Quando nem sempre perder é ruim
Durante anos, Philadelphia 76ers se aproveitou das regras: montou times fracos, teve preferência na escolha por jovens talentos e, aos poucos, formou time forte
Um time jovem, com estrelas em potencial, semifinalista da Conferência Leste e com espaço na folha salarial para atrair grandes estrelas na próxima agência livre da NBA, a liga de basquete profissional dos Estados Unidos. O Philadelphia 76ers, enfim, começa a ter o retorno de sua dolorosa estratégia de propositalmente abrir mão das vitórias nas últimas temporadas.
Se a equipe disputa hoje um lugar na final do Leste com o Boston Celtics (a série está 1 a 0 para os Celtis e o segundo jogo é amanhã), há cinco anos a franquia da Pensilvânia partiu para a arriscada estratégia de reestruturação por meio de tanking. Isso acontece quando um time monta um elenco fraco e consegue bom posicionamento no recrutamento de calouros vindos das universidades (draft) no ano seguinte.
No entanto, em vez de fazer isso em apenas um ano, o então chefe de operações do time, Sam Hinkie, decidiu que esse modelo seria repetido por um longo período. E o plano foi muito bem executado. Ano após ano, o Sixers terminava com a pior campanha da NBA.
“O tanking foi difícil. Toda vez que você vence apenas 20 jogos em três temporadas seguidas abala a relação com a torcida. Mas os verdadeiros fãs nunca os abandonaram, e todos estão aproveitando agora”, diz Roy Burton, um dos editores da página Liberty Ballers, que acompanha os Sixers.
Sempre que questionado sobre a falta de ambição de uma das mais tradicionais franquias do basquete americano, dona de três títulos, Hinkie pedia: “trust the process” (acredite no processo). A frase virou piada para os adversários e verdadeira dor de cabeça dentro da NBA.
Como os lucros da liga são divididos entre as franquias, e o Sixers começou a dar prejuízos, os donos dos times começaram a perder dinheiro. A pressão foi grande e Sam Hinkie pediu demissão em 2016 – só que a semente do trabalho estava plantada.
Lesões. Durante todo o tempo de derrotas, o Sixers conseguiu escolher grandes prospectos no draft, como Joel Embiid (24 anos) e Ben Simmons (21 anos). A dupla, selecionada em 2014 e 2016, respectivamente, teve papel fundamental este ano, quando a equipe conseguiu vencer 52 dos 82 jogos e voltou aos playoffs após seis temporadas.
O problema é que ambos sofreram com lesões no início de suas caminhadas na NBA. O pivô Joel Embiid perdeu suas duas primeiras temporadas por causa de uma fratura no pé direito. Em seu terceiro ano, ele teve um problema no joelho.
Mas nada disso foi suficiente para abalar a confiança do pivô camaronês. Dominante em quadra e marrento fora dela, ele se autodenominou “O Processo” para ser o símbolo da nova fase do clube. Encantou dirigentes e torcedores. A prova desse sucesso foi a sua renovação de contrato pela quantia de US$ 146,5 milhões (R$ 465 milhões) por cinco anos.
Apontado por LeBron James como seu possível sucessor na NBA, o armador Ben Simmons também perdeu sua primeira temporada por conta de uma fratura no pé durante os treinamentos da pré-temporada de 20162017. Neste campeonato, porém, finalmente justificou a enorme expectativa sobre ele ao conduzir o Sixers com maestria.
“Simmons e Embiid talvez sejam a dupla mais especial da NBA hoje. Simmons é um armador de 2,08m com visão de elite, que pode atuar em qualquer ponto da quadra. E Embiid talvez seja o melhor pivô da liga. É uma força de 2,13m que controla o jogo no ataque e na defesa. Certamente, ambos estão entre os 20 melhores jogadores da atualidade”, considera Burton.
A boa fase do Philadelphia 76ers também começa a se tornar um chamariz. Veteranos como J.J. Redick, Ersan Ilyasova e Marco Belinelli optaram por assinar com a equipe quando estavam livres e agora estão sendo fundamentais para o time.
Ninguém na franquia esconde que o grande desejo é LeBron James. Durante a temporada, outdoors na Filadélfia pediram a ida de LeBron para o 76ers ao fim de seu contrato com o Cleveland Cavaliers. Até Joel Embiid entrou na brincadeira e publicou uma foto ao lado do astro, na qual perguntou: “Confia no processo?”