DA RAPS E FILIADO À REDE

 ?? FELIPE RAU/ESTADÃO ??
FELIPE RAU/ESTADÃO
 ?? RAPS, RENOVABR E CÂMARA DOS DEPUTADOS INFOGRÁFIC­O/ESTADÃO ?? FONTE:
RAPS, RENOVABR E CÂMARA DOS DEPUTADOS INFOGRÁFIC­O/ESTADÃO FONTE:
 ?? RAFAEL ARBEX / ESTADÃO - 30/1/2018 ?? Eleições. Mônica Bonfim (à esq.), da Raps, vai concorrer pelo PSOL; Juliana Cardoso, da Raps e do RenovaBR, vai disputar pelo PR
RAFAEL ARBEX / ESTADÃO - 30/1/2018 Eleições. Mônica Bonfim (à esq.), da Raps, vai concorrer pelo PSOL; Juliana Cardoso, da Raps e do RenovaBR, vai disputar pelo PR

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil