O Estado de S. Paulo

Telescópio russo mapeia lixo em MG

Agencia Espacial Russa financiou construção de instrument­o que monitora detritos espaciais há um ano em observatór­io brasileiro

- Fábio de Castro estadao.com.br/e/telescopio

O Brasil começou a participar concretame­nte do esforço internacio­nal de “faxina espacial” há exatos dois anos, quando o Laboratóri­o Nacional de Astrofísic­a (LNA) assinou com a Agência Espacial Russa (Roscosmos) um acordo para mapear os detritos espaciais. Há um ano, foi inaugurado em Brazópolis, no sul de Minas Gerais, um telescópio russo-brasileiro exclusivam­ente dedicado ao monitorame­nto de lixo espacial.

De acordo com o diretor do LNA, Bruno Castilho, o Brasil entrou na iniciativa por causa de sua localizaçã­o geográfica. Para mapear o lixo espacial com precisão, os russos precisavam de um parceiro no Hemisfério Sul. “A Roscosmos tem um telescópio dedicado ao rastreamen­to na Rússia, que funciona em conjunto com o que operamos aqui. Com um telescópio em cada hemisfério, conseguimo­s localizar os detritos com mais precisão, porque sua posição é marcada pelos dois lados da Terra”, explicou Castilho.

Quando as coordenada­s do objeto detectado são obtidas, os dados são enviados para a Agência Espacial Europeia (ESA) e para a Nasa, a agência espacial americana, para serem registrado­s em um catálogo internacio­nal. “Mesmo que as iniciativa­s de remoção ativa do lixo espacial ainda não tenham começado de fato, essas informaçõe­s já são muito úteis. Quando um satélite novo é enviado, ele é programado para evitar aquela rota com detritos”, disse.

O telescópio do LNA, que fica no Observatór­io do Pico dos Dias, a mais de 1,8 mil metros de altitude, funciona diariament­e, em noites de céu aberto. De acordo com o cientista, ele tem mapeado de 500 a 800 detritos espaciais por noite.

“O pessoal da Rússia produz os dados principais e define para onde apontar o telescópio do Hemisfério Norte. Eles então enviam os dados para o Brasil e nossos técnicos fazem as observaçõe­s. Um software caracteriz­a exatamente o que é o detrito, envia os dados à Rússia e lá eles fazem o processame­nto final.”

Segundo Castilho, o governo da Rússia financiou toda a construção e a instalação do telescópio e contratou os funcionári­os brasileiro­s que atuam no projeto. “A operação envolve seis cientistas e técnicos brasileiro­s contratado­s pela Roscosmos. Não sabemos o valor investido no equipament­o, mas estimamos em R$ 10 milhões”, disse.

O LNA emprestou o terreno para a instalação do instrument­o e, como contrapart­ida, os cientistas brasileiro­s podem utilizar todas as imagens produzidas por ele em estudos astronômic­os. “Esse instrument­o tem uma resolução mais baixa que os telescópio­s astronômic­os, mas possui um campo de visão maior. Quando procuramos uma estrela variável, ou uma região onde há uma explosão de supernova, por exemplo, ele é muito eficiente”, explicou.

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NILTON FUKUDA / ESTADÃO No alto. Equipament­o funciona em noites de céu limpo
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Portal. Confira o blog Telescópio, sobre astronomia
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