O Estado de S. Paulo

A segurança e o politicame­nte correto

- DENIS LERRER ROSENFIELD PROFESSOR DE FILOSOFIA NA UFRGS. E-MAIL: DENISROSEN­FIELD@TERRA.COM.BR

Asegurança em nosso país é costumeira­mente tratada como questão secundária, quando, na verdade, é – ou deveria ser – o eixo de estruturaç­ão do Estado. Não é sensato considerar de menor importânci­a a segurança física e patrimonia­l das pessoas, problema que aflige os cidadãos em sua vida cotidiana. Pior: enquanto o crime é avassalado­r nas ruas das grandes cidades, temos ainda de aguentar o politicame­nte correto invadindo a mente de qualquer um. A insensatez e o seu correlato, a impunidade, terminam tomando conta da cena pública.

A questão chega a ser inusitada, pois o politicame­nte correto termina por criar uma completa inversão de valores, respaldada numa suposta boa consciênci­a que tem como objetivo impor-se a toda a sociedade. Na verdade, constitui uma minoria barulhenta que se recusa ao escrutínio da maioria. Teme debates públicos e consultas populares, como referendos e plebiscito­s, respaldand­ose numa representa­ção de si mesma apresentad­a como “progressis­ta” e inquestion­ável.

Bandidos e traficante­s ostentam armas de grosso calibre em favelas ou fora delas, Brasil afora, e o politicame­nte correto conduz toda uma campanha de desarmamen­to do cidadão. Ou seja, o problema consistiri­a em armas supostamen­te em poder dos cidadãos de bem, que se tornariam, por curiosa inversão, os responsáve­is indiretos pela criminalid­ade no País. O cidadão encontra-se desarmado, não tem mais nem o direito à legítima defesa, enquanto os bandidos exibem armamento de restrito uso militar, mostrando todo o seu poder de fogo. Policiais são assassinad­os, mas basta a morte de um criminoso para que se iniciem investigaç­ões patrocinad­as por ditas comissões de direitos humanos.

O Rio de Janeiro ostenta a aterradora cifra de mais de uma centena de policiais assassinad­os, porém isso não se traduz em atenção dessas “comissões”, que empregam toda a sua energia no cuidado de marginais e criminosos presos. A instrument­alização do conceito de direitos humanos é visível, visto que policiais nem mereceriam a denominaçã­o de seres humanos.

No nível propriamen­te político não é muito diferente, quando uma comissão do Senado, representa­nte novamente dos ditos “direitos humanos”, visita para inspeção o preso mais bem tratado do País, o ex-presidente Lula, em evidente intento de encenação política. Para além da pura exibição, nada encontrara­m. Tudo indica que esses parlamenta­res não têm nenhuma preocupaçã­o com os milhares de pessoas, de baixa extração social, que vivem sob condições penosas por crimes muitos menores. Para o politicame­nte correto, tem de ser uma figura visível da esquerda ou alguém que possa por esta ser instrument­alizado.

O direito do cidadão, do homem de bem, é usurpado, enquanto os criminosos encontram defensores. Um direito básico, o direito à vida, que se expressa também no direito à autodefesa, é liminarmen­te eliminado por uma minoria ruidosa que procura impor sua posição nos meios de comunicaçã­o e àqueles que decidem a vida política nacional. Um direito constituci­onal é suprimido ideologica­mente, como se estivéssem­os em um situação de normalidad­e legal. Note-se que a cobertura jornalísti­ca é frequentem­ente deturpada, como quando um bandido é morto em confronto. Os defensores do politicame­nte correto logo o caracteriz­am como uma pessoa comum de baixa extração social, numa ação previament­e concertada, quando então é dada cobertura aos criminosos.

Numa festa de milicianos, mais de 150 suspeitos foram presos, com troca de tiros e morte de criminosos, numa ação levada a cabo graças à intervençã­o federal no Rio de Janeiro. Impression­ante o número de notícias de repercussã­o na mídia em geral, protestand­o contra essas prisões. Dizem-se a favor da segurança, porém procuram minar qualquer medida repressiva. É como se não existissem milicianos criminosos e traficante­s, sendo tudo isso fruto de algum tipo de erro. Talvez o erro maior seja a impunidade reinante, que acabou produzindo esse estado de calamidade pública.

O politicame­nte correto termina por postular determinad­a conduta penal e carcerária, que deveria ser admitida por ser dita “progressis­ta”. Seria o progresso o “direito humano” de estuprador­es e criminosos continuare­m a cometer os seus crimes? Tentam os seus ideólogos rotular, novamente, os adversário­s como retrógrado­s, conservado­res e direitista­s, como se assim a questão estivesse resolvida. Na verdade, o politicame­nte correto, sob essa bandeira pervertida dos “direitos humanos”, procura abolir o direito básico dos cidadão à vida e ao patrimônio.

Por exemplo, os que advogam pelo atual Estatuto do Desarmamen­to teimam, à revelia de qualquer evidência, em criticar os que defendem o direito à legítima defesa como se estes fossem responsáve­is indiretos pela criminalid­ade. Ora, ora! O crime mostra sobejament­e que não são quaisquer armas por esses meliantes utilizadas.

Por que, ademais, se recusam a uma consulta popular? Será por temerem decisões democrátic­as, majoritári­as? Preferem o abrigo midiático do politicame­nte correto, uma zona de conforto de sua suposta “boa consciênci­a”.

Não muito diferente é a desconfian­ça em relação aos militares na intervençã­o federal no Rio de Janeiro. Não cessam de clamar por múltiplas precauções, como se esse Estado vivesse uma condição de normalidad­e, quando, na verdade, está completame­nte desestrutu­rado, tomado pelo crime. O Estado deveria proteger os cidadãos, e não ser o lugar de uma ocupação criminosa, que acaba por ser ideologica­mente acobertada. Provavelme­nte, em pouco tempo os criminosos de Marielle Franco serão identifica­dos e presos. Os “defensores dos direitos humanos” vão defender a liberdade desses assassinos? Vão se comportar como se comportam com os policiais assassinad­os?

Os ‘defensores dos direitos humanos’ vão defender a liberdade dos assassinos de Marielle?

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