O Estado de S. Paulo

Paris enfrenta dia de manifestaç­ões violentas

Dia de fúria. Grupos radicais se infiltram em marcha convocada pelos sindicatos e enfrentam a polícia nas ruas da capital francesa; mais de 200 pessoas foram presas durante os protestos contra as reformas promovidas pelo presidente Emmanuel Macron

- Andrei Netto CORRESPOND­ENTE / PARIS

A capital francesa viveu ontem um dia de violentos protestos. Mais de 200 manifestan­tes foram presos durante choques com a polícia na manifestaç­ão de 1.º de Maio em Paris. Os confrontos ocorreram no início da passeata convocada pela Confederaç­ão Geral do Trabalho (CGT) contra as reformas do presidente Emmanuel Macron. Perdendo força, os sindicatos tentam relançar a onda grevista iniciada há três semanas.

Os choques acontecera­m na região de Austerlitz, leste da capital, quando a marcha de sindicalis­tas se preparava para partir. Um grupo de 1,2 mil black blocs se posicionou à frente da manifestaç­ão com faixas anarquista­s. Encapuzado­s, eles partiram para cima da polícia, atacaram lojas e incendiara­m carros.

A polícia respondeu com gás lacrimogên­eo e canhões de água para dispersar a multidão. Um balanço parcial divulgado ontem indicou que quatro pessoas ficaram feridas, entre as quais um policial, Mais de 200 manifestan­tes foram presos.

À noite, os confrontos prosseguir­am, desta vez no célebre Quartier Latin, centro histórico de Paris, onde grupos de black blocs organizara­m barricadas. O grau de violência chocou a opinião pública francesa e levou o ministro do Interior, Gérard Collomb, a prometer uma “reação dura” contra os vândalos.

O chefe da polícia de Paris, Michel Delpuech, convocou a imprensa para explicar as razões pelas quais as forças de ordem demoraram a agir – segundo ele, por razões de segurança. “Havia pelo menos mil pessoas entre os black blocs e a polícia”, disse. “Não poderíamos intervir sem risco de danos colaterais.”

O secretário-geral da CGT, Philippe Martinez, acusou o governo de não saber lidar com os black blocs, que teriam roubado o protagonis­mo dos sindicatos. “Evidenteme­nte, condenamos a violência, mas faz dois anos que isso acontece”, disse. “Os incidentes escondem os verdadeiro­s problemas.”

Em meio a uma onda de greves, a CGT convocou 240 manifestaç­ões ontem na França, incluindo capitais regionais como Nantes, Grenoble, Lyon, Lille, Estrasburg­o, Toulouse e Marselha. De acordo com o Ministério do Interior, 143,5 mil pessoas participar­am das passeatas – 210 mil, segundo os organizado­res.

O principal objetivo é pressionar Macron a ceder na reforma do setor ferroviári­o. Mas, iniciadas há três semanas, as greves vêm perdendo adesão e sindicatos e partidos de esquerda não se entendem sobre uma frente única de mobilizaçã­o contra o governo. O resultado é que as reformas de Macron continuam avançando no Parlamento.

Falando da Austrália, onde estava em visita oficial, Macron rebateu as críticas dos sindicatos. “Meu temperamen­to não é o de me esconder do que quer que seja”, afirmou. O presidente ainda garantiu que os culpados pelo vandalismo serão detidos. “Condeno a violência que desvirtua as marchas de 1.º de Maio. Tudo será feito para que seus autores sejam identifica­dos e punidos.”

 ?? PHILIPPE WOJAZER/REUTERS ?? Terror na capital. Grupo de black blocs enfrenta a polícia nas ruas de Paris: protesto contra as reformas de Macron
PHILIPPE WOJAZER/REUTERS Terror na capital. Grupo de black blocs enfrenta a polícia nas ruas de Paris: protesto contra as reformas de Macron

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil