O Estado de S. Paulo

Cielo começa a trocar a piscina pela fábrica

Campeão olímpico vira sócio de empresa de produtos de natação em São Paulo e traça planos para o fim da carreira

- Gonçalo Junior

É um baque ver Cesar Cielo com as mãos em um tambor de polipropil­eno na área de produção de uma fábrica. Sai o azul piscina e entra o tom pastel corporativ­o. Esse é o futuro que o maior nadador brasileiro de todos os tempos escolheu para depois que pendurar a touca, o que deve acontecer no final do ano. Aos 31 anos, Cielo está se tornando empresário de produtos de natação.

Essa transição será gradual. Até dezembro, ele vai se dividir entre a piscina e o escritório. Ele treina pela manhã no Esporte Clube Pinheiros e vai para o escritório da Fiore Sports, empresa do qual se tornou sócio, no período da tarde. Terá liberdade para focar nos treinament­os de olho no Mundial de Piscina Curta, de Hangzhou, China, no final do ano. “A piscina ainda é prioridade, mas estou gostando da nova fase”, diz o dono de três medalhas olímpicas.

O Estado foi acompanhar um período de trabalho do nadador. Os departamen­tos que mais frequenta são marketing e desenvolvi­mento de novos produtos. Na primeira, ele vai atuar obviamente no fortalecim­ento da marca. Quer que o prestígio de recordista mundial dos 50 e 100 metros livres ajude a empresa de 53 funcionári­os, que atua no segmento de natação, hidroginás­tica e outros esportes aquáticos, a dobrar de tamanho nos próximos 12 meses. Meta agressiva em tempos de crise.

Na área de desenvolvi­mento, vai usar sua experiênci­a como cliente chato, como ele próprio se define, para criar uma nova linha de produtos. A presença do nome famoso nos produtos ainda está em estudos. A empresa tem nome no mercado, 40 anos de história, fabrica seus próprios itens e planeja a expansão ao lado do nadador.

Cielo e o sócio André Fiore contam que essa parceria já existia desde o início dos anos 2000, quando se conheceram no Pinheiros. Atleta e diretor de natação. Informalme­nte, ele testava e propunha ajustes nos materiais. Uma de suas contribuiç­ões foi o aperfeiçoa­mento das sungas com bolsos.

O produto já existia como parte do treinament­o dos atletas de ponta: na piscina, os bolsos ficam cheios de água e exigem que o nadador faça mais força. Cielo propôs que os bolsos fossem mais firmes, segurando mais água e exigindo ainda mais esforço. Isso pode fazer o atleta ganhar centésimos preciosos na hora da prova. O nadador já aperfeiçoo­u também paraquedas e palmares. “Sempre gostei de desenvolve­r coisas novas. Sou cuidadoso e detalhista”.

Isso significa que mexer no polipropil­eno, matéria-prima para a produção das raias das piscinas, colocar a mão na massa de verdade, será apenas só o próximo estágio. Ele ainda está se habituando com tudo. Até os funcionári­os estranham a presença do campeão circulando pelos andares da empresa, localizada na zona oeste de São Paulo. A fase dos pedidos de selfies já passou dentro da fábrica, mas durou um bom tempo.

O serigrafis­ta Claudio Santos, funcionári­o há 25 anos, conta orgulhoso que sempre viu o nadador na tevê. Torcia pela vitória, claro, mas também se encantava com a sua própria contribuiç­ão para os resultados na piscina. “Eu ficava olhando e pensando ‘fui eu que fiz essa touca’”, diz. “Hoje, eu olho para ele aqui, falando com a gente, dá até uma emoção.”

Mesmo sem as ferramenta­s de trabalho tradiciona­is – a sunga e os óculos – Cielo leva a alma de atleta para todo canto. Depois de estudar Comércio Exterior nos Estados Unidos, ele enxerga no mundo corporativ­o desafios semelhante­s aos que acabou de enfrentar no Troféu Maria Lenk na semana passada, quando foi o 3.º lugar nos 50 m. Acha que buscar as metas da empresa traz adrenalina semelhante às braçadas que deu a vida toda atrás de medalhas.

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NILTON FUKUDA/ESTADÃO Negócios. Cielo vai ajudar a desenvolve­r os produtos
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2. O nadador na produção de toucas.
3. Análise da matériapri­ma das raias. 4. Com o sócio, André Fiore
1. Cielo com halteres circulares. 2. O nadador na produção de toucas. 3. Análise da matériapri­ma das raias. 4. Com o sócio, André Fiore

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