O Estado de S. Paulo

Brasil aceita cota do aço imposta pelos EUA

Volume será calculado pela média das exportaçõe­s de 2015 a 2017; no caso dos produtos acabados, haverá ainda redutor de 30%

- SÃO PAULO E BRASÍLIA FERNANDA GUIMARÃES, LU AIKO OTTA, RENAN TRUFFI E TÂNIA MONTEIRO

O setor siderúrgic­o brasileiro cedeu à medida imposta pelo governo Trump e vai reduzir suas exportaçõe­s para os EUA com a adoção de cotas. Ante 2017, haverá redução de 7,4% nas exportaçõe­s de semiacabad­os, que representa­m 80% das vendas. Para os produtos acabados, a queda será de até 60%. No ano passado, as vendas de aço para os EUA renderam US$ 2,5 bilhões. Trump afirmou que houve acordo. O governo brasileiro disse que os americanos não deixaram opção.

Cedendo a uma medida unilateral imposta pelos Estados Unidos, o setor siderúrgic­o concordou em reduzir suas exportaçõe­s para aquele mercado com a adoção de cotas, informou ontem o presidente executivo do Instituto Aço Brasil (IABr), Marco Polo Mello Lopes.

Na comparação com 2017, haverá uma redução de 7,4% nas exportaçõe­s de aço semiacabad­o, que representa­m 80% das vendas para aquele mercado. Para os produtos acabados, a queda será de 20% a 60%, dependendo do produto. No ano passado, as exportaçõe­s de aço para os EUA renderam US$ 2,5 bilhões.

Nos dois casos, a cota será dada pela média das exportaçõe­s brasileira­s para os Estados Unidos no período de 2015 a 2017. No caso dos produtos acabados, será aplicado ainda um redutor de 30% sobre a média. Esse redutor não será aplicado aos semiacabad­os, que são insumo para a indústria local. “Exportação continua sendo vital”, disse Lopes, ao explicar que a indústria siderúrgic­a ocupa no momento 68% de sua capacidade e precisa manter a produção. Para o executivo, “o acordo não foi de todo ruim”, principalm­ente porque foi apresentad­o num formato “pegar ou largar”.

Na segunda-feira, os americanos, que vinham dialogando sobre a possibilid­ade de excluir o Brasil das sobretaxas ao aço e ao alumínio anunciadas em março, deram suas negociaçõe­s com o Brasil por encerradas e colocaram sobre a mesa duas opções: cota ou sobretaxa de 25% sobre as vendas de aço e de 10% sobre as de alumínio.

Com base nisso, o presidente Donald Trump disse na noite de segunda-feira que havia um acordo “em princípio” com o Brasil e faltariam fechar os detalhes. O governo brasileiro negou. “Foi uma decisão unilateral, é bom deixar isso muito claro”, afirmou ontem o ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Marcos Jorge. O ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, disse ao Estado que os americanos não deixaram opção.

Acertos. Segundo o presidente do IABr, a proposta das cotas será aceita e a entidade discutirá com seus associados a distribuiç­ão dos volumes a serem exportados aos EUA. O sistema de cota é do tipo “duro” – ou seja, volumes acima da cota não poderão ser exportados, nem se pagarem a sobretaxa de 25%.

“Nós estamos pedindo que os EUA mantenham o volume das nossas exportaçõe­s para o comércio americano”, disse Marcos Jorge. Uma hipótese seria alterar o critério de cálculo da cota, usando como base apenas o ano de 2017, já que em 2015 e 2016 as vendas foram menores. Esse foi o pedido apresentad­o pelo IABr, segundo Lopes. Ele acrescento­u que haverá um sistema de monitorame­nto das exportaçõe­s e que, dependendo, poderá haver algum tipo de ajuste. “Nossa visão é que faltará aço nos Estados Unidos.”

Alumínio. Embora o governo brasileiro tenha colocado numa nota conjunta dos Ministério­s da Indústria e das Relações Exteriores que o setor de alumínio optou pela sobretaxa de 10%, a informação foi negada pelo presidente da Associação Brasileira do Alumínio (Abal), Milton Rego. Ele afirmou ao Estado que essa é uma opção menos ruim do que a cota. Mas, como o governo dos EUA deu um prazo adicional para concluir as negociaçõe­s, ele prefere esperar.

Para o alumínio, os EUA ofereceram uma cota de 41 mil toneladas, correspond­ente à média exportada nos últimos cinco anos. No entanto, as exportaçõe­s do ano passado somaram 55 mil toneladas. E o ritmo das vendas neste ano aponta para 60 mil toneladas. A cota oferecida pelos americanos não acomoda nem o que já foi contratado de exportaçõe­s neste ano. /

“Exportação continua sendo vital. (...) O acordo não foi de todo ruim, principalm­ente porque era pegar ou largar.” Marco Polo Mello Lopes

PRESIDENTE EXECUTIVO DO IABr

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