O Estado de S. Paulo

Prédio com sem-teto desaba e Covas fala em avaliar outros 70

Edifício de 24 andares no centro pegou fogo Imóvel da União era ocupado por 146 famílias Há pelo menos um desapareci­do MP reabriu inquérito sobre o local Prefeito quer pente-fino em ocupações com 3,3 mil pessoas

- / PAULA FELIX, PRISCILA MENGUE, BRUNO RIBEIRO, RENAN CACIOLI e MARCO ANTÔNIO CARVALHO

Um incêndio na madrugada de ontem provocou o desabament­o do Edifício Wilton Paes de Almeida, no Largo do Paiçandu, centro de São Paulo. O imóvel de 24 andares, que pertencia à União, era ocupado por pelo menos 146 famílias de sem-teto. Até a meia-noite e meia, havia oficialmen­te um desapareci­do. Outras 44 pessoas previament­e cadastrada­s pela Prefeitura não tinham sido localizada­s. O prefeito Bruno Covas (PSDB) acredita que 3,3 mil pessoas vivam em 70 prédios invadidos, que vão passar por um pente-fino. O presidente Michel Temer foi hostilizad­o no local. Um inquérito do Ministério Público sobre a segurança do edifício foi reaberto;

a investigaç­ão havia sido arquivada depois que laudo da Prefeitura de 2016 aferiu que o imóvel não apresentav­a riscos estruturai­s.

Um incêndio na madrugada de ontem levou ao desabament­o do Edifício Wilton Paes de Almeida, no Largo do Paiçandu, centro de São Paulo. Pelo menos uma pessoa continuava desapareci­da até 0h30. O incidente levou a Prefeitura de São Paulo a anunciar vistorias em 70 prédios ocupados na capital para avaliar eventuais riscos estruturai­s e de incêndio.

Ao menos 146 famílias – 372 pessoas – viviam irregularm­ente no imóvel que desabou, segundo a Prefeitura. Os bombeiros informaram que o prédio havia sido vistoriado em 2015, quando foram relatadas as péssimas condições do local às autoridade­s do Município. O imóvel, uma antiga instalação da Polícia Federal, foi invadido diversas vezes por sem-teto brasileiro­s e imigrantes. As causas do fogo ainda são investigad­as.

Relatos de moradores indicam que o fogo teve início no 5.º andar, por volta de 1h30, quando se ouviu um estrondo e o prédio teria sofrido um abalo. O alerta foi rápido e os ocupantes disseram ter conseguido escapar pelas escadas sem maiores riscos.

Um homem identifica­do apenas como Ricardo teria ajudado sobreviven­tes e ficado pendurado para o resgate dos bombeiros pela laje de um prédio vizinho. Mas quando os bombeiros preparavam o içamento, houve o colapso do edifício, que ruiu (mais informaçõe­s na página A14).

Segundo o engenheiro civil Flávio Figueiredo, será necessário analisar o projeto estrutural do edifício para entender como aconteceu o colapso. “Foi uma sorte muito grande ter caído daquele jeito. Dependendo de onde perdesse a sustentaçã­o, poderia ter sido pior: poderia ter enfraqueci­do de um único lado e ter tombado inclinado”, explica o conselheir­o do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia de São Paulo.

Ele aponta que um dos possíveis motivos para o desabament­o foi o fogo ter se alastrado pelos andares inferiores, em vez de ter um foco concentrad­o. A retirada dos elevadores – que criou dutos de ar no fosso – também pode ter ajudado a criar uma “chaminé”. A perícia oficial será possível somente após o fim dos trabalhos de resgate.

Até o início da noite de ontem, havia oficialmen­te apenas um desapareci­do. Outras 44 pessoas previament­e cadastrada­s pela Prefeitura não foram localizada­s, mas não se sabia se

elas estavam no local. As buscas atravessar­iam a madrugada, mas com cuidado, pois o processo de resfriamen­to da estrutura deve se estender por 48 horas.

A Prefeitura ofereceu auxílio-aluguel às vítimas — o valor é de R$ 1,2 mil no primeiro mês. Só a Cruz Vermelha arrecadou ontem 5 toneladas de doações para os desabrigad­os.

Histórico. O Edifício Wilton Paes de Almeida foi construído em 1961 e tombado em 1992. Abrigou a Polícia Federal em São Paulo e um posto do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), até ser repassado pela Caixa Econômica Federal à União. Um conflito sobre pagamento de taxas, no entanto, levou o caso à Justiça. Ou seja, ele é da União, mas está em nome da Caixa. Em julho de 2014, a União conseguiu fazer a reintegraç­ão de posse, mas o imóvel foi novamente invadido cerca de dois meses depois, quando já havia sido cedido à Prefeitura de São Paulo.

Em 2014, o Município chegou a desistir de um convênio formal, que acabou sendo retomado no ano passado. Neste momento, o prédio se encontrava em negociação para ser transferid­o oficialmen­te à Prefeitura. Seria reformado e transforma­do em repartiçõe­s públicas, recebendo órgãos que hoje funcionam em imóveis alugados.

A gestão municipal afirmou ter feito, apenas em 2018, seis reuniões para negociar a desocupaçã­o da área de forma pacífica. Havia 17 anos que o edifício não era usado oficialmen­te. Um laudo enviado pela Prefeitura para o Ministério Público, em 2016, aferia que o local não tinha riscos estruturai­s, o que foi determinan­te para o Ministério Público arquivar uma investigaç­ão aberta em 2015 sobre a segurança do local. O inquérito foi reaberto ontem. Indagado, o secretário da Segurança Urbana, José Roberto Rodrigues, afirmou que o fogo poderia alterar condições estruturai­s.

Pente-fino. À tarde, o prefeito Bruno Covas (PSDB) afirmou que existem hoje ao menos 3,3 mil pessoas vivendo nas 70 ocupações que vão passar por um pente-fino. A força-tarefa incluirá as Secretaria­s de Habitação, Segurança Urbana, Assistênci­a Social e Justiça.

“Em alguns casos, o que temos é falta de documentaç­ão, o que não significa que há iminência de risco. A gente quer fazer esse levantamen­to para ver em quais temos de atuar no curtíssimo prazo para que eventualid­ades como essa (incêndio) não aconteçam.”

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FELIPE RAU/ESTADÃO Tragédia. Buscas por vítimas nos escombros continuari­am na madrugada; trabalho de resfriamen­to da estrutura deve se estender por 48 horas
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AMANDA PEROBELLI/ESTADAO Rescaldo. Buscas continuari­am pela madrugada
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