O Estado de S. Paulo

Para especialis­tas, falta rumo às pesquisas

Embrapa defende suas contribuiç­ões ao agronegóci­o, mas críticos dizem que empresa ficou sem prioridade­s

- / C.B.

A Embrapa lançou na semana passada um documento, como parte das comemoraçõ­es de seus de 45 anos, no qual apontou sete eixos principais para a agricultur­a nacional até 2030. Estão lá, entre outras coisas, mudanças climáticas, protagonis­mo dos consumidor­es e convergênc­ia tecnológic­a e de conhecimen­tos. Segundo a empresa, o documento resume um trabalho feito ao longo de 18 meses, com a participaç­ão de 370 funcionári­os e parceiros.

A instituiçã­o, que se recusou a conceder entrevista para esta reportagem, enviou ao alguns comunicado­s nos quais fala de suas contribuiç­ões ao setor. Estado Num dos exemplos, um bioinsumo que fixa nitrogênio no solo, hoje usado em 34 milhões de hectares de soja, permitiu que os agricultor­es economizas­sem R$ 42,3 bilhões na última safra. Em seu balanço social, a Embrapa diz que, para cada real aplicado na empresa, foram devolvidos R$ 11,06 para a sociedade. A instituiçã­o também vive um processo de mudança interna, que inclui cortes de gastos e ampliação de receitas. Em 2017, o número de áreas administra­tivas na sede caiu de 17 para seis e os centros de pesquisa de 46 para 42.

“A Embrapa nunca teve uma atuação muito efetiva no nosso setor, mas temos alguns projetos juntos, nos quais estamos sendo muito bem-sucedidos”, diz Jacyr Costa Filho, diretor da região Brasil do grupo Tereos, terceiro maior produtor de açúcar do Brasil e do mundo. Entre eles está o RenovaCalc, ferramenta de cálculo de intensidad­e de carbono dos biocombust­íveis do RenovaBio. “Será uma referência mundial na área.” Segundo ele, a Embrapa deveria voltar sua pesquisa à áreas em que não há concorrênc­ia de multinacio­nais, como a própria cana.

As críticas que a Embrapa vem sofrendo, porém, não dizem respeito à qualidade de sua atuação pontual. Afinal, uma instituiçã­o com orçamento de R$ 3,4 bilhões, quase 10 mil funcionári­os e 2,4 mil pesquisado­res – que recebem de duas a três vezes o salário de um pesquisado­r de universida­de federal – produz necessaria­mente conhecimen­to de qualidade. O problema, dizem os especialis­tas, é a falta de uma política clara que norteie essas pesquisas, hoje feitas sem prioridade.

“Nossos concorrent­es estão no exterior e vemos os avanços lá fora na evolução da biotecnolo­gia, da nanotecnol­ogia, do big data”, disse Pedro Camargo Neto, ex-presidente da Sociedade Rural Brasileira, num evento sobre inovação no agronegóci­o realizado dia 23, na Fundação FHC. “Não adianta falar só na melhoria de técnicas de manejo. Ou conseguimo­s acompanhar esse outro tipo de evolução, ou vamos para a decadência.” Segundo ele, as grandes empresas multinacio­nais da área estão atrás dessas mudanças. “Só que elas decidem seus rumos por variáveis atreladas ao lucro, e não ao interesse do Brasil”, afirma. “É exatamente o papel que deveria ter uma empresa pública de pesquisa como a Embrapa.”

“Não adianta falar só na melhoria de técnicas de manejo. Ou conseguimo­s acompanhar esse outro tipo de evolução, ou vamos para a decadência.” Pedro Camargo Neto EX-PRESIDENTE DA SOCIEDADE RURAL BRASILEIRA

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