O Estado de S. Paulo

União vai vender 276 mil imóveis para reforçar caixa

Previsão é arrecadar R$ 9,3 bilhões com venda da parcela minoritári­a das propriedad­es, que incluem cemitério

- Adriana Fernandes / BRASÍLIA

O governo federal vai vender a participaç­ão minoritári­a que detém em 276 mil imóveis residencia­is, comerciais e industriai­s em todo o País para reforçar o caixa da União. A previsão é arrecadar R$ 9,3 bilhões – R$ 1,4 bilhão só em São Paulo. No Estado, a venda vai começar em junho, com terrenos nos condomínio­s de Alphaville e Tamboré. Os imóveis têm contratos de “aforamento”, pelos quais os particular­es detêm 83% do terreno, o chamado domínio útil, e a União, 17%. O ocupante tem de pagar ao governo uma taxa anual que correspond­e a 0,6% do valor do imóvel, excluídas benfeitori­as. Se quiser vender a propriedad­e, tem de pagar o laudêmio, uma taxa de 5%. Para o Ministério do Planejamen­to, há interesse dos proprietár­ios em comprar a parte da União, para deixar de recolher as taxas. O governo também vai se desfazer de 800 propriedad­es da Eletrobrás, incluindo um cemitério.

Em tempos de ajuste fiscal, o governo decidiu vender a participaç­ão minoritári­a que detém em 276 mil imóveis em todo o País para reforçar o caixa da União. São propriedad­es em que o ocupante do terreno não tem o domínio pleno, e a propriedad­e é dividida com a União. A previsão é arrecadar R$ 9,3 bilhões com a iniciativa. Somente com os terrenos localizado­s em São Paulo, cuja venda vai começar em junho nos condomínio­s de Alphaville e Tamboré, a expectativ­a é receber R$ 1,4 bilhão.

Essas propriedad­es têm os chamados contratos de “aforamento”, pelos quais os particular­es detêm 83% do terreno, o chamado domínio útil, e a União tem 17%. Hoje, o ocupante desses terrenos é obrigado a pagar à União uma taxa anual que correspond­e a 0,6% do valor do imóvel, excluídas as benfeitori­as. Além disso, se ele quiser vender a propriedad­e, tem de pagar o laudêmio, taxa de 5% que é exigida pelo governo nas transações dos contratos de imóveis “aforados”.

Por isso, na avaliação do Ministério do Planejamen­to, há interesse desses proprietár­ios em comprar a parte da União. Eles poderão adquirir a propriedad­e plena do imóvel e, assim, deixar de recolher a taxa de foro. Para o governo, a venda significa não apenas arrecadaçã­o extra nos cofres do Tesouro Nacional como redução dos gastos com cobranças.

“Queremos fazer uma limpeza. Aquilo que nós pudermos vender, vamos vender”, informa Sidrack de Oliveira Correia, Secretário de Patrimônio da União do Ministério do Planejamen­to – uma área do governo com 164 anos. O processo de venda dos aforamento­s tem o nome formal de remissão.

Ativos. Segundo o secretário, o governo faz a avaliação do imóvel de acordo com o valor de mercado. As avaliações ficarão restritas ao valor dos terrenos e não serão computadas nos cálculos as construçõe­s e benfeitori­as. Entre as propriedad­es, que serão alvo das remissões, estão salas comerciais, condomínio­s de casas, edifícios, comércio e indústrias.

O plano é colocar no portal do governo na internet um canal para o proprietár­io colocar o número do imóvel e oferecer o preço. A União terá 30 dias para dizer se aceita. O secretário diz que não há prazo para as vendas, mas acredita que o potencial de arrecadaçã­o poderá ser maior do que o previsto e que o processo deve ocorrer de forma rápida.

O governo tem autorizaçã­o legal para fazer a remissão dos imóveis. “Estamos correndo para colocar todos os imóveis com valores atualizado­s”, ressalta Sidrack.

Cemitério. Além da venda desses terrenos, a secretaria de patrimônio vai se desfazer de 800 imóveis que hoje são da Eletrobrás, a estatal de energia que será privatizad­a.

No processo de catalogaçã­o dos imóveis da elétrica foi descoberto, de acordo com o secretário, que a companhia era dona de um cemitério e de um açougue. Outros 3,8 mil imóveis

do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e 4 mil da extinta Rede Ferroviári­a Federal (RFFSA) também serão colocados à venda. Processo de venda vai começar por terrenos em Alphaville

Famosos pelas casas de alto padrão, os condomínio­s de Alphaville e Tamboré, nos municípios de Santana do Parnaíba e Barueri, em São Paulo, foram os escolhidos pelo governo para iniciar o processo de venda da fatia que a União detém nos terrenos.

Ali, a maioria dos que têm residência nos mais de 20 condomínio­s espalhados pela região divide a propriedad­e com a União. Quase todos os terrenos do local têm contratos de aforamento, pelos quais os particular­es detêm 83% da propriedad­e do terreno e a União os outros 17%, que agora serão vendidos.

O presidente da Associação de Moradores de Alphaville 3, Guilherme Martinez, conta que região era de propriedad­e da família Penteado, tradiciona­l em São Paulo, que, na partilha de bens, em 1937, dividiu a área em seis partes, uma delas reservada para possíveis pagamentos de impostos. A partir de 1967, com a valorizaçã­o da área em função da rodovia Castelo Branco, os herdeiros da família, explica Martinez, fizeram o contrato de aforamento com a União do terreno, que depois virou condomínio­s e zonas comerciais e industriai­s.

Morador de Alphaville há mais de 20 anos, Martinez diz que a disputa jurídica da cobrança da taxa de foro que os proprietár­ios são obrigados a pagar à

União nunca foi resolvida e que muitos devem aproveitar para comprar a parte do governo. Além do IPTU, ele paga uma taxa anual de foro de R$ 1.200,00.

Só nessa região de São Paulo será colocada à venda a parcela da União em 48 mil imóveis. O processo vai começar com a implantaçã­o de um projeto piloto, que deverá envolver cerca de 4 mil imóveis na área industrial de Alphaville. Pela lei em vigor, quem pagar à vista tem desconto de 25%. O valor poderá ser parcelado em 60 vezes. Técnicos da Secretaria de Patrimônio da União do Ministério do Planejamen­to farão as avaliações das áreas para definir o preço que os atuais foreiros terão que pagar.

Segundo o secretário de patrimônio, Sidrack de Oliveira Correia, os imóveis industriai­s deverão ter negociação mais fácil. “É uma ‘cidade’ e todos querem fazer a remissão”, prevê.

Patrimônio. Num esforço para identifica­r o seu patrimônio, o governo, com o apoio do Banco Interameri­cano de Desenvolvi­mento (BID), está fazendo as demarcaçõe­s das áreas da União. Hoje, a União tem 655 mil imóveis cadastrado­s. Mas menos de um terço do patrimônio total da União em todo o País – 23,71% – é cadastrado.

“A política que o governo está adotando é demarcar todo o patrimônio”, diz o secretário.

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Plano. ‘O que pudermos vender, vamos vender’, diz Sidrack
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RAFAEL ARBEX/ESTADÃO-27/4/2018 Liquidez.A expectativ­a é de que os imóveis industriai­s da região tenham negociação mais rápida

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