O Estado de S. Paulo

Laudo de 2017 mostrava risco de incêndio em prédio

Documento da Prefeitura alertava que o prédio Wilton Paes de Almeida, que desabou na madrugada de terça, tinha instalaçõe­s elétricas precárias e não reunia condições mínimas de segurança. O Ministério Público Federal recomendou uma reforma de emergência,

- Bruno Ribeiro

Um laudo de sete páginas, feito pela Prefeitura de São Paulo ainda em janeiro do ano passado, atesta que o Edifício Wilton Paes de Almeida, que desabou anteontem após pegar fogo, “não reunia condições mínimas de segurança contra incêndio”, por causa das instalaçõe­s elétricas precárias. O documento serviu de base para que o Ministério Público Federal enviasse, ainda no ano passado, uma recomendaç­ão à Superinten­dência do Patrimônio Público da União (SPU/SP) para que fosse feita uma “reforma estrutural emergencia­l” no prédio do Largo do Paiçandu, que acabou não sendo realizada.

A recomendaç­ão pedia, entre outros pontos, que se instalasse­m dispositiv­os como extintores. O inquérito da Procurador­ia da República afirma que, ao receber a recomendaç­ão das obras de emergência, o superinten­dente da SPU, Robson Tuma, respondeu que havia iniciado uma negociação para o repasse do imóvel à Prefeitura. Segundo a Procurador­ia, a superinten­dência “informou ainda que a reforma e demais medidas recomendad­as pelo MPF seriam comunicada­s ao ente municipal”, que também poderia fazer a desocupaçã­o da área.

Tuma não foi localizado ontem para comentar o caso. O MPF abriu dois inquéritos, um de improbidad­e administra­tiva para apurar responsabi­lidades pela tragédia, e outro para acompanhar realocação e possível indenizaçã­o das vítimas.

Ao confirmar que a Prefeitura já sabia das condições precárias do imóvel, o prefeito Bruno

Covas (PSDB) afirmou ontem que “o laudo fala por si”. Para ele, a Prefeitura vinha fazendo o que lhe cabia na situação. “Se a Prefeitura não quisesse participar do problema, não teria procurado o governo federal.

Não se furtou de resolver o problema”, afirmou, ao comentar que a Secretaria da Habitação havia feito seis reuniões, já neste ano, após o convênio com a SPU, com os moradores do prédio que ruiu. Análise. Na vistoria de janeiro do ano passado, os técnicos da Prefeitura apontaram que a parte elétrica do prédio tinha “uma série de inadequaçõ­es”. O documento traz anexa uma foto em que é possível ver disjuntore­s instalados em uma placa de madeira, com vários fios expostos. Abaixo, escrito a mão, “está expressame­nte proibido mexer nos disjuntore­s”. Há outras cinco imagens exibindo fios elétricos expostos.

Os técnicos anotaram também o fato de não terem encontrado nenhum extintor de incêndio nos dez andares visitados. “O sistema de hidrantes encontra-se inoperante, não havendo mangueiras e acessórios necessário­s ao funcioname­nto.” As falta de condição de se escapar de um eventual incêndio também foram descritas no relatório, que citou a falta de luzes de emergência, de alarmes e também de corrimão nas escadarias.

Vistorias. A partir de segundafei­ra, a Prefeitura começará a vistoriar cerca de 70 prédios ocupados por movimentos de moradia, “a maioria na região central”, segundo Bruno Covas. A ideia é negociar, com os movimentos, a entrada dos técnicos da Defesa Civil e da Secretaria Municipal da Habitação. Constatada a necessidad­e de intervençõ­es, os técnicos poderão propor mudanças aos próprios moradores.

Mas o Secretário Municipal da Segurança Urbana, José Roberto Rodrigues, afirmou que, dependendo do quão críticas forem as condições dos edifícios, a Prefeitura poderá buscar formas judiciais de garantir a interdição dos edifícios.

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AMANDA PEROBELLI/ESTADÃO 1.
 ?? MPF-PR/SP ?? 2. 1. Destroços do edifício que ruiu. 2. Laudo mostra quadro de luz. 3. Fiação foi documentad­a
MPF-PR/SP 2. 1. Destroços do edifício que ruiu. 2. Laudo mostra quadro de luz. 3. Fiação foi documentad­a
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MPF-PR/SP 3.

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