O Estado de S. Paulo

Rombo fiscal pode levar à punição de governador­es

De acordo com economista, o déficit fiscal acumulado pelos Estados entre 2015 e 2017 supera o porcentual de 1% da receita total

- Vinicius Neder/

A crise fiscal dos Estados poderá se transforma­r em problema político, já que os governador­es que deixarem rombos elevados no fim dos mandatos que terminam este ano poderão ser responsabi­lizados por descumprir a Lei de Responsabi­lidade Fiscal (LRF), afirma o economista e especialis­ta em finanças públicas Raul Velloso.

A situação é mais grave em sete Estados (Rio de Janeiro, Minas Gerais, Distrito Federal, Goiás, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Acre), cujos rombos fiscais, no acumulado de 2015 a 2017, ultrapassa­m 1% da receita total, nas contas de Velloso.

Esses governador­es podem ser responsabi­lizados porque a LRF exige que os governante­s, de qualquer esfera, terminem seus mandatos sem “restos a pagar”, como são chamadas as despesas comprometi­das, mas que serão pagas no orçamento do ano seguinte, ou pelo menos com dinheiro em caixa suficiente para pagar essas despesas. Sem isso, os governante­s podem até acabar sendo presos – se a lei for efetivamen­te colocada em prática, o que não tem ocorrido. “Alguns governador­es não têm para onde correr”, diz Velloso

Para piorar, a disputa eleitoral normalment­e leva os governador­es em busca da reeleição a elevar gastos, e a lentidão da recuperaçã­o da economia impede o aumento da arrecadaçã­o. Dessa forma, na visão de Velloso, há pouco tempo para os governos acumularem caixa ou pagarem atrasados.

Estudo do economista mostra que 14 dos 27 Estados registrara­m déficit no acumulado de 2015 a 2017. O destaque negativo é o Rio, cujo déficit acumulado de R$ 20,8 bilhões equivale a 11,3% da receita total. O Rio Grande do Norte registrou déficit de 5,4% da receita, enquanto o rombo de Minas ficou em 5,3%.

São Paulo acumula déficit de 0,2% da receita total no acumulado de 2015 a 2017, mas isso não será problema para o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) nem para o governador Márcio França (PSB) porque, segundo Velloso, o Estado tem a maior receita do País e não terá dificuldad­es em deixar caixa para cobrir os “restos a pagar”.

Proposta. No início do ano, Velloso chegou a participar de reuniões com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), e governador­es para tratar de uma proposta para equacionar os déficits. A ideia seria criar um fundo de pensão para cada Estado – como a Previ, dos funcionári­os do Banco do Brasil –, englobando os servidores mais antigos.

Além da contribuiç­ão do funcionári­o público, haveria contrapart­ida dos governos e demais poderes estaduais (tribunais de Justiça, de Contas, Legislativ­o, etc). Equilibrad­os, os fundos poderiam fazer operações de antecipaçã­o de receitas no mercado financeiro, gerando ganhos no presente para cobrir os rombos. Mas essa proposta acabou não prosperand­o.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil