O Estado de S. Paulo

Investidor­es de risco estão de olho em onda de startups que vão abrir capital

Retorno. Capitalist­as que investem em startups na aposta de que um dia elas levantem bilhões na Bolsa se animaram com as estreias bem sucedidas de Dropbox e Spotify; nos EUA, os IPOs de tecnologia neste ano já captaram mais que o total de 2015 e de 2016

- Jack Nicas /TRADUÇÃO DE CLAUDIA BOZZO

Em 12 de abril, Jason Pressman passou a manhã torcendo no balcão da Bolsa de Valores de Nova York, quando as ações da empresa de software de gestão Zuora, na qual ele investiu em 2008, começaram a ser negociadas. Perto do fechamento do mercado, as ações da Zuora chegaram a subir 43%, fazendo com que o investimen­to de US$ 17 milhões feito pelo fundo Shasta Ventures, representa­do por Pressman, chegasse a um retorno de mais de US$ 150 milhões.

“Nada mal mesmo”, disse Pressman após a oferta pública de ações (IPO, na sigla em inglês) da Zuora, antes de ir a um jantar de comemoraçã­o com cerca de 60 pessoas em um caro restaurant­e italiano nos arredores de Chelsea, em Nova York. O capitalist­a de risco disse que passou boa parte da noite anterior em claro, mas tinha disposição para comemorar. “Estou com a adrenalina a toda.”

Muitos investidor­es, como Pressman, apoiam minúsculas startups de tecnologia na esperança de que algum dia elas abram o capital ou sejam vendidas por cifras enormes, entre nove ou dez dígitos. Eles não têm lucrado realmente nos últimos anos. Isso porque empresas em rápido cresciment­o, como o aplicativo de carona paga Uber e a plataforma de hospedagem alternativ­a Airbnb, permanecem privadas.

Ventania. Mas o cenário pode, finalmente, mudar. Investidor­es, banqueiros e analistas estão esperando uma nova onda de IPOs que vão trazer para o mercado algumas das startups mais “quentes” nos próximos dois anos. E, junto com elas, bilhões de dólares em retorno para investidor­es de risco.

Além das já citadas Uber e Airbnb, há outras apostas quase certas na lista de próximos IPOs, como o aplicativo de comunicaçã­o para empresas Slack, a fabricante chinesa de smartphone­s Xiaomi e o também chinês Meituan Dianping – site de comércio eletrônico que hoje tem valor de mercado estimado em US$ 30 bilhões. Para Matthew Kennedy, analista de IPOs do banco de investimen­tos Renaissanc­e Capital, quase todas as startups com valor de mercado acima de US$ 1 bilhão são fortes candidatas a abrir capital nos próximos dois anos.

O ano de 2018 começou agitado. O serviço de backup em nuvem Dropbox e a plataforma de streaming de música Spotify foram bem-sucedidos em suas estreias na bolsa, em março e abril, respectiva­mente. No total, as ofertas iniciais de ações de empresas de tecnologia já captaram mais de US$ 7 bilhões nos primeiros meses do ano. O número é maior que o total de 2015 e 2016 e representa mais da metade dos US$ 13 bilhões de 2017, de acordo com a consultori­a Dealogic.

“Eu falo com os banqueiros o tempo todo e eles comentam: ‘Há um monte de ofertas à nossa espera’”, diz Rob Hayes, sócio da First Round Capital, que liderou uma rodada de US$ 1,5 milhão no Uber em 2010. Na

época, o Uber valia US$ 4 milhões – hoje, o aplicativo tem valor de mercado de US$ 68 bilhões (ver arte ao lado).

Perspectiv­as. Algumas das maiores empresas de tecnologia de capital fechado já começaram a se movimentar. Dara Khosrowsha­hi, presidente executivo do Uber, planeja fazer o IPO da empresa ano que vem. Seu principal rival nos Estados Unidos, o aplicativo Lyft, também conversa com bancos de investimen­to. E o Airbnb começou a trazer diretores independen­tes para seu conselho, uma medida que normalment­e faz parte dos preparativ­os para uma empresa se tornar pública.

Mais do que encher os bolsos dos investidor­es de risco, porém, uma boa onda de IPOs de tecnologia deve impulsiona­r ecossistem­as de startups dos Estados Unidos. Uma vez que as startups se tornam públicas e seus funcionári­os embolsam parte desse dinheiro, executivos e engenheiro­s têm a oportunida­de de iniciar suas próprias startups. Isso dá aos capitalist­as de risco um novo conjunto de empresas para investir, renovando os ciclos de inovação e desenvolvi­mento que estão no coração do Vale do Silício.

 ?? LUCAS JACKSON/REUTERS-23/3/2018 ?? Sucesso. Serviço de backup em nuvem Dropbox fechou dia de estreia na bolsa Nasdaq avaliado em US$ 12,67 bilhões, após forte alta de 40% nas ações
LUCAS JACKSON/REUTERS-23/3/2018 Sucesso. Serviço de backup em nuvem Dropbox fechou dia de estreia na bolsa Nasdaq avaliado em US$ 12,67 bilhões, após forte alta de 40% nas ações
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil