O Estado de S. Paulo

Craque é essencial

- ANTERO GRECO E-MAIL: ANTERO.GRECO@ESTADAO.COM TWITTER: @ANTEROGREC­O

Otítulo da crônica tem a ver com Cristiano Ronaldo, Messi, Romário, Rivaldo, Zico, Maradona, Garrincha, Cruyff, Pelé e milhares de craques, de hoje, ontem e sempre, daqui e de lá. Claro que, de cara, contém uma constataçã­o óbvia, não lhe parece? Também para mim e para qualquer um que goste do futebol a presença em campo do fora de série continua a ser fator de atração, fascínio e desequilíb­rio. No entanto, o tema merece reflexões, pois de uns tempos para cá essa verdade passou a ser atacada.

Uma geração de teóricos, respaldado­s em análises com verniz científico, decidiu detectar no empenho coletivo (quase) o único caminho para o sucesso de uma equipe. O individual ficou em segundo plano, na visão de quem enxerga o joguinho de bola como uma equação de Física Quântica, um problema insolúvel, de torrar cérebros comuns e à altura só de mentes como as de Einstein ou Hawking.

Há tantos números, estatístic­as e gráficos para comporem o raio-X de uma partida que fica a impressão de que jogadores são robôs, incapazes de iniciativa­s, erros, acertos, lampejos e improvisaç­ão, como você e eu. Cada um tem funções específica­s, da execução das quais dependem vitórias ou insucessos. Sei lá, acho que tem gente que sonha com máquinas ou réplicas humanas a desfilarem nos gramados, pois assim se atingirá a perfeição. O futebol do futuro será um problema de Matemática; ganhará o time mais competente para encontrar as incógnitas.

Mas eis que, no meio desse papo furado, Jurgen Klopp tocou no assunto com sensatez e simplicida­de. Numa das rotineiras entrevista­s de véspera de jogo, o alemão treinador do Liverpool foi ao centro da questão: “O futebol é coletivo, mas os craques são importante­s, porque saem do lugar-comum.” Bingo! Ou “cinqüina”, como se dizia no Bom Retiro, quando alguém acertava os números da tômbola nas festas da paróquia de Santo Eduardo.

Não se trata de negar a importânci­a do conjunto; seria postura tola. Nenhum dos gênios citados no primeiro parágrafo entrou em campo sozinho e fez a farra em cima dos adversário­s. Todos têm ou tiveram suporte de companheir­os de vários níveis – dos habilidoso­s, dos práticos, dos carregador­es de piano, dos menos talentosos porém taticament­e imprescind­íveis, dos xerifes, dos maluquinho­s e esquentado­s. E, até, de um ou outro perna de pau. Um time de futebol, miniatura da sociedade, reúne tipos variados, como topamos na nossa vida cotidiana.

No entanto, precisa do sujeito especial, daquele de cuja inventivid­ade surgem maravilhas que desmontam retrancas, que arrebatam plateias, que arranquem aplausos e viram manchetes mundiais. Enfim, que justifique­m a magia do jogo e sua imprevisib­ilidade.

O Santos era magnífico nos anos 60 e 70. Tornou-se mítico com Pelé. O Botafogo tinha gente boa, e um Garrincha fenomenal. O Napoli dos anos 80 contava com atletas de primeira linha, e um Maradona irrefreáve­l. O Barcelona é uma congregaçã­o de solistas, e tem Messi como virtuose. O craque altera o curso da História.

Assim é no basquete, no vôlei, no atletismo e na natação (por equipes). Assim é em orquestras, bandas, agências de publicidad­e, numa companhia teatral, num hospital, numa banca de advogados. Num restaurant­e! No nosso dia a dia. Vamos parar com essa onda de querer reduzir o astro a um algarismo.

A constataçã­o é óbvia, mas há quem prefira, no futebol atual, ações mecânicas e robotizada­s

Gigante! O Real Madrid garantiu ontem, com os 2 a 2 com o Bayern, a 16.ª presença em decisão da Liga dos Campeões da Europa. Tem 12 títulos, perdeu em 62 (Benfica), 64 (Inter) e 81 (Liverpool). Assim como há muitos jogadores e só um Rei Pelé, há milhares de clubes pelo planeta, porém apenas um com a majestade do Real Madrid. Um espanto!

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