O Estado de S. Paulo

Conversa com o CEO

Executivo de 39 anos comanda empresa online de venda de medicament­os que se prepara para se tornar um market place do setor

- / C.M.

“O grande desafio é estimular as pessoas e oferecer-lhes responsabi­lidades para que se consiga tirar de cada uma delas o melhor que podem oferecer”, diz o CEO da Netfarma, Walter Cardozo, de 39 anos. Para ele, comandar um negócio é um aprendizad­o diário. A empresa vai investir R$ 20 milhões para se tornar um market place do setor farmacêuti­co.

“Eu nunca tomei uma decisão na minha carreira que fosse pautada pelo salário que eu iria ter dali a dois meses. Sempre tomei minhas decisões olhando para a frente.” A afirmação de Walter Cardozo ajuda a entender porque ele comanda aos 39 anos a farmácia virtual brasileira Netfarma depois de já ter sob sua responsabi­lidade um orçamento de ¤ 600 milhões. Isso ocorreu quando, aos 31 anos de idade, coordenava a área financeira na América Latina da multinacio­nal de origem holandesa de logística TNT. “Era uma responsabi­lidade muito grande em um ambiente internacio­nal. Foram vários projetos desenvolvi­dos. Houve reconhecim­ento”, conta. “Muito do que aprendi e me tornou este profission­al veio dessa escola, dessa empresa, que tinha padrões éticos, de controle e de gestão muito elevados.” Ainda que a situação estivesse boa na TNT, ele não pensou nos seus ganhos e resolveu ter uma experiênci­a em outra companhia, de menor porte: a Coface, uma seguradora de origem francesa. Depois, passou por uma empresa familiar de tecnologia, a Agora Telecom, e posteriorm­ente na BCA até chegar à Netfarma como diretor financeiro em 2015. A BCA é BCA, uma joint venture entre BTG Pactual através da Estapar e o grupo inglês BCA UK, que se dedica a remarketin­g automotivo e foi rebatizada para Loop. Formado em administra­ção de empresa com MBA pela USP e pela Universida­de Estadual de Nova Jersey-Newark, Cardozo desenvolve­u sua carreira na área financeira, começando a trabalhar ainda antes dos 20 anos na antiga consultori­a Arthur Andersen. Agora, na Netfarma, seu desafio é reestrutur­ar a marca e levar a empresa ao ponto de equilíbrio. Para tanto, lidera o processo, no qual serão investidos R$ 20 milhões, para em 18 meses transforma­r a companhia em um market place do setor farmacêuti­co e de perfumaria. A empresa tem 100 profission­ais, um centro de distribuiç­ão de 6,1 mil m² em Carapicuíb­a e um portfólio de 12 mil itens. A

“Quando deixamos de cuidar de uma área dentro da organizaçã­o para cuidar de todas, o primeiro choque de realidade com que você se depara é o de lidar com pessoas de escolas diferentes, de racional diferente”

seguir, trechos da conversa.

Se a sua situação estava boa na TNT, porque trocou de empresa?

Eu estava na TNT havia seis anos e meio e quando eu olhava para a frente, via uma companhia muito grande. E eu tinha o anseio de ser o número 1 de finanças no Brasil. Ela tinha uma estrutura de 12 gerências e para me tornar o número 1, havia um coeficient­e político muito forte. E aí eu tomei a decisão de fazer um movimento em que u ganharia corpo e escopo, mas numa estrutura menor.

Como foi a experiênci­a na TNT?

Entre 2005 e 2010, trabalhei na empresa, de forte presença na Europa. Em 2007, ela fez sua primeira grande aquisição no Brasil, quando comprou uma empresa do sul (Expresso Mercúrio) . Depois de um ano, fez sua segunda grande aquisição (Expresso Araçatuba). Na ocasião, fui responsáve­l pela transforma­ção da área financeira da empresa, pela padronizaç­ão e tudo mais. Antes das aquisições, era uma empresa de 200 pessoas com faturament­o de R$ 50 milhões. Depois das aquisições, ela se tornou uma empresa de cerca de 8.000 pessoas e um faturament­o de US$ 1,2 bilhão. Na ocasião, fui trabalhar a região América Latina e coordenava um orçamento de ¤ 600 milhões.

Você passou por várias indústrias. Essas mudanças têm a ver com essa visão de longo prazo da carreira?

Sempre tomei minha decisão olhando para a frente. E acho que me identifiqu­ei demais com esse ambiente de internet.

• Há diferença na maneira de pensar e administra­r um negócio totalmente online?

Em todos outros negócios por onde passei, sem dúvida havia foco em rentabilid­ade, agora a condução do negócio é muito particular. Uma das coisas que temos como pilar da Netfarma é padrão de atendiment­o e para isso você tem de estar extremamen­te atento a todos os detalhes da operação. Desde como posicionar o produto, como comunicar, como entregar, prazo e tudo mais. Tudo isso é o que atrai o cliente a comprar e a continuar voltando.

Mas isso não ocorre também no varejo em geral?

Sim, mas no e-commerce há grande diferença: a tolerância do consumidor a falhas é muito menor. No varejo em geral, se ele teve alguma experiênci­a negativa, ele tem condição de voltar à loja, discutir com o vendedor, e assim por diante. No e-commerce, a distância entre escolher a loja A e a loja B é um clique. Ele não precisa se deslocar nem fazer nada.

Como é dirigir um negócio?

Comandar um negócio é um aprendizad­o diário. Quando abrimos o escopo e deixamos de cuidar de uma área dentro da organizaçã­o para cuidar de todas, o primeiro choque de realidade com que você se depara é o de lidar com pessoas de escolas diferentes, de racional diferente. E o grande desafio é estimular essas pessoas e oferecer-lhes responsabi­lidades para que se consiga tirar de cada uma delas o melhor que podem oferecer. Acho que essa é primeira grande mudança que tenho observado em mim como gestor. A segunda é o fato de termos de ponderar várias situações que são super importante­s para a condução do negócio. É a consciênci­a de que não dá para ganhar sempre, em alguns casos vai ganhar e em outros vai ter de abrir mão de algo que considerav­a fundamenta­l, e vai ter de se tornar um cara dinâmico.

Precisou desenvolve­r alguma habilidade específica?

Acho que uma das coisas que mais aprendi é a capacidade de vender. Como financeiro tradiciona­l, eu tinha um traço muito forte em controles, mas por outro lado tem de colocar a cara na rua e vender. O negócio tem de ser vendido todos os dias. Então, pensar em promoções, comunicaçõ­es, como melhor negociar com a indústria para trazer melhores oportunida­des, tudo isso é um aprendizad­o diário e eu tenho me desenvolvi­do bastante nesse sentido.

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JOÃO PAULO ALMEIDA/DIVULGAÇÃO

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