As duas apostas nucleares de Trump
A diplomacia nuclear promete ser a marca do governo Donald Trump na política externa. Se suas apostas derem certo, ele terá dois troféus a apresentar: Irã e Coreia do Norte. Se derem errado, o planeta entrará numa nova era de angústia atômica, de consequências potencialmente catastróficas.
Nos dois tabuleiros, o jogo de Trump segue o mesmo princípio: ser durão compensa. Ser durão significa fazer ameaças – romper o acordo nuclear com o Irã; derrubar o ditador norte-coreano Kim Jong-un – para obrigar o adversário a ceder.
Embora a ruptura com o Irã seja provável no próximo dia 12 de maio, Kim agora se tornou um interlocutor legítimo. Nele, estão as esperanças de um acordo histórico que livre a Península da Coreia das armas nucleares e consagre a paz com o Sul no conflito de 68 anos. “Apesar das críticas de Trump ao acordo nuclear com o Irã, ele traz lições para as conversas com Pyongyang”, diz o diplomata Peter Harrell.
Primeira: melhor ser ambicioso, negociar até um plano para reunificar as Coreias, do que aceitar outro acordo de abrangência restrita, que permita aos críticos defender a ruptura apontando fracassos (prazo limitado, deixar de fora os mísseis, o Hezbollah ou a Síria).
Segunda lição: é preciso ter prazos, mas não adianta ter pressa. Levou quase dois anos entre o primeiro documento oficial e o acordo final com o Irã. A meta americana, “desarmamento completo, verificável e irreversível” da Coreia do Norte, não é realista no prazo curto. A Coreia do Sul prefere uma abordagem gradual, com alívio progressivo das sanções. Parecem lições antagônicas? Pois são. A situação desafia todos os negociadores, refinados ou durões.