Educação executiva do futuro
O mercado de trabalho passa por uma grande reestruturação, em proporções cada vez maiores, semelhante à revolução industrial. Porém, em menor espaço de tempo. A tecnologia aumentou a demanda por trabalhadores altamente qualificados e que dominem ferramentas que vêm revolucionando o mercado e a educação para negócios e que antes não existiam, como computação em nuvem, big data, blockchain, internet das coisas e inteligência artificial (IA).
Diante desse quadro, profissionais que já estão no mercado devem se manter atualizados e para isso precisam aprender em micromomentos, utilizando o celular enquanto esperam uma consulta ou em um intervalo entre reuniões. As empresas também precisam acompanhar essa nova forma de ensino e oferecer alternativas capazes de engajar colaboradores em um cenário de reinvenção.
Segundo pesquisa da consultoria Deloitte realizada em 2017 com mais de 10 mil líderes empresariais e de RH em 140 países, incluindo o Brasil, 41% dos entrevistados já implementaram ou realizaram progressos significativos na adoção de tecnologias cognitivas e (IA) na sua força de trabalho. Mas apenas 17% dos executivos assumiram estar preparados para gerir uma força de trabalho com pessoas, robôs e IA trabalhando lado a lado.
Consequentemente, torna-se importante projetar quais serão as novas competências exigidas pelas empresas para aumentar as chances de sucesso na carreira. Penso que, além de técnicas e a própria experiência, são fundamentais habilidades como criatividade, resolução de problemas e empatia. O motivo é a tendência de as pessoas conseguirem dividir trabalhos de forma rápida e efetiva, com times mais produtivos e oficinas colaborativas.
Em 2020, espera-se que 43% da mão de obra dos Estados Unidos seja composta por profissionais freelancers – a chamada gig economy. Outro ponto importante é a aprendizagem ao longo da vida: o aumento da expectativa de vida e o consequente prolongamento da carreira impulsionam mudanças também na educação dos mais seniores.
O profissional, por outro lado, esbarra em dificuldades para se especializar, como altos custos, cursos muito extensos e em etapas, que não combinam com a economia 4.0 e o modelo de negócio proposto pelas organizações: fluído e orgânico.
O colaborador do século 21 deve trabalhar em plataformas intuitivas, com redução de custos e maior aproveitamento, em rede social, com microcertificados – um conceito que chamo de onlearning.
Assim como o modelo de trabalho, a educação já está se reinventando. As escolas de base até as universidades e escolas de negócios questionam o clássico processo de adquirir conhecimento e receber um diploma de habilitação para uma carreira. O aluno sai ganhando ao aprender em plataformas personalizadas e adaptativas para sua forma de aprender.
Em 1966, o matemático e filósofo americano Patrick Suppes defendeu que o uso de computadores na educação facilitava a individualização da instrução, porque podia ser programado. Na década de 1980, a crise bancária internacional e os avanços no uso das novas tecnologias de educação para o trabalho impulsionaram o envolvimento de grandes corporações – como GE e IBM – no projeto que levou à criação da Universidade Tecnológica Nacional (NTU), em 1984.
Dentre as novas tecnologias, a computação cognitiva, base para a IA, é a que mais tem impacto para auxiliar no processo de aprendizagem, já que compreende a linguagem natural, ou seja, permite a compreensão da intenção que está por trás das palavras. Por exemplo, ao digitar num buscador “imagens de animais menos de girafa”, a imagem que aparecerá será de girafas, afinal, a programação se foca na palavra em si e não nas intenções e significados que o conjunto de palavras representam. Já os dados não estruturados permitem o entendimento de dados não programados, ou seja, o computador aprende além da programação desenvolvendo capacidade além da programação.
O aprendizado deve ser um processo continuado, constante e que não tem dia e hora para acabar. Que é “ongoing”, uma expressão da língua inglesa que quer dizer “sempre em andamento, sempre em progresso”.
Isso também sugere que o executivo valorizado será o generalista, capaz de entender o topo das situações. A especialização continua sendo tão importante quanto era anos atrás, a diferença é que agora o executivo pode contar com ferramentas como IA para o autodesenvolvimento.