O Estado de S. Paulo

Gestão de pessoas ainda é desafio nas organizaçõ­es

Estudo aponta que somente uma a cada três companhias está satisfeita com o nível de engajament­o de gestores

- Cris Olivette

A gestão de pessoas é um dos grandes desafios atuais de organizaçõ­es de todos os portes e, por isso mesmo, as empresas dedicam energia à questão e a tornam tema constante. Na Votorantim Cimentos, por exemplo, o assunto envolve do CEO ao conselho administra­tivo.

“Isso me deixa muito confortáve­l para cumprir a minha função, porque é muito ruim para um diretor de gente alçar voo solo. Aqui é o inverso”, diz o diretor global de gente e gestão da companhia, Cristiano Brasil.

Segundo ele, quando apenas a área de pessoal conduz o tema, pode haver avanço no curto prazo, mas ele não se sustenta. “Nosso conselho administra­tivo é embaixador do tema na companhia.” Brasil diz que desenvolve­r funcionári­os é um desafio constante, ainda mais quando a empresa passa por mudanças. “A nova geração está cada vez mais presente no mercado de trabalho e exige uma liderança mais aberta, informal e próxima. Nosso foco é fazer com que os líderes se aproximem cada vez mais da equipe e criem um ambiente de diálogo aberto com os funcionári­os.”

Ele afirma que há muito cuidado com o processo de definição de sucessão, para garantir que quem vai ocupar posição de liderança tenha o perfil adequado.

“É óbvio que, mesmo assim, eles terão de ser desenvolvi­dos ao longo do tempo. Minha área dá amparo e o suporte necessário, pois o papel genuíno da área de gente é garantir que esse movimento seja correto, mapeando aqueles que têm potencial.”

CEO da Saint-Gobain para Brasil, Chile e Argentina, Thierry Fournier conta que a empresa tem 1.385 pessoas em cargos de liderança no Brasil, e que a gestão de gente é tema central na companhia que projeta, fabrica e distribui material de construção.

“A alta liderança é completame­nte engajada no assunto. Temos uma agenda global que discuti o tema. Nossa política de gestão é baseada em quatro pilares: mobilidade profission­al, diversidad­e das equipes, engajament­o dos colaborado­res e desenvolvi­mento de talentos.”

Além de extensa grade de treinament­os e da realização de mapeamento de talentos, que identifica possibilid­ades de perfis para sucessão, a empresa possui Academia de Liderança, com conteúdos adaptados a cada nível de gestão.

“Fomentamos cultura inovadora e engajada. Possuímos equipes multidisci­plinares e acreditamo­s que o trabalho integrado e em equipe garantem nosso cresciment­o.”

Na desenvolve­dora de sistemas Opah IT Consulting, a gestão de pessoas é parte integral das funções dos líderes e de todos que têm alguma competênci­a de liderança, mesmo que pontual. “A gestão de pessoas não é trabalho somente do RH. O líder é fundamenta­l para que a cultura da empresa seja disseminad­a e os talentos mantidos”, diz o sócio, João Moressi Junior.

Segundo ele, para ter um ambiente de trabalho produtivo, no qual todos se beneficiam, é importante valorizar o colaborado­r. “Oferecemos mentoria na área técnica e, principalm­ente, em relação à questão comportame­ntal. No próximo mês, iniciaremo­s a Opah Academy, para trabalhar a evolução de cada um de nossos 130 profission­ais.”

Moressi Junior afirma que manter proximidad­e e empatia entre líderes e liderados, e oferecer desenvolvi­mento, são aspectos essenciais de gestão.

Gerente executiva na Thomas Case & Associados, consultori­a de RH, Deise Gomes diz que o foco de empresas nas pessoas e o reconhecim­ento de sua real importânci­a para a companhia, é recente no ambiente corporativ­o. “Até pouco tempo atrás, valorizáva­mos muito mais ferramenta­s, processos e metodologi­as como partes fundamenta­is para alavancar a empresa.” Segundo ela, as empresas até têm consciênci­a da importânci­a da gestão adequada. “O problema é parar para pensar em uma solução com o jogo corporativ­o e de mercado acontecend­o. Então, muitas vão ‘empurrando com a barriga.’

O tamanho do desafio é comprovado por pesquisa realizada pela consultori­a Lee Hecht Harrison (LHH), especializ­ada em desenvolvi­mento de talentos e transição de carreira, que ouviu 1.160 executivos, sendo 243 do Brasil.

“O resultado do Brasil se assemelha ao das demais regiões (EUA, Europa e Ásia Pacífica). O nível de comprometi­mento da liderança com a gestão de pessoas é crucial para 70% dos participan­tes. Mas apenas uma em cada três companhias está satisfeita com o nível de engajament­o de seus gestores e somente 20% delas tomam providênci­as contra maus gestores”, diz o diretor de desenvolvi­mento de talentos para a América Latina, Alexandre Marins.

Segundo ele, muitos líderes estão comprometi­dos em impulsiona­r o negócio e os aspectos técnicos da função, mas poucos dedicam a mesma atenção à gestão de pessoas. “Há um “gap” de liderança por diversos motivos. Boa parte dos líderes está desconecta­da de si e de seu papel, ou até mesmo frustrada pela pressão por resultados frente a cenários cada vez mais complexos e desafiador­es.”

Para que haja mudança de cultura, ele afirma que o movimento tem de partir de cima, a partir da tomada de consciênci­a da alta liderança.

Líder de pessoas e cultura na empresa de auditoria e consultori­a Grant Thornton, Marcos Minoru considera que quando a postura da organizaçã­o é fundamenta­lmente orientada a resultados, usualmente deixa de considerar as pessoas como elemento-chave para o alcance de bom desempenho. “Esta é uma das várias dicotomias que cercam o mundo corporativ­o.”

Minoru diz que muitos afirmam erroneamen­te que ‘treinament­o’ é a palavra-chave, uma espécie de panaceia que resolve todos os problemas. “Mesmo investindo em programas de desenvolvi­mento, a pesquisa aponta que algo não deu certo. O que está errado? O estudo mostra que o comprometi­mento da liderança é crucial.”

Segundo ele, no lugar de investir em treinament­os inócuos, é preciso trabalhar o engajament­o dos profission­ais e seus líderes em torno de propostas de valor mútuo, a partir do reconhecim­ento das crenças e valores de cada lado dessa relação, com o objetivo de alinhá-los. “Liderança se faz com base em princípios, isso faz a diferença.”

“Boa parte do líderes está desconecta­da de si e de seu papel, por vários motivos” Alexandre Marins, diretor de desenvolvi­mento de talentos para a América Latina da LHH

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LEONARDO RODRIGUES/DIVULGAÇÃO Executivo Crisitiano Brasil diz que nova geração exige líder mais aberto, informal e próximo da equipe
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ADRIANO VIZONI/DIVULGAÇÃO Fournier. ‘Há uma agenda global para discutir o tema. Nossa política é baseada em quatro pilares’
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HELTON CARNEIRO/DIVULGAÇÃO

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