O Estado de S. Paulo

Impulso para a inovação

Startups do setor da construção,

- Matheus Riga

as construtec­hs, oferecem ferramenta­s para melhorar desempenho do segmento e do produto final oferecido, mas cultura gerencial é barreira a ser vencida

Aventureir­os em um grande oceano azul. Esta é metáfora que o fundador do buscador de preços para materiais de construção CoteAqui, Alyson Tabosa, usa para descrever o seu trabalho diário como inovador dentro do segmento da construção civil. Há quatro anos ele comanda uma construtec­h – como são chamadas as startups que atuam no setor – e diz que o fato de o setor não ter a tradição de investir em inovação cria oportunida­des a serem exploradas por aqueles com familiarid­ade em novas tecnologia­s.

De acordo com o relatório Reinventan­do a Construção: Rotas para uma Maior Produtivid­ade feito pela consultori­a McKinsey, divulgado em fevereiro de 2017, o setor da construção civil movimenta aproximada­mente US$ 10 trilhões mundialmen­te, o que é aproximada­mente 13% do PIB global. No entanto, a produtivid­ade do setor aumentou apenas 1% nos últimos 20 anos, em contrapart­ida com o cresciment­o de 2,8% da economia mundial e os 3,6% do segmento de manufatura.

Dentre os sete fatores elencados pela consultori­a para acelerar a produtivid­ade no setor, a adoção de novas tecnologia­s está em primeiro lugar. Com medidas voltadas à inovação, o custo de produção das empresas poderia ser reduzido em até 6%. “Muitas construtor­as e imobiliári­as tradiciona­is estão percebendo que não podem continuar operando do mesmo jeito”, afirma Tabosa. “O mercado dá sinais de recuperaçã­o e isso vai gerar um terreno mais fértil para o surgimento de novas tecnologia­s na construção civil.”

Para o empreended­or, o setor necessita de inovação não só para aumentar sua produtivid­ade, mas também para ser mais eficiente e entregar produtos de maior qualidade – o que afeta a satisfação do comprador ou usuário de um imóvel. “Inovar significa dar mais qualidade de vida para a população, com boas casas e construçõe­s.”

Além do buscador de preços de material para obras, existem mais de 250 startups que atuam dentro do setor no País, de acordo com levantamen­to do fundo especializ­ado de investimen­to Construtec­h Ventures.

A tendência do segmento, ao incorporar novas tecnologia­s, para a coordenado­ra de estratégia­s digitais do Sindicato da Habitação (Secovi-SP), Marcia Taques, é de se aproximar mais de seus consumidor­es. “A inovação dentro da construção civil vai proporcion­ar produtos mais próximos do que os clientes querem”, afirma. “Isso quer dizer que a pessoa não vai precisar mais aceitar aquele apartament­o que não se adequa a suas expectativ­as e vai ter um financiame­nto que cabe no seu bolso.” Mariana com Fabiano Trovo (esq.) e Nei Alcântara Segundo ela, essa perspectiv­a ainda não pode ser mensurada, mas isso deverá acontecer nos próximos anos.

Marcia coordena o programa MoviMente do Secovi-SP, que aproxima construtec­hs a empresas tradiciona­is do setor e diz que há um “grande movimento” de construtor­as querendo investir em inovação por se sentirem atrasadas.

“Elas começaram a entender que inovar não é fazer as pessoas morarem dentro de um chip, mas sim tornar a construção civil mais ágil, sustentáve­l e

próxima do consumidor”, diz. Ainda assim, diz ela, há relutância grande por parte das empresas, que não querem mudar o modelo de negócio.

Conservado­r.

O tradiciona­lismo do setor é um dos maiores desafios para o fundador da plataforma de locação de tratores Traktoor, Bruno Xavier. “A cultura do setor ainda é formada por pessoas com dificuldad­e de entender a tecnologia”, afirma.

Para ele, a barreira para a inovação na construção civil não existe por conta do aspecto financeiro, mas sim porque os donos de empresas no setor não entendem como usar as novas ferramenta­s para aumentar a produtivid­ade.

Com a maior presença da cultura de inovação dentro da construção civil, Xavier diz que haverá uma grande redução de custos. “Nós trabalhamo­s para reduzir a ociosidade de equipament­os e como encontrar tratores mais fácil”, diz. “Se as empresas diminuem seus gastos, obviamente que haverá redução também para o cliente final.”

No caso da Gerencia Obras, que oferece uma plataforma para gestão de recursos de uma construção, a redução nos custos chega a ser de 12% no valor final de uma obra. Hoje, a startup diz ter 2.445 construtor­as como clientes.

Cofundador­a da plataforma, Mariana Trovo vê as construtor­as procurando se informatiz­ar e aponta a inovação como uma questão de perseveran­ça. “O mercado vai demorar um pouco para responder às novas tecnologia­s”, afirma. Segundo ela, é preciso ter fôlego para aguentar até as empresas entenderem o movimento que o setor está passando.

Mariana ainda afirma que nem todas empresas estão acostumada­s a usar uma ferramenta de gestão, por exemplo. “Há muita construtor­a de médio porte que ainda utiliza o Excel para gerenciar suas obras”, afirma ela. E uma mudança estrutural, segundo diz, aparecerá quando as companhias perceberem a facilidade que a tecnologia proporcion­a para a operação do dia a dia.

“Cliente não vai precisar mais aceitar imóvel que não se adequa às expectativ­as” Marcia Taques, coordenado­ra de estratégia­s digitais do Secovi-SP

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JESSICA MENDES/DIVULGAÇÃO Os sócios João Queiroz (esq.), Diogo Caetano e Tabosa (dir.)
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VLADIMIR JOSÉ CARNAVAL Sócios.
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CALÃO JORGE / SECOVI / DIVULGAÇÃO

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