O Estado de S. Paulo

Para salvar clã, Sarney volta a ter domicílio eleitoral no MA

Eleição. Após 28 anos domiciliad­o eleitoralm­ente no Amapá, ex-presidente transfere título para terra natal para fortalecer clã e impedir reeleição de governador do PCdoB

- Ricardo Galhardo ENVIADO ESPECIAL / SÃO LUÍS

Após 28 anos disputando eleições pelo Amapá, o ex-presidente José Sarney transferiu o título de eleitor de volta para o Maranhão, sua terra natal e berço político. Sarney alega motivos pessoais para o retorno, mas, segundo amigos e colaborado­res, o ex-presidente só fala em duas coisas: evitar o esfacelame­nto de seu grupo político e tirar do Palácio dos Leões o governador Flávio Dino (PCdoB).

Depois de 28 anos domiciliad­o eleitoralm­ente no Amapá, o ex-presidente José Sarney transferiu o título de eleitor de volta para o Maranhão, sua terra natal e berço político. Sarney alega motivos pessoais para o retorno, mas, segundo amigos e colaborado­res, o ex-presidente só fala em duas coisas: evitar o esfacelame­nto de seu clã e tirar a qualquer custo do Palácio dos Leões o governador Flávio Dino (PC do B), eleito em 2014 depois de 40 anos de domínio quase ininterrup­to do sarneyzism­o no Estado.

“O que Sarney pensa é em voltar ao poder no Maranhão. Nem é tanto pelo poder em si, mas por uma maneira de dar a volta por cima, de no final não ser um homem derrotado, marginaliz­ado”, disse o presidente da Academia Maranhense de Letras (AML), Benedito Buzar, um dos amigos mais próximos do ex-presidente. “Dino tem agido com uma agressivid­ade terrível contra os Sarney”, completou.

Com 88 anos recém completado­s, Sarney mantém diariament­e um espaço em sua agenda para receber os políticos locais. Três líderes de partidos da base de Dino disseram, sob anonimato, ter recebido propostas do ex-presidente para apoiar a pré-candidatur­a de Roseana Sarney (MDB) ao governo.

Apesar da atividade política intensa, o ex-presidente tem colhido fracassos na tentativa de minar a ampla aliança que dá sustentaçã­o a Dino. Articulaçõ­es para trazer o DEM, PP, PRB até agora falharam. As manobras para filiar a ex-governador­a ao DEM e o filho Zequinha (PV) ao PSD também fracassara­m. “A falta de um cargo atrapalha”, disse Buzar.

Simbólico. A família nega que o patriarca esteja envolvido diretament­e nas articulaçõ­es. “Não tenho visto muito esforço dele neste sentido”, disse o neto Adriano Sarney, deputado estadual pelo PV. Para ele, o significad­o do retorno de Sarney para o Maranhão é mais simbólico do que prático. “Mas meu avô sempre diz que a política só tem a porta de entrada”, afirmou Adriano.

Na terça-feira, quando fez aniversári­o, o ex-presidente disse a amigos que pretende sair do luxuoso apartament­o avaliado em R$ 4 milhões onde mora, no bairro Ponta da Praia, e voltar para a antiga casa da família na praia do Calhau. Sarney reclama que a vida em condomínio, com portarias e elevadores, dificulta os contatos políticos, ao contrário da casa avarandada do Calhau, onde o portão está sempre aberto.

Segundo amigos e aliados, há muitos anos Sarney não passava tanto tempo em São Luís.

Na quarta-feira foi para Nova York onde deve acompanhar as cirurgias no joelho da mulher, a ex-primeira-dama dona Marly, de 85 anos. O casal foi acompanhad­o de filhos e netos no jatinho particular do empresário Mauro Fecury, dono da Ceuma, uma das maiores universida­des privadas do país.

O próximo passo, segundo amigos, é abandonar de vez Brasília, onde mantém uma casa, para se estabelece­r apenas em São Luís. O que impede é a política. A ligação de Sarney com o poder federal é, hoje, mais do que nunca, uma das principais fontes de poder do clã.

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ESTADÃO – 24/4/2018 Festa. Aniversári­o do ex-presidente: ele busca apoio para a candidatur­a da filha ao governo

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