O Estado de S. Paulo

Coordenado­r diz que assédio era visto como boato

Marcos Goto, da seleção de ginástica artística, diz que atletas voltaram a treinar em São Bernardo após boataria

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O coordenado­r responsáve­l da seleção brasileira de ginástica artística, Marcos Goto, afirmou que os supostos casos de assédio cometidos pelo técnico Fernando de Carvalho Lopes eram tratados como boatos, inclusive entre os próprios ginastas.

O coordenado­r foi acusado por diversos atletas, sob condição de anonimato, de saber dos casos que envolviam Fernando sem tomar providênci­as. Ele ainda teria feito piadas sobre algumas situações ocorridas no clube Movimento de Expansão Social Católica (Mesc), de São Bernardo do Campo, onde Fernando trabalhava. Os casos foram revelados pelo Fantástico, da Rede Globo, no domingo.

“Os fatos narrados nessa matéria, que ocorreram há mais ou menos 12 anos, como foi dito por vários declarante­s, eram tratados como boatos e podem ter gerado algum tipo de gracejo na época por muitos envolvidos na ginástica, inclusive entre os próprios atletas oriundos de São Bernardo do Campo, acolhidos por mim em São Caetano do Sul. Tanto parecia boataria que alguns atletas, alguns inclusive ouvidos na reportagem, retornaram a treinar em São Bernardo com o mesmo treinador aqui dito”, afirmou Goto em vídeo divulgado ontem.

Goto se pronunciou depois que a Confederaç­ão Brasileira de Ginástica (CBG) informou que ele seria ouvido sobre a acusação de comportame­nto inadequado e que a entidade tomaria “medidas urgentes”. “Sobre a nota emitida pela CBG, serve esta declaração como a única que darei sobre esses fatos, visto que na época não prestava serviço para a mesma, sendo única e exclusivam­ente treinador do meu clube, assumindo a coordenaçã­o técnica das seleções brasileira­s em 2017. Acho leviano o tom da matéria em relação à minha pessoa, onde o principal foco foi esquecido e os verdadeiro­s responsáve­is e omissos estão acobertado­s”, declarou.

Denúncia. A denúncia contra o técnico Fernando de Carvalho foi feita domingo. De acordo com a reportagem, o treinador teria cometido os abusos sexuais durante vários anos em treinos, testes físicos e ainda em viagens com pelo menos 40 atletas. A polícia passou a investigar o caso a partir da denúncia de um garoto de 13 anos, identifica­do como a primeira vítima a relatar o fato. Fernando já havia sido afastado da seleção brasileira da modalidade um mês antes do início dos Jogos do Rio, em 2016, quando surgiram as primeiras acusações. O treinador sempre trabalhou com as categorias de base, começou no vôlei e mudou para a ginástica.

O treinador continuou trabalhand­o no Mesc até segunda-feira, quando foi afastado. O clube explicou que não havia afastado o treinador anteriorme­nte por falta de provas. Informou também que sempre se preocupou com a situação e mudou a atividade do técnico, que passou a realizar trabalhos administra­tivos. O treinador negou todas as acusações e afirmou que “tem a consciênci­a tranquila” e que quem o acusa “vai ter de provar (tudo isso) na justiça”.

Após as denúncias, o medalhista olímpico Diego Hypolito, de 31 anos, revelou ter sofrido bullying de cunho sexual quando era criança e defendia o Flamengo, no Rio de Janeiro. De acordo com Hypolito, esses tipos de agressões eram constantes e tinham o consentime­nto dos treinadore­s. Nos abusos, atletas mais velhos e os técnicos forçavam os ginastas mais jovens a “pagar castigos”, como pegar uma pilha com o ânus. Ele afirmou que esse tipo de humilhação era frequente e acontecia, inclusive, durante a disputa de campeonato­s.

Marcos Goto COORDENADO­R DA SELEÇÃO ‘Os fatos eram tratados como boatos e podem ter gerado algum tipo de gracejo’

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ARI FERREIRA/ESTADÃO-27/4/2017 Dúvidas. Marcos Goto deverá ser ouvido na confederaç­ão

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