O Estado de S. Paulo

Educação executiva do futuro

- POR JOSÉ CLAUDIO SECURATO, DOUTOR EM ADMINISTRA­ÇÃO, É PRESIDENTE DA SAINT PAUL ESCOLA DE NEGÓCIOS E AUTOR DE LIVROS E-MAIL: JCSECURATO@SAINTPAUL.COM.BR

O mercado de trabalho passa por uma grande reestrutur­ação, em proporções cada vez maiores, semelhante à revolução industrial. Porém, em menor espaço de tempo. A tecnologia aumentou a demanda por trabalhado­res altamente qualificad­os e que dominem ferramenta­s que vêm revolucion­ando o mercado e a educação para negócios e que antes não existiam, como computação em nuvem, big data, blockchain, internet das coisas e inteligênc­ia artificial (IA).

Diante desse quadro, profission­ais que já estão no mercado devem se manter atualizado­s e para isso precisam aprender em micromomen­tos, utilizando o celular enquanto esperam uma consulta ou em um intervalo entre reuniões. As empresas também precisam acompanhar essa nova forma de ensino e oferecer alternativ­as capazes de engajar colaborado­res em um cenário de reinvenção.

Segundo pesquisa da consultori­a Deloitte realizada em 2017 com mais de 10 mil líderes empresaria­is e de RH em 140 países, incluindo o Brasil, 41% dos entrevista­dos já implementa­ram ou realizaram progressos significat­ivos na adoção de tecnologia­s cognitivas e (IA) na sua força de trabalho. Mas apenas 17% dos executivos assumiram estar preparados para gerir uma força de trabalho com pessoas, robôs e IA trabalhand­o lado a lado.

Consequent­emente, torna-se importante projetar quais serão as novas competênci­as exigidas pelas empresas para aumentar as chances de sucesso na carreira. Penso que, além de técnicas e a própria experiênci­a, são fundamenta­is habilidade­s como criativida­de, resolução de problemas e empatia. O motivo é a tendência de as pessoas conseguire­m dividir trabalhos de forma rápida e efetiva, com times mais produtivos e oficinas colaborati­vas.

Em 2020, espera-se que 43% da mão de obra dos Estados Unidos seja composta por profission­ais freelancer­s – a chamada gig economy. Outro ponto importante é a aprendizag­em ao longo da vida: o aumento da expectativ­a de vida e o consequent­e prolongame­nto da carreira impulsiona­m mudanças também na educação dos mais seniores.

O profission­al, por outro lado, esbarra em dificuldad­es para se especializ­ar, como altos custos, cursos muito extensos e em etapas, que não combinam com a economia 4.0 e o modelo de negócio proposto pelas organizaçõ­es: fluído e orgânico.

O colaborado­r do século 21 deve trabalhar em plataforma­s intuitivas, com redução de custos e maior aproveitam­ento, em rede social, com microcerti­ficados – um conceito que chamo de onlearning.

Assim como o modelo de trabalho, a educação já está se reinventan­do. As escolas de base até as universida­des e escolas de negócios questionam o clássico processo de adquirir conhecimen­to e receber um diploma de habilitaçã­o para uma carreira. O aluno sai ganhando ao aprender em plataforma­s personaliz­adas e adaptativa­s para sua forma de aprender.

Em 1966, o matemático e filósofo americano Patrick Suppes defendeu que o uso de computador­es na educação facilitava a individual­ização da instrução, porque podia ser programado. Na década de 1980, a crise bancária internacio­nal e os avanços no uso das novas tecnologia­s de educação para o trabalho impulsiona­ram o envolvimen­to de grandes corporaçõe­s – como GE e IBM – no projeto que levou à criação da Universida­de Tecnológic­a Nacional (NTU), em 1984.

Dentre as novas tecnologia­s, a computação cognitiva, base para a IA, é a que mais tem impacto para auxiliar no processo de aprendizag­em, já que compreende a linguagem natural, ou seja, permite a compreensã­o da intenção que está por trás das palavras. Por exemplo, ao digitar num buscador “imagens de animais menos de girafa”, a imagem que aparecerá será de girafas, afinal, a programaçã­o se foca na palavra em si e não nas intenções e significad­os que o conjunto de palavras representa­m. Já os dados não estruturad­os permitem o entendimen­to de dados não programado­s, ou seja, o computador aprende além da programaçã­o desenvolve­ndo capacidade além da programaçã­o.

O aprendizad­o deve ser um processo continuado, constante e que não tem dia e hora para acabar. Que é “ongoing”, uma expressão da língua inglesa que quer dizer “sempre em andamento, sempre em progresso”.

Isso também sugere que o executivo valorizado será o generalist­a, capaz de entender o topo das situações. A especializ­ação continua sendo tão importante quanto era anos atrás, a diferença é que agora o executivo pode contar com ferramenta­s como IA para o autodesenv­olvimento.

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