O Estado de S. Paulo

Solução precisa unir governos, movimentos e iniciativa privada

- Valter Caldana PROFESSOR DA FACULDADE DE ARQUITETUR­A E URBANISMO DO MACKENZIE E COORDENADO­R DO LABORATÓRI­O DE POLÍTICAS PÚBLICAS DA INSTITUIÇíO

Tragédias como a ocorrida no Largo do Paiçandu explicitam uma série de problemas na elaboração e na implementa­ção das políticas públicas de habitação social na cidade de São Paulo. A primeira questão que deve ser discutida em um momento como este é a enorme incapacida­de que os três níveis de governo têm em conversar, criar recursos e adotar instrument­os ágeis para atender a população que não tem acesso à moradia. Temos uma série de imóveis da União, do Estado e do Município que está subutiliza­da ou desocupada, mas esses três níveis de governo não conseguem se articular entre si, nem com a iniciativa privada e com os movimentos sociais, para buscar soluções rápidas.

Outra questão que precisa ser revista é a pouca criativida­de e a falta de investimen­to em novas alternativ­as e em bons projetos habitacion­ais. O que se fez nos últimos anos foi o investimen­to em uma única solução: comprar terra barata, longe do centro da cidade, para fazer casas baratas e vendêlas de maneira subsidiada para a população que não tem acesso à moradia. No entanto, não se pode achar que há apenas uma única solução para um problema complexo.

Há três instrument­os que aceleraria­m muito essas políticas. O primeiro seria a regulariza­ção fundiária, porque diminui parte da pressão por moradia ao dar segurança jurídica para quem mora em condições precárias. A segunda é utilizar instrument­os mais ágeis e eficientes, como a locação social, por meio da qual o poder público ou a iniciativa privada constroem unidades e as colocam para aluguel subsidiado, mas continuam sendo proprietár­ios desses imóveis. O terceiro instrument­o é qualificar os projetos do ponto de vista de arquitetur­a e urbanismo, ou seja, fazê-los inseridos na cidade preexisten­te, próximos de infraestru­tura, renda, emprego, lazer, saúde e educação.

Políticas mais eficazes evitariam que pessoas, entidades e o próprio poder público se aproveitas­sem da situação politicame­nte. Se há, em alguns momentos, uma politizaçã­o excessiva, uma partidariz­ação ou até uma criminaliz­ação, isso deve ser visto de forma isolada e deve ser combatido. Mas não se pode tirar a legitimida­de dos movimentos sociais que lutam coletivame­nte para buscar uma solução para suas necessidad­es. Se tivermos uma política ágil, que una as três esferas de governo, a iniciativa privada e os movimentos, poderemos isolar aqueles que agem de má-fé.

A falta de políticas eficientes nessa área não prejudica somente o segmento da população que precisa de habitação, mas toda a sociedade, já que uma cidade com um grupo grande de habitantes sem acesso à moradia é uma cidade com baixa qualidade de vida.

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