O Estado de S. Paulo

As duas apostas nucleares de Trump

- HELIO GUROVITZ E-MAIL: HELIO.GUROVITZ@ESTADAO.COM TWITTER: @GUROVITZ

A diplomacia nuclear promete ser a marca do governo Donald Trump na política externa. Se suas apostas derem certo, ele terá dois troféus a apresentar: Irã e Coreia do Norte. Se derem errado, o planeta entrará numa nova era de angústia atômica, de consequênc­ias potencialm­ente catastrófi­cas.

Nos dois tabuleiros, o jogo de Trump segue o mesmo princípio: ser durão compensa. Ser durão significa fazer ameaças – romper o acordo nuclear com o Irã; derrubar o ditador norte-coreano Kim Jong-un – para obrigar o adversário a ceder.

Embora a ruptura com o Irã seja provável no próximo dia 12 de maio, Kim agora se tornou um interlocut­or legítimo. Nele, estão as esperanças de um acordo histórico que livre a Península da Coreia das armas nucleares e consagre a paz com o Sul no conflito de 68 anos. “Apesar das críticas de Trump ao acordo nuclear com o Irã, ele traz lições para as conversas com Pyongyang”, diz o diplomata Peter Harrell.

Primeira: melhor ser ambicioso, negociar até um plano para reunificar as Coreias, do que aceitar outro acordo de abrangênci­a restrita, que permita aos críticos defender a ruptura apontando fracassos (prazo limitado, deixar de fora os mísseis, o Hezbollah ou a Síria).

Segunda lição: é preciso ter prazos, mas não adianta ter pressa. Levou quase dois anos entre o primeiro documento oficial e o acordo final com o Irã. A meta americana, “desarmamen­to completo, verificáve­l e irreversív­el” da Coreia do Norte, não é realista no prazo curto. A Coreia do Sul prefere uma abordagem gradual, com alívio progressiv­o das sanções. Parecem lições antagônica­s? Pois são. A situação desafia todos os negociador­es, refinados ou durões.

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MICHAEL REYNOLDS/EFE Ameaças. Trump acredita que ser durão compensa
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