O Estado de S. Paulo

‘Entrevista­dor’ leva anotações e se sai bem no improviso

Questões relevantes o colocam como ouvinte paciente e perguntado­r astuto, pronto para chegar aonde deseja

- / J.M.

Gil veio até São Paulo para gravar a entrevista com o médico que cuida de sua saúde há 30 anos, Roberto Kalil Filho. Logo depois, seguiu para outro endereço, onde o aguardava o expresiden­te Fernando Henrique Cardoso para o registro de um episódio em que não falariam de política, mas de descrimina­lização da maconha. Como um repórter, tem dentre as pautas o tema cultura africana para ser abordado com Lázaro Ramos; vida e morte com Dráuzio Varella (o papo foi tão bom que deve virar não um, mas dois programas); e família e legado com Caetano Veloso.

O programa que estreia no dia 11 de setembro tem direção de Letícia Muhana e Patrícia Guimarães, produção da Gegê Produções, direção de produção de Flora Gil e direção musical do filho Bem Gil. Serão ao final onze episódios do programa do Canal Brasil que, pela sacada sensaciona­l de ter Gil no papel de entrevista­dor, deve fazer inveja a outros canais.

Gil vem preparado com perguntas previament­e anotadas em uma folha que segura discretame­nte. Mas é do calor das respostas que saem suas melhores indagações. “O poder faz mal ao coração?”, pergunta, depois de dizer que o médico tem pacientes políticos muito poderosos. “Música faz bem ao coração?”, quer saber, e ouve uma resposta surpreende­nte do médico que diz que nunca gostou de música até o dia em que passou a ter aulas de saxofone.

À frente de Kalil, ele começa um pouco reverencia­l demais, um crime protocolar se fosse jornalista. Antes da conversa, toca para Kalil uma canção com o nome do doutor, composta em dias de internação e que vai estar em seu próximo disco, a ser lançado em julho. A letra mostra um outro Gil, de discurso mais direto e menos reflexivo. Kalil, a canção, não vai estar jamais entre suas obras-primas, mas deve ser entendida como a cota que se concede a um artista que pode se dar ao luxo de pagar uma conta com sua consciênci­a: “Gente competente no Brasil, doutor Roberto Kalil/ o doutor já tratou presidente, senador e tanta gente que a gente nem sabe quem / vem fazendo sempre a sua parte promovendo a sua arte, medicina para o bem / E se o paciente diz que dói, que dói / o doutor resolve ser super-herói / é Batman lutando contra a superbacté­ria / que afinal ele pega, mata e destrói.”

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Com Kalil. No escritório do médico, tom reverencia­l

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