O Estado de S. Paulo

Competênci­as e privilégio­s em foco: a questão da meritocrac­ia

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Nos dois últimos artigos tratei da questão que afeta basicament­e os jovens no mercado de trabalho, e que foram produzidos, aqui no Brasil pelos impactos da taxa de emprego, pela queda da produtivid­ade e pelas políticas de definição do piso salarial.

Independen­temente da questão relacionad­a às políticas econômicas, temos um problema que acredito da maior seriedade, que é o comportame­ntal.

Esse faz com que as pessoas de mais idade (membros mais velhos da minha geração) sintam que devam ser privilegia­dos pela idade, ou pelo tempo de casa. Isso, junto com as políticas equivocada­s de “inclusão”, faz com que tenhamos o “ageísmo” ao contrário, levando o preconceit­o contra o jovem nos espaços de trabalho.

Meritocrac­ia passou a ser vista por uma parcela de teóricos brasileiro­s como alguma coisa que pode não ser muito boa. Já li artigos, brasileiro­s, dizendo que a meritocrac­ia é não inclusiva. E, por que isso? Basicament­e, porque nossa cultura é patrimonia­lista, e o patrimonia­lismo cultua os privilégio­s, sejam por idade, sejam por senioridad­e e outros piores como status social, econômico, racial, étnico, vínculos familiares, etc.

Machado de Assis tratou muito bem desses temas em vários contos, e isso ocorreu no final do século 19. Convido todos a visitarem, ou revisitare­m, o conto Teoria do Medalhão, em que o patrimonia­lismo e a defesa dos privilégio­s são tratados de forma crua. Além dele, Lima Barreto, com Os Bruzundang­as, de 1922, denunciava essa prática da sociedade brasileira...Parece que não aprendemos nada em mais de um século!

Nada contra a senioridad­e, mesmo porque me encontro nessa faixa etária, mas tudo contra a forma que sua defesa tomou. Um profission­al não é bom porque é mais velho, ou porque tem mais tempo de casa e sim pelas suas competênci­as conseguida­s e desenvolvi­das ao longo do tempo. E, principalm­ente, pelas suas experiênci­as e realizaçõe­s.

Os últimos enaltecime­ntos que temos visto sobre a contrataçã­o de “talentos grisalhos”, neste mundo do desemprego, mostram que eles são especialis­tas no que fazem, falam diversas línguas e têm um currículo cheio de “entregas”.

Não exaltam sua idade, mas sua experiênci­a.

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DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO

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