Marvel, agora, quer conquistar as meninas
Famosa por super-heróis, empresa lançará série voltada a garotas; desafio é dar passos em direção à diversidade
A gigante do entretenimento Marvel, famosa por super-heróis como Homem-Aranha, Capitão América e Homem de Ferro, está se preparando para ampliar seus domínios: o novo alvo é o público feminino. No segundo semestre, a empresa deverá lançar globalmente a série Rising: Secret Warriors, voltada a meninas de 7 a 12 anos. O objetivo é oferecer histórias que tenham apelo a uma audiência que não para de crescer – cerca de 45% dos ingressos dos filmes da Marvel já são vendidos a meninas e mulheres. O objetivo, agora, é servir melhor uma audiência que ainda se vê pouco representada nos conteúdos produzidos até o momento.
Presente no início de abril no Rio2C (Rio Creative Conference), evento voltado ao setor de criatividade, o vice-presidente de animação e conteúdos para a família da Marvel, Cort Lane, afirmou que já está provado que as meninas se interessam por super-heróis. No entanto, o universo predominantemente masculino dos quadrinhos nunca se dedicou a fundo sobre o que elas desejam ver em uma série de animação com super-heróis. “Nas pesquisas que realizamos, ficou claro que as meninas querem histórias realmente femininas, com conflitos reais. Não adianta só fazer uma versão feminina de um personagem masculino.” Por isso, em Rising, todos os personagens são originais. O público feminino também está interessado em histórias que envolvam aspectos multiculturais. Embora as protagonistas da série sejam americanas, suas origens variam. Uma heroína é latina, enquanto outra é de religião muçulmana. Por fim, aspectos como diversidade física e senso de humor também serão abordados. A partir dessa orientação, foi criada a Garota Esquilo, que serve tanto ao propósito de mostrar pessoas de diferentes tipos de corpo quanto à função de injetar humor às narrativas.
Há dez anos na Marvel, Lane tem experiência prévia em produtos voltados às meninas. Antes de se juntar ao universo dos super-heróis, ele trabalhava para a fabricante de brinquedos Mattel. Uma de suas funções na companhia era desenvolver conteúdos, como desenhos animados e filmes, para a boneca Barbie.
Ao trocar a Mattel pela Marvel, Lane inverteu sua forma de trabalhar: em vez de trabalhar para criar conteúdo para vender um brinquedo, passou a desenvolver histórias que podem incluir a promoção de algum produto. “Na Marvel, os parceiros comerciais não participam diretamente da criação do roteiro, apenas se encaixam nele”, explica. “Se a sugestão do parceiro faz sentido, tudo bem. Se não faz, é descartada.” Ele cita o exemplo de uma fabricante de brinquedos que queria que o Hulk usasse um bumerangue. “Simplesmente dissemos não.”
Diversidade. Dar passos em direção à diversidade, no entanto, nem sempre é fácil, diz Lane. A experiência de Pantera Negra, que recentemente se tornou o filme de super-herói mais visto da história, com arrecadação global de mais de US$ 1,3 bilhão, foi um produto de difícil venda para as empresa de produtos de consumo. No Rio2C, o executivo disse que houve receio das companhias sobre o potencial de sucesso comercial dos personagens negros. Esse temor, no entanto, revelou-se um grande erro difícil de ser consertado, pois o desenvolvimento de produtos é um processo longo e é difícil “correr” para chegar ao varejo só após o lançamento do filme.
Uma terceira frente de expansão da Marvel, além da busca pelo público feminino e do crescimento da representação racial em seus conteúdos, se concentra nas crianças em idade pré-escolar. As Aventuras dos Superheróis Marvel usa versões diminutas de personagens como Homem-Aranha para contar histórias de três minutos e meio de duração. A série, que está entrando em sua segunda temporada, é exibida tanto em canais a cabo da Disney quanto no YouTube, que, segundo o executivo, se tornou um vetor importante de distribuição de conteúdos à nova geração.
Streaming. A Marvel, de acordo com Lane, também organiza neste momento como dividirá suas produções em diferentes serviços de streaming. A maior parte dos conteúdos de animação será concentrada na nova plataforma a ser lançada pela Disney – que, no momento, também está em processo de fusão global com a Fox. Já as séries para adultos, pelo menos por enquanto, deverão continuar a ser exibidas por meio do acordo que a Marvel firmou com a Netflix.