O Estado de S. Paulo

O Estado pouco investe, mas suga poupança privada

-

Os números levantados pelo Centro de Estudos de Mercado de Capitais (Cemec-Fipe) sobre o investimen­to e a poupança na economia brasileira mostram a extensão dos danos provocados sobre o setor privado pelo desastre fiscal desta década. Se o vulto do desequilíb­rio fiscal é conhecido com a divulgação regular das estatístic­as do Ministério da Fazenda e do Banco Central, o impacto sobre as empresas e as famílias se torna muito mais evidente na Nota Cemec 04/2018, distribuíd­a há alguns dias.

O setor privado tem preservado sua capacidade de poupança, estimada em 21,87% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2017, superando a média de 18,94% do PIB registrada entre 2000 e 2015. Mas como o setor público nada poupa (a poupança pública de 2017 foi negativa em 6,99% do PIB, estima o Cemec), a taxa de poupança do País, da qual depende grande parte do investimen­to, foi de apenas 14,8% do PIB em 2017. O esforço de poupança de famílias e empresas foi em boa parte consumido pelo Estado.

A emissão de dívida pública é o principal meio pelo qual o Estado tem acesso aos recursos disponívei­s. Entre 2013 e 2017, o saldo da dívida pública aumentou de 50,8% para 73,2% do PIB, enquanto caía o saldo de operações de dívida do setor privado.

No mesmo período, a participaç­ão dos títulos de dívida pública na carteira dos investidor­es institucio­nais passou de 38% para 52%. Em dezembro de 2017, mais de 72% dos recursos captados pelo sistema bancário se destinaram a financiar o setor público, por intermédio de títulos, operações compromiss­adas ou empréstimo­s bancários.

Ao transferir para o setor público parcela relevante da poupança que gera, o setor privado nacional investe bem menos do que poderia. A queda do investimen­to de empresas e famílias representa 82% da queda da taxa de investimen­to entre 2013 e 2017.

O Estado superdimen­sionado e que muitas vezes gasta recursos de forma abusiva e sem fiscalizaç­ão é bem conhecido dos contribuin­tes. O que o Cemec mostra é o custo do déficit público: menos investimen­to, menos geração de emprego e menos renda. O que afeta diretament­e as famílias.

Ou seja, o Estado em sua configuraç­ão atual não apenas perdeu a capacidade de cumprir bem suas obrigações presentes, mas é o principal agente que impede o investimen­to.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil